segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Adeus ano velho

Nada de promessas vazias. Nada de "vou parar de fumar", "vou perder 5kg" ou "vou abrir meu próprio negócio".

Que venha 2006. Estou armada até os dentes.

E vou moderar comentário a partir de agora. Nada de usar meu blog como mural de spam. Fala sério.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Conversas esquizofrênicas de uma paulistana às vésperas do Natal

Um mês para o Natal:
"Nossa, quanto carro de fora! O trânsito está bem ruinzinho, né?"

20 dias para o Natal:
"Estou contando os dias para as minhas férias. Não vejo a hora de terminar o ano. Só faltam algumas provinhas e beleza. Hein? Um trampo novo? Ah, vou ver. De repente rola pro ano que vem. Onde? Ah, tá. Eu ligo para ele. Hmm... Ok. Amanhã às 15h. Acho que se eu sair de casa às 13h, dá tempo."

15 dias para o Natal:
"Puxa vida. Acredita que o melhor caminho está sendo Pedroso-Faria Lima-Teodoro-Dr. Arnaldo-Paulista-Vergueiro? Pois é. Quando tudo está parado, o melhor caminho é o mais curto. Cara, não aguento mais corrigir prova. Preciso de comida de conforto. Sério que você vai tentar ir na R. 25 de Março? Insano isso. Certeza. Vou pegar o meu décimo terceiro e ele vai diretinho para a poupança."

14 dias para o Natal:
"Meu, de onde saiu tanto carro?! Tudo isso para entrar no shopping??? Nahh, desencana do cinema, vamos tomar um café e tá tudo certo. Amor, não posso xingar nem um pouquinho? Ahnhanhannn... Caralho. Domingo à noite. Uma hora e meia para chegar em casa. Esta cidade está impraticável."

13 dias para o Natal:
"Esta cidade está definitivamente impraticável. Começo a entender o ódio carioca por turistas no Carnaval. Ah, reprovei mesmo. Não entendi a letra do infeliz! Nego com 18 anos e não sabe escrever?! E daí que ele está no último avançado? Ah, é para eu passar? Putz, vai ser foda. Não. Não dá pra rasurar a prova. Já está corrigida e já reprovei. Só um momentinho. Cara, preciso de comida de conforto. Urgente. O sistema está fora do ar? Ainda bem que eu só tinha hoje para botar isso no sistema, né? Hein? Aula de reposição de quem? Hmm. Tenho a madrugada de quinta para sexta livre, pode ser? Eu sei que não tem dinheiro para me pagar. Fica devendo. Acho que o décimo terceiro vai virar um som novo para o Andrecito. Nossa, eu tinha que terminar aquele freela, né?"

12 dias para o Natal:
"O pior domingueiro é aquele que sai durante a semana. Ah, não vou ter férias, pode marcar na semana do Natal. Ah, você vai ter? Bom, então deixa para janeiro. Ah, não, cara. Nego marcou prova para quando?? Ah, puta merda, meu. Não vou corrigir no Natal nem fodendo. Vou zerar e isso vai contar como recuperação. Eu quero mais é que se dane. Não fui eu quem faltou na prova, fui? 'Na minha época era diferente. As pessoas tinham respeito pelas instituições'. Não, não posso. Não posso nesse horário, caralho! Joga para a semana que vem! Vou pra casa. Chega. Quanto carro de fora, caralho!!! CERTEZA que o décimo terceiro vira um som novo, cara. E com falante traseiro de balançar a rua. "

11 dias para o Natal:
"Tudo bem. Tirando que tava TUDO entupido! Achei que era acidente. Fui ver, era uma tiazinha com mais três tiazinhas numa porra dum Astra fechando o caralho da rua inteira andando a 2 km/h, ocupando as duas pistas, carro parado dos dois lados em lugar proibido, nenhum puto da CET multando. Nããão!!! Eu estava na Luís Góes, naquele pedacinho de nada ali na Vila Clementino!! Aliás, pra que a pessoa me compra um Astra pra andar a 2 km/h?! NÃO! NÃO TENHO UM REAL E NÃO SOU SUA TIA, CARALHO!!!. Será que depois do 'não' eu consigo comprar uma bazuca com meu décimo terceiro? De repente é o salário mínimo que está alto demais. Só pode estar sobrando grana no mundo, cara. O que mais esse povo todo veio fazer na MINHA cidade UM MÊS ANTES DO NATAL?!?! Naaaaaaaahhhhh. Pode usar o carro. Não saio mais hoje nem que arranquem as minhas unhas e joguem sal. Sei lá quando vou fazer compras de Natal. Nem sequer sou cristã, porra."

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Sobre a educação

Mais uma vez devo me desculpar pela ausência prolongada em vossas páginas... Como sabem, professor horista sofre... Em Novembro e Dezembro, pegamos todos os freelances que aparecem para compensarmos a estiagem monetária que se segue, de Janeiro a Março...

Tenho notado, cada vez com mais desgosto, que os papéis - outrora da família - têm se acumulado sobre as costas da escola. Especialmente nos bairros ricos. Lembra daqueles ralos que a gente levava da mãe?: "Não vai pro meio da rua que você vai ser atropelado, moleque!". Hoje não tem mãe. Até isso ficou por conta da escola. Fico chocada porque nem dou aula em escola regular! Trabalho em curso livre de inglês e ainda tenho que ver essas coisas!

A geração apartamento-escola-natação-babá-inglês me dá medo, sabe? Não do ponto de vista do professor (este também morre de medo, pois não pode dar bronca no aluno que a mãe liga, imediatamente, do escritório, para reclamar que o filhinho dela está sendo maltratado no inglês), mas do ponto de vista humano.

Com o mundo, louco do jeito que está, tanto o pai como a mãe precisam trabalhar fora. (Às vezes não, mas como sustentar a Pajero e a coleção de sapatos só com o salário do cônjuge, né? Mas isso é outra história...) E os pais, com cada vez menos tempo para os filhos, fazem-lhes todas as vontades por culpa. E os filhos que não são burros sabem usar isso. Que medo disso... Que seres humanos estão se formando pelo medo da bronca?

