domingo, 30 de maio de 2010

Fim de semana: saldo positivo

1 pedra no rim + 1 noite no Pronto Socorro + 60 reais em analgésico + gastrite + tremedeira + naúsea + formigamento + outra noite no Pronto Socorro + 2 veias estouradas + 1 injeção na bunda + a companhia de uma pessoa excepcional que agora detém um título em minha vida.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pérolas aos porcos

Teoricamente não há truque: um doa, o outro recebe.

Quando uma pessoa doa, ela não espera nada em troca. Ou não seria uma doação e sim um investimento, um empréstimo ou uma venda.

Doar é fácil. Fomos educados para isso. Aprendemos, ao longo da vida, dando muita cabeçada, que é dando que se recebe. (Se considerarmos pessoas que tenham coração, é claro.) Mas a equação não é simples e não é imediata. Nem sempre recebemos da pessoa para quem doamos.

Não me importo em jogar pérolas aos porcos. As pérolas são minhas e faço o que quiser com elas. Se os porcos não estão prontos para recebê-las ou não sabem o que fazer com aquilo, é uma pena. Mas e quem jogou as pérolas? Ninguém pensa nela. Quem joga pérolas o faz por vontade própria e não sob ameaça ou por obrigação. Quando jogo pérolas não espero nada. Nem o reconhecimento, muitas vezes. O prazer está em jogar as pérolas, ainda que elas caiam no nada.

Recebemos muitas pérolas ao longo da vida. E muitas vezes não sabemos retribuir o gesto à altura.

Mas não há por que sentir culpa. As pérolas foram jogadas por vontade de quem as jogou.

Se puderem aceitar como retribuição um abacate maduro, um abajur, um sorriso ou um poema, ficarei feliz em aceitar suas pérolas.


terça-feira, 25 de maio de 2010

Sobre beterrabas

Eu era uma criança chata para comer. Não gostava de beterraba. Achava nojento aquele gosto doce misturado ao salgado, com cheiro de terra. Até a cor era nojenta.

Hoje, salada tem que ser colorida: alface, tomate, cenoura, pepino... e beterraba.

Será que eu era fresca e nojenta e deixei de ser? Já pensei isso. Mas não é. O paladar muda com os anos. Que criança é capaz de apreciar fundo de alcachofra ou um bom vinho? E que adulto consegue comer meia lata de leite condensado na colher?

Conheço pessoas que continuam insistindo que não gostam de beterraba (mesmo que tenha comido beterraba pela última vez aos 7 anos de idade), mas não se deram a chance de reexperimentar.

Pobre do coitado que não se permitiu comer beterraba depois de adulto. Não porque ela mudou. Mas porque é um novo ele.

Ao longo da vida, nos transformamos, nos reinventamos, nos refazemos, morremos e renascemos. A mudança de perspectiva pode transformar o objeto. E quem se recusa a tomar distância e a explorar novos ângulos está perdendo a chance de apreciar as beterrabas da vida.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Notívaga

Estou começando o expediente agora e já está escuro na capital.

Não que me incomode com as convenções, mas há limite para ser antissocial.

Há que se concordar, no entanto, que, de vez em quando, é necessário escapar do normal, do rotineiro e cotidiano e se permitir alguns momentos fora do chão.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Súbito

Quando tudo parece cinza e chuvoso, ela se agasalha bem. Blusa de mangas compridas, suéter e casaco. Para não ter frio nos pés, meias grossas e botas. Pretas. Cinto preto. Calça preta. Dentro da bolsa, o guarda-chuva, a carteira, o celular e aquele monte amassado de nota fiscal no fundo de tecido barato e laranja, já descosturado em alguns pontos.

Sai de casa precisamente às 6h45, para não perder o ônibus das 7h00 que, às vezes, chega às 7h00. Ela cruza os braços quando o vento sopra frio e anda apressada. Não porque tem pressa, mas porque é seu jeito de andar e não sabe andar de outra maneira.

Ao rever seus companheiros de transporte público diário, acena cordialmente com a cabeça enquanto ajeita os fones de ouvido e aumenta o volume do mp3 de qualidade duvidosa.

Às 7h03, ela avista o letreiro de seu ônibus. Chegou mais ou menos no horário. Ela odeia aquele ônibus, com a porta de saída no meio do carro, poucos assentos e muito espaço para ser acotovelada, encoxada, embarrigada. Mas, sem alternativa, todos os dias se presta a dançar a música nada sensual do coletivo que sacoleja pelas ruas do bairro.

Quarenta e oito minutos depois, ela avista aliviada a avenida onde fica o prédio em que trabalha.

