segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quase um poema

Saber-se
Desnecessário.

Olhar agridoce imóvel
O braço de mármore nem acolhe nem afasta
Mas se desfaz.

domingo, 29 de agosto de 2010

Estou aqui de passagem


Que tudo é temporário, todos sabemos.

E a efemeridade da vida humana é palco frequentemente revisitado por filósofos, psicólogos e botequeiros de todas as partes do mundo.

Com exceção de Neil Gaiman e alguns contemporâneos, a imagem clássica da morte com a foice ainda é fortemente divulgada e é senso comum. E acho engraçado que a morte seja sempre sombria e tenebrosa.

Entendo o medo do sofrimento. Mas da morte, não.

Penso que pessoas que temem a morte são pessoas que também temem a vida. Acho que cada um faz a melhor escolha que pode com as ferramentas que possui em cada momento da vida. Às vezes fazemos escolhas erradas, é claro. Mas será que tínhamos as ferramentas certas para saber que seria uma escolha errada? E será que a escolha errada não foi, na realidade, uma escolha melhor? Explico: às vezes uma cagada enorme ensina muito mais do que vários acertos.

Quando olho para trás e penso em todas as maluquices que fiz em minha vida, penso que poderia morrer a qualquer momento. Isso não significa que quero morrer. Não. Ainda quero viver bastante. Mas, não me arrependo de nada do que fiz até hoje, pois até as cagadas foram aprendizado. E, pessoalmente, acho que estamos aqui para aprender.

Você coleciona aprendizados? Todos os dias, antes de dormir, me pergunto: "O que foi que aprendi hoje?". Às vezes aprendemos um vocábulo novo. Às vezes, um novo ponto-de-vista. Às vezes, cultura inútil. E se não houver nada, é porque não prestei atenção. As oportunidades estavam lá.

Não pretendo aqui discutir se há vida após a morte. Acho que isso é uma questão de fé. E fé não se debate. Fé é certeza, ainda que seja uma certeza pessoal.

O caminho que trilhamos ao longo da vida é feito de escolhas, às vezes nossas, às vezes não tão nossas assim. Mas o livre arbítrio está lá. Para tudo há solução, desde que se esteja disposto a lidar com as consequências.

Quem me conhece sabe que converso muito com as pessoas. Aprecio a troca de ideias. (Porque ficar sempre com as mesmas, além de chato, é perigoso. Engessa e nos torna burocráticos e pragmáticos.) E vejo que o discurso é sempre permeado pelas mesmas questões: trabalho, vida amorosa e dinheiro, não necessariamente nesta ordem.

Não que essas coisas não tenham importância. Afinal, estão no mundo. Mas a questão sempre cai na comparação. Comparar-se aos outros só leva a caminhos igualmente ruins: orgulho ou inveja. Não adianta se comparar ao chefe ou à Angelina Jolie. Os caminhos deles foram diferentes e os aprendizados deles também são diferentes.

Quando o nosso referencial deixa de ser o outro, a vida fica mais leve. É legal parar de vez em quando e ter um momento introspectivo. E o medo da morte me diz muita coisa. Quando eu tiver medo de morrer, é porque parei de viver.

O maior medo que alguém deveria ter não é o de morrer, mas o de sua memória se apagar e de ninguém contar sua história. Não fazer diferença para ninguém é algo muito mais medonho do que dez minutos de dor agonizante, acho eu.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sobrevivendo à secura


Essa semana o ar seco acabou comigo. Hoje a umidade relativa do ar chegou a 12% na capital, o que caracteriza situação de alerta da OMS. Isso nunca me afetou no passado, mas desta vez estou acabada. Os olhos ardem, o nariz sangra, a garganta arranha... O efeito Atacama é devastador.

Onde eu trabalho não tem janela e, com esse calor, só no ar condicionado mesmo. É só fazer a conta: sala fechada, ar condicionado, lousa, giz, apagador, muvuca = gripe. Aí os médicos dizem para respirar pelo nariz e não pela boca. Mas se o nariz está entupido, eu digo que é melhor respirar pela boca do que não respirar.

Da saúde:

Para dormir, tenho deixado a toalha molhada no quarto ao invés de deixar no banheiro. Outra dica é deixar uma bacia ou balde com água debaixo da cama.

Carrego garrafinha de água na bolsa o dia todo. Tenho tomado mais de 3 litros por dia. A pedra no rim agradece.

Fumantes: cuidado com as bitucas jogadas por aí. Tenho visto muito caminhão-pipa com sirene ligada pela cidade. Apague o cigarro na sola do sapato e jogue a bituca no lixo. Ajuda a evitar incêndios e a prevenir as enchentes que virão em alguns meses.