Não sou a favor de bater com cinta. Nem de bater com chinelo. Nem com a mão. Mas sou SIM, a favor do NÃO. Um bom "não" educa. Ele frustra, mas protege. Uma criança que se frustrou sabe lidar melhor com o mundo do que uma criança que teve tudo, que sempre aparece uma solução mágica para seus problemas.

Estou com 27 anos. Minha geração está livre disso? Também não. Conheço várias crianças grandes, que ainda esperam soluções mágicas para o desemprego, para comprar o carro, para ir para a Tailândia ou para comprar a casa. Eu costumo dizer: "faltou porrada. Vai ter que tomar da vida, agora." Um bom "não" na infância poupa bastante porrada na vida adulta. Acreditem. Aquele velho cliché pedagógico do "a lei protege" funciona. Uma pessoa que sabe os seus limites, que conhece os "certos e errados" de seu grupo social (ainda que escolha desobedecê-los), transita muito melhor pelo mundo, com muito menos crises e muito menos medo.

Um apelo, em nome de toda a classe docente: se não souber dizer "não" a uma criança, não as tenha.

A babá não dirá.

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Onde está o meu tempo?

Segundo interessante teoria, precisamos de um holocausto. Com a quantidade absurda de pessoas que povoam o mundo, a água se escasseia, o planeta é sucateado, o trabalho desvaloriza e o tempo acaba.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Chá de camomila, ginseng e cafeína

Estou sem tempo nem para organizar meus pensamentos, quanto mais colocá-los no papel (ou no blog). Mas tenho algumas considerações a fazer.

1. Do Halloween:
What the f*ck? Quem inventou que professor de inglês tem que adorar Halloween, achar o máximo morrer de calor vestido de preto, com uma capa ridícula nas costas, unhas pretas, desfilando pela cidade enquanto vai de um lugar a outro? Tudo seria muito engraçadinho, se não existisse chuva, sol, a quantidade disparatada de livros que carregamos e nós morássemos na América do Norte.

2. Dos livros de auto-ajuda:
Ainda que estou ganhando uma boa grana para isso, mas que NUNCA mais na vida quero ler coisas do tipo Paulo Coelho, isso é fato.

3. "Quem sabe fazer muita coisa não sabe fazer nada":
Administrador de empresa adora cliché, né? Deve mesmo ser muito mais rentável ter que contratar um idiota para tirar xerox e outro idiota para atender telefone do que contratar só um idiota que faça as duas coisas. Cliché por cliché, continuam exigindo que façamos o serviço de 15 pessoas. Mas quem é bom MESMO só sabe fazer uma. Vai entender.

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Cálculo I

Para quem está se perguntando o porquê da abundância de eventos aniversariais nos próximos dias, façam uma conta simples: nove meses depois do Carnaval. A grande boiada da felicidade brasileira antes do advento da AIDS na qual eu me encontro.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Livin' la vida loca

Impressionante como o tempo passa, não?

Ainda outro dia eu estava na Chapada dos Guimarães, com alguns reais, mochila nas costas e compromisso nenhum com nada.

Ainda outro dia eu estava com bolsa de iniciação científica, viajando pela Patagônia com o mísero dinheiro da pesquisa, caronando 3600km, perdendo um mês de aula na USP e nem aí.

De repente, estou fazendo 27 anos, tentando juntar dinheiro para comprar casa sendo que não sobra nada no mês, pagando contas, parcelando o dentista em 15 vezes, tendo que pedir adiantamento pro chefe senão não tenho gasolina para ir trabalhar, procurando freelance para lá e para cá e sem saber para onde ir.

Pensando bem. Acho que não mudou muito. Continuo sem rumo e fazendo malabarismos para ver se o dinheiro dura.

***

EDIT: Comemoração do meu aniversário no dia 22/10 (sábado antes do referendo):

Cachaçaria Paulista (R. Mourato Coelho, 593 - Pinheiros)
A partir das 21h30
Preço: 17 reais de entrada, sendo 12 consumíveis
Confirmar comigo por e-mail para eu fazer reservas: morwenzzz@gmail.com

Amigos, namorados (as), maridos (as), rolos, agregados, irmãos e bichos de estimação bem-vindos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Variados

Nada como passar um fim de semana nada a ver na praia com o namorado. Nem chuva, nem frio, nem nada podem fazer um fim de semana na praia ruim. Só de sair um pouquinho da rotina, já ajuda.

O limpador de pele e o tônico da Neutrogena são muito bons. Agora o meu anti-rugas vai ficar mais feliz.

Fezoca, vamos sentir muito a sua falta no trampo. Boa sorte em Porto Seguro e não se esqueça de chamar para a festa de despedida!

Meu cachorro fez aniversário este mês, mas eu não sei em que dia e nem quantos anos ele fez.

Falando em aniversário, o meu está chegando. Estou pensando em comemorar no El Kabong. Ainda não passou a minha vontade de comida mexicana. Mas a pobreza está cruel.

O que fazer com Tarantino e George Orwell se a sua turma de avançado não gosta de discutir nada? Odeio fingir que ensino alguma coisa útil.

Que frio é esse?!

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Ain ain...

Endorfina faz falta. Duas semanas sem academia e a apatia toma conta.

Agora dá-lhe ácido lático tudo de novo. Ain ain...

De resto tudo igual. Estou morrendo de preguiça de postar sobre o desarmamento. Eu queria até, mas não está rolando um saco.

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

É foda

Às vezes acho que eu devia me contentar com menos. Desde que tive o meu surto de ambição que a minha vida começou a se complicar. Hoje fumo mais, durmo mal, fico contanto os dias do calendário até o Natal.

Talvez eu não devesse pensar em morar na Aclimação, num 2 dormitórios, com 80 metros quadrados e 2 vagas na garagem. Talvez eu tenha escolhido a carreira errada. Talvez eu esteja na cidade errada. Talvez.