Dá seu bom dia amarelo às pessoas com quem é obrigada a conviver. Senta na sua baia cinza, liga o computador, suspira ao ver 143 mensagens não lidas em sua caixa de entrada. Enlarge your penis, aquele monte de PowerPoint falando de Jesus, mensagens solicitando a senha do banco. E trabalho. Suspira. São oito horas e o expediente começou. Já pensa em fazer uma pausa para o café coado ruim.

Eis que, de súbito, o sol desponta por entre as nuvens. Contrariando a previsão do tempo que anunciava dia com temperaturas baixas e chuva fraca na capital.

E ela não sabe o que fazer com o casaco.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ideias não tão insanas às 5h40 da madrugada de alguém que tenta dormir mas não consegue por causa de uma picada de borrachudo na sola do pé esquerdo

Estágio 1: Passar pomada antialérgica

Estágio 2: Tomar antihistamínico via oral

Estágio 3: Coçar, coçar, coçar

Estágio 4: Passar mais pomada antialérgica

Estágio 5: Coçar, coçar, coçar, espremer para ver se a dor supera a coceira

Estágio 6: Furar o pé com uma tesoura, pois não adiantou nada espremer

Estágio 7: Tomar um outro antialérgico

Estágio 8: Colocar gelo no pé para ver se congela e pára de coçar

Estágio 9: Colocar álcool e atear fogo, já que o gelo não funciona

Estágio 10: Amputação do pé

Estágio 11: Finalmente, o sono.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quando eu crescer

Hoje fiz duas coisas interessantes na seqüência: uma entrevista de emprego e uma visita à escola onde trabalhava no ano passado.

Fazia muito tempo (mesmo) que eu não era entrevistada de verdade. O mundo das indicações é uma realidade. Vivo nela. Mas, uma entrevista sem indicação pode nos ensinar muito, já que o seu entrevistador está realmente te avaliando pela primeira vez. E tive um insight durante essa entrevista de hoje.

Quando me candidato a um emprego, não penso só no dinheiro. Um trabalho é sempre uma troca. Presto o serviço e recebo o dinheiro, mas, mais do que isso, penso: o que tenho a oferecer aqui e o que tenho a aprender? Durante a entrevista, percebi que tinha muito mais para oferecer do que para aprender lá. Me arrisco a passar a imagem de arrogante, mas esta equação tem que ser resolvida antes de aceitarmos o emprego. Ou teremos que demitir chefes lá na frente. E, confesso que estou me cansando disso.

Depois da entrevista, como era pertinho, fui à escola onde trabalhei no ano passado. Tive o prazer de reencontrar duas pessoas que admiro muito. Apesar de não ter ocupado nenhum cargo com nome pomposo, esta escola me ensinou muito. Foi não a única, mas provavelmente a melhor experiência que tive em minha já não tão curta carreira de professora.

Se penso em pedir meu emprego de volta? Não. Não penso. Apesar da experiência positiva e de saber que poderia ainda aprender lá, é para frente que se anda.

Desde o início do ano não tenho emprego fixo. Voltei a traduzir e estou com volume razoável de trabalho. Trabalho em casa, não tenho chefe. Mas, por não ter estabilidade, andei desesperada distribuindo currículos, procurando algo fixo. E é claro que não encontrei. Tenho recusado proposta atrás de proposta. Não porque quero ser milionária, mas porque percebi que não vejo como aqueles empregos podem me acrescentar alguma coisa. Recusei 4 empregos nas últimas 3 semanas. Isso me diz algumas coisas:

1) Correndo o risco de ser arrogante de novo, sinto-me muito mais capaz de coordenar uma escola do que as pessoas que me entrevistaram. Não consigo trabalhar para alguém que eu não respeite/admire.

2) Não sei nem se quero ter chefe.

Quando coordenei equipe em 2007 e 2008, senti muita falta de ter tido um modelo. Fiz o melhor que pude, mas me senti um pouco órfã em alguns momentos. Sempre fui boa em improvisar, tenho razoável habilidade para fingir que sei o que estou fazendo, mas não era isso o que eu queria da vida. Deixei o cargo e fui buscar outras coisas.

Ainda bem. Agora já sei como quero ser quando eu crescer.

3) Estou pronta para ser chefe de novo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Mulherzinha, eu?

Há quem pense que não tenho um lado feminino.

Porque não gosto de vozes cacarejantes e risadas histéricas. Ou porque não ligo para fofocas, odeio novelas e desprezo as celebridades. Pode ser também porque não gosto de filmes melosos (desses com a Meg Ryan), prefiro um bom suspense. Porque não ligo a mínima para Robert Pattinson (obrigada, alunas de 11 anos, por me mostrarem quem é) e outros vampiros adolescentes. Ou ainda porque esqueço datas supostamente importantes. Ou até porque eu acho ridículo alguém se prestar a um ataque de ciúme.

Mas eu sou bem menina sim.