Da beleza:

Sabe aquele hidratante Shiseido que deixa a pele superoleosa porque foi feito para japonesas do Japão? Hora de usar.

Manteiga de cacau não ajuda em nada. Há protetores labiais mais eficientes. Gosto do Banana Boat (com FPS 30).

Muito muito muito hidratante para as mãos, pés e corpo.

Falando em corpo, está calor. Depilação em dia e pernas de fora, já que nem transpirar direito a gente está conseguindo.


Agora... se o que o motivou a ler a postagem foi uma secura de outra natureza, só digo isso: saia de casa! Vá ver o mundo! Não fique aí sentado na frente do computador! As pessoas mais interessantes estão nos lugares mais inusitados. Ah, e siga o protocolo para não errar! =)

domingo, 22 de agosto de 2010

Protocolo do sexo casual


Aviso aos navegantes: Não sei se as outras mulheres vão concordar comigo, mas nunca disse ser porta-voz de nada. Leiam por sua conta e risco.

Sexo é sexo. Amor é amor.

Mulher também sabe separar. Ao contrário do que se pensa, mulher também procura por sexo. A diferença brutal entre o homem e a mulher é que a mulher encontra mais facilmente. Ou você, homem ingênuo, acha que aquela mulher que conheceu no bar estava de lingerie de renda por acaso? Não seja tolo. Ela te escolheu muito antes de você perceber a presença dela.

O grande problema do sexo casual para a mulher é quando ela não sabe mais se é casual ou não. (O que acontece com grande frequência. Daí o estereótipo.)

Visando aprimorar a clareza entre as relações homem-mulher, casuais ou não, aqui vai o protocolo do sexo casual.

- Entendam uma coisa: ou ninguém come ninguém ou um come o outro. É uma coisa mútua. Ninguém está fazendo favor para ninguém. Se rolou, é porque os dois queriam.
- Gestos de carinho cabem. Afinal, sexo é intimidade. Não é porque é casual que tem que ser impessoal e frio. Mas apelidos carinhosos, por exemplo, não cabem.
- Acabou? A mulher levantou para ir embora? Não insista para passar a noite ou tomar café-da-manhã juntos. Isso não é casual.
- Quer ser gentil? Então ofereça para pagar a conta do motel ou peça que ela lhe mande um torpedo quando chegar em casa. Não ligue no dia seguinte para saber se ela chegou em casa bem. Isso não é casual.
- Quer repetir a dose na semana que vem? Seja direto e objetivo. Não fique rodeando para saber "como você está?" ou "o que tem feito?". Se não te interessa, não pergunte, pois isso não é casual.

Claro que isso varia de mulher para mulher, mas a impressão que tenho é a de que, se esse protocolo é quebrado, começam as viagens na cabeça da mulher. E aí, meu caro leitor homem, acabou a amizade colorida. O que poderia ser uma sequência de noites legais acaba virando uma mulher chata, sofrida, magoada e que fala para todo mundo: "Eles só pensam em sexo!", "Não sabem respeitar e valorizar uma mulher!", "Homem é tudo igual mesmo!" e todas aquelas bobagens que estamos cansados de ouvir.

Mulheres, sintam-se à vontade para adicionar, remover ou modificar cláusulas no protocolo.

É claro que o casual pode evoluir, se transformar. Mas aí é outra história. E para essa não tem protocolo.

[Edit] Escrevi sobre homens e mulheres porque não tenho conhecimento de causa para escrever sobre homens e homens e mulheres e mulheres... Mas não acho que seja muito diferente.

sábado, 21 de agosto de 2010

Um iPad ou cem livros

A promoção mais nerd de todos os tempos! Amei! Clique no banner =)


Indo na onda do que andei discutindo com colegas, o livro de papel ainda vai demorar muito para sumir. Nada como folhear, sentir o cheiro, olhar o final antes de chegar nele, babar nas folhas... Tanto que a promoção do Skoob te deixa escolher entre o iPad e 100 livros. Gostei.

Para quem não conhece o Skoob ("books" ao contrário), é uma rede social de leitores. É bem legal.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cabelo emo

Atendendo a pedidos, foto do cabelo emo no perfil. A ser retirada em breve, porque não gosto que meus textos tenham rosto.

Uma mulher


Uma mulher é algo fascinante.

Ela é uma. Ela é todas.

Uma mulher sabe que em sua fragilidade está sua força. E sabe que saltos altos e chicotes não precisam ser indumentária cotidiana.

Uma mulher derrama suas lágrimas com uma coragem incompreendida.