São Paulo definitivamente precisa de um controle populacional um pouco mais radical. Tipo uma guerra. Ou uma praga. Com menos gente no mercado, não precisaríamos trabalhar 17 horas por dia em 3 lugares diferentes para inteirar um salário.

E meu aniversário chegando... A cada ano vejo que estou mais velha e praticamente na mesma situação. Isso é degradante. Não sei quem foi o imbecil que inventou que "Deus ajuda quem cedo madruga" ou qualquer outro lema que diz que se você se esforçar você chega lá. A mídia fica propagando essa idéia fraca de herói, de self-made man, mas no final das contas, somos um bando de lunáticos lutando por um sonho americano perdido na década de 50 ou 60.

Cadê o meu sonho americano? Nem preciso de lava-louças ou de enceradeira (mesmo porque ninguém tem piso de madeira de verdade hoje em dia). Será que é o meu padrão que está equivocado? Talvez seja. Um amigo meu já provou que dá para viver com um balde amarelo, um fogão de camping, um colchão e uma panela.

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Miscellaneous

Dias frios e chuvosos deviam ser declarados feriados instantâneos.

Quem quer que tenha projetado tamanha barbaridade, devia estar bêbado ou com preguiça. Ô coisa inútil que é menstruar!

Deep Purple é legal. Eu tinha me esquecido.

Às vezes penso que eu nasci na época errada, ou no lugar errado, ou na classe social errada. Quantas vezes vou precisar repetir que não vim a este mundo a trabalho? Não que eu não goste de trabalhar. Mas eu acho que um total de 6 horas por semana está mais do que razoável.

Não vejo a hora de desenvolverem (e popularizarem) as tais nanocoisas que estão prometendo. Imagina um nano-vidro anti-grudador de poeira e nano-roupas anti-sujeira, suor e café? Até eu ia querer ser dona de casa. E me contaram que no Japão já existe um aspirador de pó que aspira sozinho, mapeando a sua casa.

Agora o Orkut está pedindo que você tenha uma conta Google. Ainda na semana passada eu estava discutindo que o Orkut como era (e sendo tão popular no Brasil), é um surto internético. Até minha mãe está no Orkut. Não existe. Que nem bilhete único.

Quando será que minha vida vai parar de dar voltas e me deixar sossegar para eu aprender ponto-cruz?

Meu saco para fazer pós foi pro saco. Até pensei num projeto legal, mas não tenho a menor vontade de me engajar nisso. Não agora.

Caraleo. Que vontade de comida mexicana!

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

1984

Orwell errou. Não precisamos de telescreens para sermos vigiados. Bastou acabar com as referências. E nem deu tanto trabalho. Nem foi preciso apagar ou alterar o passado. Ele está lá mesmo. Foi só ensinar que ele não serve para nada. Olha só que beleza. E lá vamos nós, como um bando de desmiolados, acreditar que o mundo é feliz, repetindo o mantra: "Ah, não posso fazer nada".

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Requintes (des)necessários

Em dado período do mês, a solução do mundo parece caber num salão de cabeleireiros, num batom novo da Avon e naquele colar lindo que você viu na vitrine mas que nunca vai usar. De repente, um taco de beisebol. Ou uma motosserra.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Parem o mundo, por um dia que seja...

Quarta-feira chegando. E eu achando que ia ser ruim ter um feriado bem no meio da semana! :)

Viva o patriotismo de fachada!

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

Expressionante

- Estar na maior pindura e ficar FELIZ que a revisão do carro "só" saiu $197,55.

- Estar no maior prego e ficar FELIZ que vai dormir 5 horas.

- Estar um puta frio e ficar FELIZ que vai pra praia no fim de semana.

Espero que seja uma onda de otimismo ou vou começar a me preocupar...

terça-feira, 23 de agosto de 2005

É sempre assim

Você está na fase branca tem uma idéia resolve anotar mas não anota porque a idéia é boa demais para ser esquecida mas esquece do mesmo jeito e já é outro dia.

Que mundo louco.

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Na verdade...

Na verdade, eu cansei de escrever manuais.

Esse negócio começou como um branco mental que se alastrou até os limites do inimaginável. Não que o branco tenha ido embora. Não foi. O branco se aprofunda cada vez mais e chego a pensar que ele vai consumir o meu cérebro.

quarta-feira, 27 de julho de 2005

O Manual Morwen do Relacionamento Amoroso - Parte IV (Das Pessoas Não-Toscas)

Atenção, caro leitor. Hoje iniciamos o curso Upper-Intermediate do Manual Morwen do Relacionamento Amoroso. Na aula de hoje, como foi prometido, aprenderemos como reconhecer uma Pessoa Não-Tosca.

***

UPPER-INTERMEDIATE ONE: Das Pessoas Não-Toscas

Encontrar uma Pessoa Não-Tosca, como eu já disse anteriormente, requer muita sagacidade e, principalmente, paciência. As Pessoas Não-Toscas são raríssimas e estão disfarçadas de pessoas normais, o que dificulta um pouco nossa tarefa. Mas a missão não é impossível... Então vamos ao passo a passo:

1) Converse:
Em geral, a Pessoa Não-Tosca gosta de conversar, pois, em geral, a Pessoa Não-Tosca gosta de pessoas. O passatempo número 1 da Pessoa Não-Tosca é ouvir opiniões diferentes (mesmo que ela não concorde), refletir, trocar idéias e analisar modos diversos de pensar.

2) Converse MAIS:
A Pessoa Não-Tosca dificilmente vai te beijar ou te pedir em casamento se ela não souber quem você é. Converse bastante. Mesmo que vocês raramente concordem, não seja uma mosca morta e, acima de tudo, não finja ser quem você não é (pois ela perceberá). Pessoas Não-Toscas gostam de pessoas autênticas e com opinião. E, se ela realmente for uma Pessoa Não-Tosca, ela vai saber respeitar a sua opinião (logicamente ela vai querer saber o porquê de suas convicções, mas isso não é problema, é?). Fora que conversar pode te fazer perceber que, no fundo, aquela pessoa que parecia Não-Tosca é tosqueira pura.