Não vivo sem meu estojo de maquiagem (completo. Com base, corretivo, iluminador, tudo.); filtro solar todos os dias; antirrugas L'Occitane (tá, eu sei que é caro, mas é bom, não deixa a pele oleosa e dura bastante); meu cabeleireiro; um belo par de sapatos de salto (vários, de preferência); sabonetes e cremes e xampus; e meu precioso cartão de crédito para momentos de tristeza ou raiva.

Não deixo de me chatear quando alguém especial esquece meu aniversário. Choro sim. Tenho TPM também. Também me sinto gorda e horrorosa às vezes.

Não sonho com príncipes, encantados ou não. Mas, como toda mulher, também fico indignada quando sou tratada como objeto. Não quero sapos na minha vida. Os que tenho que engolir no trabalho são suficientes, obrigada.

Aos sapos, boa noite. Apreciem a companhia de suas mãos sem moderação.

(E eu achando que ia ser moleza voltar ao mercado.)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Homeostase

O que mais admiro no ser humano (talvez a única coisa, na verdade) é a nossa capacidade de nos adaptarmos.

Ah, mentira. Também admiro a capacidade de levar tombo e se levantar. Mas tenho certo desprezo por quem leva duas vezes o mesmo tombo. Rol de pessoas onde obviamente me encontro.

sábado, 8 de maio de 2010

Fila Night Run

Cheguei agora há pouco da Fila Night Run (ou Fila Night Rain, porque sempre chove). Congelada e faminta.

É. Para quem não sabe, eu corro. Chego depois de todos os tiozinhos, senhorinhas, gordos e sedentários de toda sorte, mas eu corro. Ou tento.

É sábado, tomei a maior chuva, passei um frio quase patagônico, tive que parar o carro a 5km da largada (para depois correr a corrida e andar mais 5km para voltar para o carro) e, para piorar, depois da prova, na hora da fome, só tinha umas frutinhas e isotônico. Bem que podia ter um sanduba ou um rodízio de pizza. Ah, e tem que pagar para participar, viu? E não é barato.

Tudo isso quando poderia estar sentada num boteco com amigos comendo coisinhas gostosas e jogando papo fora. Ou em casa, vendo um filme com o namorado debaixo das cobertas (se eu tivesse um, é claro). Ou num restaurante bacana. Ou ............. (insira o que desejar na lacuna).

De onde concluo que existem mais de 11 mil habitantes na cidade de São Paulo que não devem ter amigos.

A outra explicação é a endorfina. Só pode ser. Nada mais explicaria passar por isso e se empolgar para olhar no calendário para saber quando é a próxima.

Obs 1. Que ninguém se ofenda. Eu adoro participar dessas provas. Tirando viajar, só uma corrida me faz acordar às 5h30 de um domingo. =)

Obs 2. Meu tempo líquido foi de 00:35:45 para a prova de 5km. Não foi meu melhor tempo (o melhor foi 00:28:49, na época em que treinava 4x por semana), mas considerando que não treino há 5 meses, achei excelente.

Obs 3. Preciso urgente voltar a fazer musculação, apesar de não gostar. Meus joelhos agradecem.

Obs 4. Nem preciso esperar até amanhã para sentir dor. Já está rolando. Alguém pode me emprestar uma cadeira de rodas?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Honestamente

Como todo nerd que se preza, eu adoro a internet. Não vivo sem. A melhor invenção do mundo (depois do Tampax) é o e-mail. Quer coisa mais legal do que você não ter que se comunicar em tempo real? É possível estar disponível para quem quer que seja a qualquer hora, sem estar! Ainda mais eu, que trabalho em horários anti-sociais.

E os instant messengers? Quer coisa melhor que "falar" com 3, 4 pessoas ao mesmo tempo? E sem gastar telefone?

Mas, honestamente... Tem coisa que não se faz pelo messenger, nem por e-mail e nem mesmo por telefone. Você consegue listar algumas?

[EDIT: Estou meio atolada de trabalho, dormindo 3h por noite, mas tudo indica que dia 13 de maio será minha libertação e terei mais tempo. Para postar, inclusive.]

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alívio

Achei que tinha me tornado uma daquelas mulheres frias, duras e incapazes de ter sentimentos, mas quase cinco meses após minha separação, eu chorei.

Lembrei das cores do apartamento, dos barulhos à noite (inclusive do vizinho de cima que gostava de arrastar móveis de madrugada), do tapete da sala meio detonado nas bordas, da pilha de papéis no escritório, das toalhas coloridas no banheiro. E lembrei dos olhos dele, marejados, enquanto considerava uma outra chance, uma outra vida. E chorei enquanto olhava para o céu escuro e com poucas estrelas.

Foi como despertar de um sonho estranho.

Agora sim, acho que estou ficando quase pronta para o recomeço.


[Não costumo postar coisas tão pessoais, mas tive uma epifania e queria compartilhar.]