Uma mulher não precisa de terno, gravata ou pasta de couro. Não precisa de empregados para provar que pode comandar. E não precisa de donos para mostrar que sabe ser comandada também.

Uma mulher sabe onde está. E seu olhar transmite a segurança de quem sabe onde está, seja por opção, ou pela falta dela. Mas sempre sabe onde está.

Uma mulher não tira o homem de seu lugar. Ela sabe que tirá-lo de lá vai deixá-lo inseguro. E homens inseguros fazem atrocidades. Apedrejam em praça pública.

Uma mulher é plena. O que não quer dizer que se basta. Uma mulher não se basta. Seu amor extravasa, extrapola. Ao filho, ao amante, ao mundo.

E uma mulher que ama faz o impensável, o impossível, o improvável.

Ela é Lilith e é Eva. É Vênus, é Diana, é Nêmesis e é a moça que faz o café.

Não há nada mais precioso do que ser amado por uma mulher. Isso deve ser cuidado, guardado, cativado. Se perdido, dificilmente reencontrado.

Às minhas amigas guerreiras, às minhas ancestrais, a todas as mulheres que transformam a realidade em uma jornada maravilhosa.

domingo, 15 de agosto de 2010

Nem sempre


Por mais que planejemos, por mais que lutemos, por mais que nos esforcemos, nem sempre as coisas acontecem como queremos. É claro que não. E não vou entrar numa conversa de lei de Murphy ou lei de Newton, porque tanto uma como a outra se aplicam a todas as pessoas. Ninguém é mais vítima do que ninguém. Os desafortunados que me perdoem, mas somos nós também responsáveis pela nossa própria fortuna.

Os nossos planos muitas vezes desconsideram um fator básico: vivemos no mundo.

E, como detentores de tal privilégio, deveríamos saber que o mundo não é estático. O mundo vasto mundo muda. Com velocidade incrível e em direções imprevisíveis.

É bom ter planos. É bom ter metas. Mas também é preciso ter flexibilidade.

A pedra no meio do caminho aparece. E, ainda que fosse possível, planejar todos os obstáculos é uma atividade que paralisa. Nos deixa sem tempo e sem ação. É importante ver a pedra. Mas, mais importante é analisar o arredor e saber se vale mais a pena saltá-la, contorná-la, engoli-la ou chutá-la. Ver somente pedras nos torna medrosos. E pessoas com medo, além de desinteressantes, são perigosas.

Metas e planos devem (ou deveriam) ser "mais ou menos".

Aí dá tempo de se surpreender com o improvável e ver poesia no trivial. Dá para mudar o rumo sem comprometer todo o futuro. E dá coragem para enfrentar essa aventura que é a vida.

Trabalho e dinheiro fazem parte do mundo. São parte significativa do mundo. Mas, mais importante que isso, é a própria vida. E conheço muita gente que se esqueceu disso. Se esqueceu de viver. (Por isso gosto tanto de zumbis. Tenho muitos amigos dessa espécie.)

Muita gente me considera pessimista. Mas eu acho que sou a maior otimista que conheço. Tenho muita fé na humanidade. E esse é o maior ato de fé que alguém pode ter.

sábado, 14 de agosto de 2010

Temporário e descartável


É fato que estamos vivendo em uma época em que tudo é muito mais temporário do que era há algumas décadas, mas será que estamos prontos para ter (ou ser) tudo descartável?

É só quando buscamos alguma permanência que percebemos como tudo é efêmero.

Não sei se sei lidar muito bem com isso.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Death Proof"


Demorou para chegar ao Brasil, é claro.

Certamente foi o filme mais catártico que assisti nos últimos tempos. (Se não sabe o que é catarse, vai pesquisar, pelamordedeus). Foi uma experiência única assistir no cinema com sala lotada. Fez toda a diferença.

E tem o Kurt Russell.

Com o humor típico do Tarantino, é claro. Vale o ingresso.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Indiferente

Às vezes penso que gostaria de me importar mais com as coisas.

Outras, penso que gostaria de me importar menos.


domingo, 8 de agosto de 2010

Cabelos curtos

Quem me conhece sabe que a cada vez que me encontrar meus cabelos estarão mais curtos.

Em primeiro lugar, acho muito marcante uma mulher que usa cabelos curtos. O corte, que não precisa ser masculino, mostra - além das orelhas de abano - personalidade. Não é para qualquer uma. Não dá para passar despercebida na multidão com um corte joãozinho.

Além disso, é muito prático. Seca rápido no inverno, deixa o pescoço livre no verão.