3) Do quesito "inteligência":
Uma coisa muito inteligente que me disseram uma vez foi que uma pessoa inteligente só consegue se relacionar com pessoas no mínimo igualmente inteligentes. Ninguém tem muito saco de ficar ensinando "o senso de noção" (termo emprestado do meu grande amigo Allan) para o outro. Note que, quando eu digo "inteligente" não estou me referindo aos títulos, número de livros publicados ou notas no boletim (embora isso possa pesar para certas pessoas que não necessariamente são toscas). A inteligência a que me refiro tem a ver com o tal "senso de noção". Uma pessoa inteligente sabe que, às vezes, dormir é mais importante do que ir à aula, por exemplo. A pessoa inteligente sabe o que é importante para si, ela respeita seus próprios limites e busca conhecer seus próprios mecanismos de funcionamento. Uma pessoa mais inteligente ainda, busca conhecer os outros também, reconhece as diferenças e respeita-as. Assim, se você conheceu uma pessoa maravilhosa, atenciosa, que te liga 38 vezes ao dia, mas que ENCHE O SEU SACO porque você não faz o mesmo, chute-a. Esta pessoa não tem "senso de noção" e acha que todo mundo demonstra sentimento igual. Uma pessoa inteligente saberia que demonstrações de afeto não têm regras.

4) Do quesito "experiência":
Praticamente toda Pessoa Não-Tosca foi Tosca ou Semi-Tosca um dia. Não é pelo número de ex-namoradas que se mede a experiência de uma pessoa, mas sim pelo que ela aprendeu com relacionamentos passados (ou relatos de relacionamentos dos outros). Uma Pessoa Não-Tosca nunca nega o seu passado, não tem vergonha de admitir que foi corno ou que já traiu, mas ela poderá contar (até com certo orgulho) o que aprendeu com as porradas que levou e até com as que deu.

5) Todo mundo quer uma Pessoa Não-Tosca:
Mas a fila anda. Se você achou uma, mas não é o seu número, libere-a para a felicidade geral da nação.

OK. Nosso curso está quase no fim. Já falamos de categorias de pessoas, de flerte, de tosqueiras... No próximo número, trataremos de outra questão também importante antes de irmos para o módulo Advanced (que é o namoro em si).

***

*Todo o conteúdo do "Manual Morwen do Relacionamento Amoroso" é baseado em experiências pessoais, conversas, desabafos, crises de choro, etc. e não tem qualquer vínculo com qualquer sociedade científica, literária, política, ecológica ou de qualquer outro tipo. Não pretende tampouco ser qualquer tipo de auto-ajuda (pois está mais para auto-destruição) ou influenciar pessoas. O objetivo único dos textos aqui publicados é suscitar o questionamento acerca do comportamento humano de forma sarcástica e cruel.

quarta-feira, 13 de julho de 2005

O Manual Morwen do Relacionamento Amoroso - Parte III (Das Pessoas Toscas)

Finalmente eu arrumei um tempinho para continuar o Manual. Eu sei que muitos fãs estavam aguardando a publicação do curso intermediário e peço desculpas pela demora... Sem mais delongas, vamos ao que interessa...

***

INTERMEDIATE ONE: Das Pessoas Toscas

Pessoas Toscas (ou Semi-Toscas), também conhecidas por "pessoas médias", "pessoas medíocres" e outros nomes menos amigáveis, estão espalhadas pelo globo e têm comportamento de vírus (se reproduzem loucamente e atuam de forma degenerativa sobre os que merecem sobreviver). Com toda certeza do mundo, se você tem mais do que 12 anos, você já se deparou com uma Pessoa Tosca.

Quando eu disse que os feios, nerds, gordos e tímidos tinham vez, eu não estava brincando. Ao contrário do que se pensa, as pessoas "Menos F" não são necessariamente Pessoas Toscas (embora Pessoas Toscas possam ser gordas, feias, nerds ou tímidas. Elas estão em todo lugar!).

Vamos à nossa lição!

1) Como reconhecer uma Pessoa Tosca?
Uma Pessoa Tosca, em geral, sabe muito bem o que quer. E, com certeza, meu querido leitor, não é você o objeto de seu desejo.

A Pessoa Tosca não tem valores próprios e segue basicamente o que a mídia anda lhe ditando. Existem vários tipos de Pessoa Tosca, mas os mais comuns estão abaixo listados:

-
Pessoa Tosca Basic: é aquela que você encontra na balada e que só beija pessoas que se pareçam com algum ator de novela.
-
Pessoa Tosca Intermediate: é aquela que trepa com qualquer um de aparência aceitável que pague a conta do restaurante e do motel.
-
Pessoa Tosca Advanced: é aquela que fica atrás de jogadores de futebol e pagodeiros e tenta desesperadamente engravidar de um para ver se rola um casamento e/ou pensão.

Como o caro leitor pode notar, a Pessoa Tosca não é necessariamente "Menos F". Pelo contrário! A Pessoa Tosca está em todo lugar! E, pasmem, a maior parte da população da Terra é Tosca. A maior parte das pessoas vai atrás daquilo que lhe parece bom do ponto de vista da mídia (e não de seu próprio ponto de vista, que é algo que - teoricamente - você desenvolve a partir de experiência própria com algum questionamento e reflexão).

Assim sendo, as duas únicas soluções possíveis para as pessoas "Menos F" são:

a) Se tornar jogador de futebol ou pagodeiro (mulheres: continuem confiando no poder do álcool);
b) Encontrar uma Pessoa Não-Tosca ou, pelo menos, Semi-Tosca.

2) Como reconhecer uma Pessoa Semi-Tosca:
As Pessoas Semi-Toscas não são, obviamente, tão toscas como as Pessoas Toscas, mas vez por outra apresentam comportamento tosco.

