Há alguns tipos de mesquinharia que são difíceis de entender.
Entendo uma pessoa que diz que não vai ao teatro com você porque não pode gastar dez reais. Vai saber da vida da pessoa. Vai saber que dívidas e que prioridades ela tem. Até entendo que você não queira oferecer a entrada ao amigo (é difícil, mas entendo. Às vezes não dá mesmo. E às vezes a companhia nem é tão boa assim, sei lá. Vai saber).
Também entendo uma pessoa que não compra um livro, ou um filme, ou um álbum. Que vai baixar de graça da internet, mesmo sabendo que está deixando de pagar royalties para um escritor, ou diretor, ou músicos (e todo o restante da equipe) que trabalharam, assim como eu e você trabalhamos, para que aquilo existisse. Até isso eu entendo. Que atire a primeira pedra quem nunca pirateou nada.
O que eu não entendo, honestamente, é economia de afeto.
Afeto que fica dentro de si não cresce, não rende e não se multiplica. Afeto só se multiplica quando você entrega.
Em que se ganha ao economizar um elogio ou uma palavra carinhosa? Em que se ganha ao economizar "eu te amo"? Alguém me explica, por favor? Não tem lógica. (Exceto, é claro, quando não se ama ou quando o elogio não é sincero. Acho que uma crítica bem colocada é um ato de carinho maior do que um falso elogio. Aí, tudo bem. Entendo a economia. É uma questão de sinceridade.)
Uma vez recebi, na função de coordenadora, a visita de um pai de aluno. Ele estava ali para resolver uma pendência financeira e aproveitou a visita para conversar comigo. Ele agradeceu por termos feito seu filho aprender e, principalmente, feito com que ele gostasse e se interessasse pelo curso. Ele disse que o filho gostava muito do professor e do modo como ensinava, das atividades e curiosidades que trazia.
Eu poderia ter seguido com os compromissos da minha agenda apertada, simplesmente. Mas fiz questão de chamar o professor em minha sala, para comunicá-lo do ocorrido. Com ou sem essa informação, o professor teria continuado com o seu trabalho. Mas eu achei importante que ele soubesse que seu trabalho estava dando resultado e estava sendo reconhecido. Tenho certeza de que, ao colocar a cabeça no travesseiro à noite, este professor pensou: "estou no caminho certo".
O professor continua fazendo o seu trabalho. A empregada continua limpando. O médico continua operando. O filósofo, filosofando. O mundo não vai parar porque não ouviu que é importante.
Ninguém morre por falta de afeto. Fato.
Exceto o afeto em si.
o afeto, a esperança, os sonhos, os desejos...
ResponderExcluirOi amiga.
ResponderExcluirQue lindo isso!
Dispensa qualquer comentário.
Economizar algo que quanto mais se dá, mais se tem, é de uma mesquinhez tremenda, não acha?
Oi sumida!
ResponderExcluirBom, sou da seguinte filosofia: já que é pra se fuder gastando, qual o mal de falar que gosta e o que sente? Afinal, a vida é curta demais pra não se gastar e longa demais pra se conter.
Kisu!
Eu sempre comento no blog da Lilás, e ela disse para dar uma espiadinha aqui no seu blog, pois nossas postagens tratam de temas semelhantes: afeto, amor!
ResponderExcluirQueria dizer que achei o seu texto genial, é a maior verdade, ninguém morre com a falta de afeto, exceto o afeto em si! Se você quiser e puder, da uma passadinha la no meu blog! Gostei tanto daqui que me sinto obrigada a linkar :)
Bjssss.
Patricia,
ResponderExcluirUm começo interessante e eu a concordar com tudo. Depois a surpresa: A economia do afeto. Momento de ultrapassar a concordância e passar a amar aquilo que você escreve (isso já não é novidade). Acho que um dos motivos de eu estar onde estou é realmente o excesso de elogios que recebo pelo que faço e o quanto isso me faz feliz. No último trecho a verdade: O mundo realmente não para! Obrigado pelo texto. Abraços