Muitas pessoas dizem que fico mais bonita com um chanel desestruturado. Mas, toda vez que penso em deixar crescer, já está na hora de cortar de novo. Chego no meu cabeleireiro e falo "faça o que você quiser". Veja bem. Se o meu cabeleireiro que é meu cabeleireiro há mais de 10 anos acha que fico bem de cabelo curto, quem sou eu para questionar?

O aluno que não me venha querer me ensinar a ensinar, porque a profissional sou eu. Penso que meu cabeleireiro passa pela mesma coisa.

***

Para aqueles que são pais, feliz dia dos pais.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Que aborrecimento ter que explicar a piada!

Olha, sejamos francos.

Não é porque escrevi um pedaço de ficção que as coisas acontecem comigo, tá? O texto anterior é dedicado a todas as mulheres do mundo, que passam por isso todas as vezes que vão sair, seja com quem for.

E não é porque critico a estupidez que estou dizendo que todo mundo é estúpido (ou que estou me excluindo do grupo de estúpidos, veja bem).

E não é porque questiono a validade de um monte de valores sociais que quero viver numa caverna.

Que aborrecimento ter que explicar a piada...

domingo, 1 de agosto de 2010

Segundo encontro

Ela se despia, com pressa. Tinha poucos minutos para se aprontar. Tantos vestidos e não conseguia se decidir, mas não havia tempo. Decidiria no banho, como sempre. Entrou no chuveiro e jogou xampu na cabeça, que escaneava o guardarroupas mentalmente, enquanto esfregava os cabelos castanhos para fazer espuma. Lembrou-se daquele vestido básico, preto, é claro, com saia na altura dos joelhos. O decote não era tão ousado que a fizesse parecer uma puta e não tão conservador que a fizesse parecer uma freira. Que sapatos usar? 'Salto muito alto vai me machucar os pés. Sei lá se vou ter que ficar muito tempo em pé. Salto baixo não combina com a saia. Vestido preto com sapato preto e bolsa preta? Básico demais. E se colocar um colar grande? Mas aí não posso usar brincos grandes.' Nunca entendeu por que o condicionador deveria ficar dois minutos 'agindo' antes de enxaguar, mas aproveitou os dois minutos para escovar os dentes. Tempo recorde no chuveiro! Pegou a toalha e começou a se secar. Olhou para as axilas. 'Que droga!' De volta ao chuveiro, pensou que desde que F. se fora, ninguém nunca mais tinha lhe dito 'Você está parecendo a monga'. Cretino. E que se dane a pele. Gilete é mais rápido. 'Droga. As pernas. Que se dane. Vou de calça.' E todo o trabalho mental do banho foi pelo ralo, como sempre. Secou o corpo em segundos e enrolou a toalha na cabeça. Pôs uma calcinha-qualquer-uma e sua calça de alfaiataria que ainda tinha uma parcela para vencer no cartão. O bendito cartão. Em menos de 10 minutos sua carona chegaria. Passou aquele produto mágico que vem no potinho preto para definir os cachos enquanto procurava aquela blusa rosa esvoaçante. 'Sutiã, cadê?' Seis minutos para a maquiagem. Viva a base 2 em 1. Sombra rosa, blush rosa, camadas e camadas de rímel para compensar os cílios curtos e ralos. 'Aimeudeusossapato! Será que está frio? Sandália? Sapato fechado? Bota? Não, bota é over demais. Que horas são, caramba.' Correu para a janela e botou a cabeça para fora. 'Está meio frio, mas acho que dá para ficar de sandália. Ai, droga. Aquele é o carro do R.? Já?!'. Correu descalça para o armário, pegou a primeira sandália preta que viu e calçou enquanto o interfone tocava. "Oi, R.! Estou descendo!". Brincos, brincos, brincos? Esse serve. Bolsa vai ter que ser aquela mesma de todo dia. Não dá tempo de trocar. Ainda bem que ela é preta. E neutra. Perfume? Sensual ou casual? Sacanagem fazer o moço esperar. Ninguém gosta de esperar. Ela deu aquela última olhada no espelho. 'O colar! E o relógio!'. Enquanto o elevador não chegava, pegou o relógio e um colar de prata, girou a chave na porta, apagou as luzes e saiu. Lia ansiosamente '12...13...14...' quando se lembrou do casaco, sobre a cadeira da sala. Correu, girou a chave, pegou o casaco no escuro, trancou o apartamento e correu para o elevador, antes que as portas se fechassem. Ela então colocou o relógio, passou o colar em volta do pescoço, piscou algumas vezes para o espelho, treinou alguns sorrisos e recuperou o fôlego antes de sair do prédio.

E, quando R. a viu, ele não reparou nos brincos, no relógio, e nem na etiqueta que estava para o lado de fora da blusa rosa.