-
Pessoa Semi-Tosca Basic: ela fica com você e nunca mais liga.
-
Pessoa Semi-Tosca Intermediate: ela te pede em namoro e nunca mais liga.
-
Pessoa Semi-Tosca Advanced: ela te pede em casamento e duas semanas depois te liga dizendo "você pode vir buscar suas coisas pois elas estão ocupando espaço?"

Basicamente o que define uma Pessoa Semi-Tosca é a sua incapacidade de decidir o que quer da vida e, enquanto isso, se diverte às custas dos que à sua volta estão. A Pessoa Semi-Tosca é como o adolescente que se apaixona mais pela sua própria capacidade de se apaixonar do que pelo seu (sua) companheiro (a). Enfim, a Pessoa Semi-Tosca só quer te usar para se sentir melhor, pois ela é incapaz de legitimamente desejar a felicidade do outro (a única que lhe interessa é a de si mesmo).

Pessoas Semi-Toscas são mais acessíveis do que Pessoas Toscas para nós, meros mortais. Com toda a certeza do mundo você já se deparou com uma delas.

Mas, se você não quer ser usado, chutado, desprezado ou simplesmente não quer perder o seu tempo, só lhe resta uma solução: a mais difícil de todas... Encontrar uma Pessoa Não-Tosca.

3) Como reconhecer uma Pessoa Não-Tosca:
A Pessoa Não-Tosca é mais difícil de ser reconhecida, pois ela se mescla às Pessoas Toscas com certa facilidade (ou migrou de vez para as montanhas e não pode ser encontrada de modo algum).

E, como estou com um trabalho pela metade, vou deixar isso para o próximo capítulo do Manual :)

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*Todo o conteúdo do "Manual Morwen do Relacionamento Amoroso" é baseado em experiências pessoais, conversas, desabafos, crises de choro, etc. e não tem qualquer vínculo com qualquer sociedade científica, literária, política, ecológica ou de qualquer outro tipo. Não pretende tampouco ser qualquer tipo de auto-ajuda (pois está mais para auto-destruição) ou influenciar pessoas. O objetivo único dos textos aqui publicados é suscitar o questionamento acerca do comportamento humano de forma sarcástica e cruel.

quarta-feira, 6 de julho de 2005

O Manual Morwen do Relacionamento Amoroso - Parte II (Da Arte de Flertar)

Para os mais jovens:

Flertar (verbo) = xavecar, dar em cima, azarar.

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BASIC TWO: Da Arte de Flertar

Para muitos de nós, este é um estágio bastante complicado do relacionamento amoroso. Particularmente complicado para os tímidos, para os muito tímidos, para os feios e para os nerds. Aplicando o que se aprendeu do capítulo anterior, flertar é algo que representa uma enorme barreira emocional (e às vezes física) para mulheres "Menos F" e para homens "Sem Pinto" (e, em alguns casos, para os "Namoráveis" também), na busca de um relacionamento amoroso (é, ainda nem chegamos lá...)

Ao contrário do que se pensa, flertar não é uma arte. Não é necessário talento ou técnica.

Primeiramente precisamos definir quais são os objetivos que temos em mente ao flertar. Como estamos em um curso básico, estabelecerei dois deles: 1. beijar e/ou transar (que são quase a mesma coisa) e 2. namorar.

1) Para beijar e/ou transar:
Para conseguir um beijo, é muito fácil. Basta seguir meu método ultra-exclusivo e patenteado:

Se você for mulher, vá para a balada e pergunte para o primeiro que aparecer: "Oi. Quer me beijar?" ou "Oi. Quer me comer?".
O método é infalível. Basta você ter bastante paciência, não desistir depois de levar um fora (outra frase patenteada usada neste caso é "hmm. Azar o seu. Não sabe o que está perdendo"), ou dois, ou três, ou setenta e oito, e acreditar no poder do álcool.

Agora, se você for homem, as regras mudam...

- Se você for do tipo "comestível", pergunte: "Oi, você vem sempre aqui?", ou "Você se machucou quando caiu do céu?", ou "oi, quer teclar?", ou "oi, eu gosto de jiló". Não importa. Tudo o que você disser será lindo e você conseguirá seu beijo, sua trepada, um telefone e mais uma pessoa no seu banco de reservas para o resto de sua vida.

- Agora... se você não é lá uma Brastemp, você pode até tentar mostrar seus dotes etiquetísticos ou discorrer sobre algum assunto que interesse à pessoa. No máximo, você consegue um telefone falso. Mas, se acreditar no poder do álcool, talvez você se dê bem.

- Agora... se você é um ogro, desculpe. Nem o álcool salva, meu amigo. Você pode ser o maior cérebro pensante do mundo, o cara mais gente boa, o mais gentil e cavalheiro. No way. A melhor cantada do mundo vai ser um lixo. Desista.

2) Para namorar:
Bom, agora as coisas se complicaram, não?

Por um lado sim, mas por outro não. Porque aqui os feios têm salvação! Feinhos (as), nerds, gordos (as), tímidos, ogros e ogras: não se preocupem! Tia Morwen vai salvar vocês! Entretanto, para entrar nesta categoria de flerte, será necessário fazer o módulo intermediário. Aguardem as próximas publicações.

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*Todo o conteúdo do "Manual Morwen do Relacionamento Amoroso" é baseado em experiências pessoais, conversas, desabafos, crises de choro, etc. e não tem qualquer vínculo com qualquer sociedade científica, literária, política, ecológica ou de qualquer outro tipo. Não pretende tampouco ser qualquer tipo de auto-ajuda (pois está mais para auto-destruição) ou influenciar pessoas. O objetivo único dos textos aqui publicados é suscitar o questionamento acerca do comportamento humano de forma sarcástica e cruel.

segunda-feira, 4 de julho de 2005

O Manual Morwen do Relacionamento Amoroso - Parte I (Das Categorias)

De vez em quando me acontece isso. Eu viro conselheira sentimental da galera... Para economizar tempo no MSN, vou escrever um breve manual do relacionamento amoroso aqui neste blog. Não tenho a pretensão de escrever qualquer tipo de auto-ajuda, mas espero que - pelo menos - isto seja encarado com muito bom humor e lhe renda boas risadas :)

***

BASIC ONE: Das Categorias

Tanto homens como mulheres dividem seus opostos em categorias, que - coincidentemente ou não - são bastante parecidas... Como homens, em geral, são organismos mais simples do que as mulheres, comecemos por eles.

(Mulheres: preparem-se para a revelação! Diretamente do blog da Morwen, como os homens nos vêem!)

Como os homens categorizam as mulheres:
Os homens, em geral, dividem as mulheres em duas categorias básicas: as "mais F" e as "menos F". Entendamos:

1) Categoria "Mais F": aplica-se a mulheres bonitas e gostosas, com diferentes gradações:
- "+ 1 F": Fodia
- "+ 2 F": Fodia Fácil
- "+ 3 F": Fodia Fácil e FORTE!
... e assim por diante...

2) Categoria "Menos F": aplica-se a mulheres não bonitas e não gostosas, também com diferentes gradações:
- "1 F negativo": uma Fronha para colocar na cabeça da mulher (feia de cara, mas boa de corpo)
- "2 F negativo": duas Fronhas. Uma para colocar na cabeça da mulher e outra na sua própria (nem o corpo salva)
- "3 F negativo": três Fronhas. Uma para esconder a cara da mulher, outra para colocar na sua própria cabeça para não ver o corpo dela e outra para colocar na cabeça do seu cachorro (para você ainda ter moral para dividir a casa com ele)
... e assim por diante...

Ambas as categorias podem ter infinitos "F"s, dependendo da mulher a ser avaliada.

Como as mulheres categorizam os homens:
Mulheres não são menos cruéis ao categorizar homens não.. Em geral, nós dividimos os homens em três categorias: os comestíveis, os namoráveis e os sem pinto.

1) Categoria dos "Comestíveis": um homem comestível é aquele que você vai adorar exibir para suas amigas e fazer a inveja da mulherada. Ele deve ter um rosto de fazer parar o trânsito, um corpo de nadador (ciclista também passa), um carrão, um pintão e uma conta bancária bem sarada. Não precisa ter cérebro nem outras coisas menos essenciais.

2) Categoria dos "Namoráveis": o namorável, diferentemente do comestível, não precisa ter cara de modelo nem corpo de nadador. Basta que ele não lhe seja repugnante. Entretanto, o homem namorável deve ter uma série de outras qualidades que o homem comestível dispensa. O namorável deve ser atencioso, carinhoso, cavalheiro, gentil, bom caráter, educado, inteligente, esforçado, e, de quebra, te fazer feliz na horizontal.

3) Categoria dos "Sem Pinto": aqui entram os amigos muito próximos (aqueles que você leva no shopping para fazer compras com você e fala de TPM como quem fala de meteorologia), aqueles que não te atraem de jeito nenhum e os gays (se você não tiver nenhum tipo de distúrbio mental que a faça crer que sua missão na Terra é "reconverter" os gays).

OBSERVAÇÃO: homens também dividem as mulheres em namoráveis e comestíveis, mas isso é secundário, pois mesmo as namoráveis devem estar na categoria "Mais F".

Conclusões
Mulher: se você é feia de cara, malhe MUITO e fique gostosa. Talvez você consiga, com alguma plástica, maquiagem e álcool entrar no time das "Mais F" (ainda que temporariamente) e não precise entrar para o convento ou estudar pedagogia.

Homem: se você não é nenhum deus grego e não liga muito para ser atencioso ou educado, está perdido. Você é praticamente um eunuco social e a sua única salvação é ficar muito rico.

***

Como eu disse, isto é uma brincadeira! :) Então vamos rir dos estereótipos sociais e analisar como o ser humano é um bicho tosco. Ao invés de dar um tiro na cabeça, dê risada!

*Todo o conteúdo do "Manual Morwen do Relacionamento Amoroso" é baseado em experiências pessoais, conversas, desabafos, crises de choro, etc. e não tem qualquer vínculo com qualquer sociedade científica, literária, política, ecológica ou de qualquer outro tipo. Não pretende tampouco ser qualquer tipo de auto-ajuda (pois está mais para auto-destruição) ou influenciar pessoas. O objetivo único dos textos aqui publicados é suscitar o questionamento acerca do comportamento humano de forma sarcástica e cruel.

quarta-feira, 29 de junho de 2005

No bode pós-formatura

Quando me disseram que eu devia tirar uns 8 ou 9 meses de férias, eu não acreditei. Claro. A gente termina o curso cheio de sonhos... de que finalmente vai ter tempo para fazer aquele curso de violoncelo, de que vai poder trabalhar mais horas no dia e deixar de ganhar salário de fome, de que vai conseguir enfim concluir o bendito curso de francês, de que vai poder voltar a fazer exercícios físicos regularmente... No final das contas, depois de um mês ou dois, bate um BODE!

Parem o mundo que eu quero descer. Quero ficar mais uns 3 meses (pelo menos!) jogando Phantasy Star (é. Aquele do Master System) e almoçando sanduíche.
Quero poder dormir com meu namorado todos os dias. Quero acordar às 14h pro resto do ano. Quero dar aquela mochilada pela Ásia. Quero fazer aquele curso de violoncelo, aquele de corte e costura e aquele de decoração de interiores. Quero pintar umas 30 telas. Quero ter a cara de pau de ir no massagista e dizer que estou quebrada. Quero ir no cinema e esgotar a programação de São Paulo. Quero ver João Kleber e todos os seriados americanos da TV a cabo. Quero poder escolher se vou de manhã ou à tarde no dermatologista, cardiologista, figadista, estomaguista e todos os outros istas. Quero alugar todos os filmes da locadora (menos os de terror). Quero ler um monte de best-seller, de auto-ajuda e de infanto-juvenis. Quero poder ficar 3 dias seguidos sem fazer ABSOLUTAMENTE NADA e não me sentir nem um pouco culpada por isso...

...Sem pensar no trampo novo que começa na semana que vem. Sem pensar no projeto de mestrado que não escrevi. Sem pensar no trabalho da matéria da pós que não tem nem forma, nem processo social ou sequer um arquivo *.doc...

Como é foda ficar velha.

Meninos que estão prestando vestibular, bixos ou semi-bixos: façam uma "poupança-bode". Isso mesmo. Comecem a guardar dinheiro AGORA para o bode pós-formatura. Algo suficiente para mantê-los sem fazer NADA por um ano ou dois. Vocês vão se agradecer muito.

terça-feira, 21 de junho de 2005

O peso social da idade

Na semana passada levei bronca da ginecologista porque o último ultra-som que fiz dos peitos (ou de onde eles deveriam existir) foi há mais de 10 anos. Suas palavras foram: "Na sua idade, não dá para bobear não! Tem que fazer uma vez por ano, pelo menos, viu?". Pronto. Agora está atestado, com CRM e tudo o mais, o que meu corpo já sentia: estou velha.

O pior de tudo não é saber que suas articulações não funcionam como antes, que sua tolerância à dor diminuiu ou que você não pode mais ficar 10 anos sem fazer ultra-som nos peitos. O pior de tudo é o peso social que isso tem.

Meu último post todo feliz foi uma ode à não-responsabilidade. E recebi tanto aplauso por ele que me sinto até culpada por me sentir culpada por estar velha.

Meu cérebro está absolutamente travado. Sinto uma carga tão grande sobre mim que, mesmo com bastante tempo, estou simplesmente incapaz de produzir um trabalho para uma matéria de pós-graduação. Quem dirá um projeto de mestrado. Eu achei que tinha um tema, mas não tenho mais.

Essa liberdade toda está me afligindo. Meu enorme problema é que são tantas as possibilidades que eu não consigo vislumbrar uma. Por que a professora não deu um trabalho do tipo "discorra sobre a relação do narrador com o protagonista no romance X"? Por que toda essa liberdade?! Agora eu não sei o que fazer. E o tempo corre. E as coisas urgem. E eu me sinto um lixo porque não consigo deixar de olhar para o papel em branco. E me sinto mais lixo ainda porque não posso culpar nada fora de mim para justificar meu papel em branco. Não estou trabalhando, não estou fazendo 800 créditos na faculdade, não estou sustentando ninguém. E não posso culpar o mundo pela minha própria incapacidade de produzir alguma coisa frutífera.

E nada disso estaria acontecendo não fosse o peso social da idade.

O pior de tudo: não são os outros que estão cobrando. Sou eu mesma. A pior, mais implacável e mais cruel cobradora de todas. Eu.

Eu odeio saber que me vendi a uma ideologia podre. Odeio me sentir culpada por não estar produzindo nada. Odeio não saber o que estudar e ficar perdida que nem filha da puta em dia dos pais para lá e para cá sem chegar a lugar algum. E odeio quem, aos 7 anos de idade, já sabia o que fazer, fez e está feliz. E odeio mais ainda esses putos que, aos 26, são doutores. O que um puto, aos 26 anos, sabe do mundo para ser doutor?! Por conseqüência, odeio as instituições que financiam a pesquisa e que fabricam doutores de 26 (pois aos 30 já estamos senis), para contabilizar mais números para o país e deixar os mesmos putos desempregados porque a hora de um mestre é mais barata que a de um doutor.

Volto a trabalhar em julho ainda. Para poder culpar o novo emprego pela minha incompetência intelectual.

quarta-feira, 15 de junho de 2005

De férias, sem um pingo de culpa

A velha dicotomia do tempo x dinheiro tem sido, pela primeira vez na vida, um empecilho muito pequeno para eu me arrepender de estar em férias permanentes (vulgo desempregada). Agora sim estou fazendo o que sei de melhor: ficar em férias.

Algumas pessoas entram em pânico à mera visão do "não ter o que fazer". Eu não me conformo com isso. Passam 360 dias no ano reclamando que estão atolados e, nos 5.25 que lhe restam, reclamando que "não têm o que fazer". O que esse povo quer, afinal de contas? Não dá para entender...

Quando eu digo que não vim a este mundo a trabalho, mas sim a turismo, as pessoas riem e não me levam a sério. Ora. Existem pessoas que não nasceram para estudar, mas fazem faculdade por mera imposição de classe. Existem pessoas que não nasceram para a música, mas estudam piano por mera imposição de status. E existem pessoas que, como eu, não nasceram para acumular capital, mas o fazem por mera imposição social. O que há de errado em acumular capital por três meses e folgar um? Não estou sendo condizente com o mito burguês?

Os burgueses uma vez inventaram o mito de que "o trabalho enobrece", simplesmente porque eles morriam de inveja dos nobres e da gentry, que não precisavam trabalhar e viviam de renda. Tão ridículo quanto acreditar em I-Ching ou que leite com manga faz mal é acreditar que o trabalho enobrece. Nada mais é que um mito burguês que fomos levados a comprar desde uma suposta Revolução Francesa, que pregava liberté, égalité et fraternité, mas só para poucos pois alguns sempre foram mais iguais que outros.

Eu quero que o enobrecimento e a igualdade vão para a merda. Estou folgando sim. E, se eu pudesse, eu ficaria assim para o resto da minha vida. Sem um pingo de culpa.

No meu quase um mês de férias, eu ousei.

-Eu ousei não acordar antes do meio-dia.

-Eu ousei voltar a praticar exercícios físicos no meio da tarde.

-Eu ousei fazer macarrão ao alho e óleo (com supervisão, logicamente).

-Eu ousei escrever cartas.

-Eu ousei assistir filmes.

-Eu ousei ler livros.

-Eu ousei andar de ônibus pelo simples prazer de ver a cidade.

-Eu ousei observar as pessoas na Av. Paulista.

-Eu ousei pintar uma tela (experimentando, inclusive, textura com óleo e acrílica - tudo na mesma tela) para presentear uma pessoa especial (e não para acumular pó na minha sala).

-Eu ousei VIVER que nem gente e sem nem precisar ligar a televisão.

Aos que me criticam por ousar sair da ordem (mesmo sem sair, porque já estou procurando emprego de novo, para agosto): morram de inveja. Sua ordem é caos. E é ilusória. Quando você vai aproveitar a vida? Depois da aposentadoria? Hmm... Más notícias. Aposentadoria é uma instituição que deve falir antes de chegarmos lá.

Eu sou mais igual que os outros porque posso ousar? Provavelmente.

Não estou dizendo que o trabalho é ruim. De modo algum. Algumas pessoas se realizam em seus empregos. E ter o seu no final do mês é sempre bom. Mas não pode ser bom se não for bem gasto. Vale um surto para comprar um CD da Ella Fitzgerald por $7,90 na Rua Direita. Vale uma viagem para Guarapari. Vale um bilhete único para ver o movimento da cidade num dia nada a ver. Vale botar gasolina no carro para atravessar a cidade para dar um beijo na namorada. Vale até a economia maluca para comprar o seu apartamento.

Mas não vale a úlcera, a pressão alta ou a depressão.

Esses empregadores vêm com discursozinho de "estou fazendo o favor de te empregar" e nós, trouxas, acreditamos nisso. Bullshit. Ninguém é insubstituível, mas ninguém é desprezível a este ponto. Eu ouso pedir demissão e escolher outro senhor a quem esta escrava há de servir. E não tenho um pingo de culpa. Até meu próximo senhor, um abraço pois estou de férias. Viva o fundo-férias. Viva guardar (pelo menos) 20% dos meus ganhos todo mês para poder recusar o enorme favor que fazem de me empregar.

Agora vou ler meu livro novo de $9,35 que chegou hoje e vou dormir quando eu quiser. Porque estou de férias até acabar meu fundo ou até outro senhor me fazer o enorme favor de me empregar.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Dia dos Namorados

Dia dos Namorados. Mais uma data comercial. Criada racionalmente pelos marketeiros para acontecer justamente na época do ano em que as vendas, historicamente, caem.

É?

Comercial ou não, já notaram a quantidade de namoros e casamentos que se desfazem na época que precede esta data? Quem nunca levou um pé na bunda às vésperas do Dia dos Namorados e não deu graças aos céus por ter deixado para comprar o presente na última hora?

De onde concluo que, data comercial ou não, a maior função do 12 de Junho é fazer as pessoas repensarem suas relações. Talvez porque a pessoa não vale aquela câmera digital ou aquele casaco suuuuuuuuper legal de camurça.

Eu, pessoalmente, gosto de comemorar datas. Não por elas serem motivos para dar presente (esses não precisam de motivo), mas por proporcionarem esta oportunidade de repensarmos nossos passos e fazermos novamente a escolha de estarmos ou não com aquela pessoa. Eu sei que estas são escolhas que fazemos diariamente, mas é legal ter um ritual de vez em quando. Às vezes o mundo vem e nos engole e arrumamos mil desculpas para não fazermos escolhas.

Não adianta fugir. Até ficar na mesma é uma escolha.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Tomboy

Há 2 anos, meu kit de sobrevivência para passar uma noite fora de casa consistia em: uma calcinha e um hidratante vagabundo.

Hoje, o mesmo kit MÍNIMO contém: várias mudas de roupa (para todas as ocasiões e todos os climas) com opções de sapato, batom, rímel, lápis de olho, demaquilante para rosto e olhos, creme anti-idade para a área dos olhos, creme anti-idade para mãos, creme anti-idade para o rosto com FPS 15, hidratante para o corpo, escova de dentes e cabelo, desodorante, pinça, gel para os pés e remédios cotidianos.

Duas razões:

1) Eu estou chegando nos 30, me vendi ao capitalismo e almejo o ideal de beleza ditado pelo mundo do consumo. Sem hipocrisia. Enquanto eu me sentir feliz assim, a felicidade ilusória do consumo é REAL, ainda que questionável. Questionável porque ela é uma OPÇÃO, não uma obrigação (como muitos acreditam).

2) Ser mulher é uma delícia.

Ser mulher é muito bom... Não precisamos ser masculinizadas ou maltrapilhas para sermos fortes. Algumas pensam assim. Eu pensava assim. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que minhas fraquezas são em si uma fortaleza?

sábado, 4 de junho de 2005

Esse mundo não cansa de me surpreender

Ele, garotinho de 6 ou 7 anos em S. J. do Rio Preto, um belo dia beijou uma garotinha e foi perseguido por pai enfurecido, de chinelo na mão. Garotinha beijada de 7 anos cresce e descobre o IRC. Conhece Morwen no canal #loucosdosampa, da undernet e ficam amigas em 97. Todos crescem mais um pouco. Morwen, em 2003, vai cadastrar o Odds and Ends no BlogList. Clica nos Top 5 e, como quem não quer nada, entra no blog do garotinho que cresceu. Morwen se assusta ao ver posts decentes e manda um comentário para o menino de nome Daniel. Morwen e Daniel estudam na USP e resolvem se encontrar. Muita confusão, negação e aceitação depois, Morwen e Daniel decidem acertar os ponteiros do relógio e começam a namorar. Pouco mais de um mês depois do primeiro beijo de Morwen e Daniel, uma amiga de longa data, do IRC, decide vir passar um fim de semana em São Paulo.

O resto fica por conta da imaginação dos nossos caríssimos e fiéis leitores!

Moral da história: A FILA ANDA.

Dani, eu te amo e não tenho ciúme do seu passado :) Sem ele vocë não seria a pessoa maravilhosa que é hoje! Dudz, PERDEU! A fila andou!!! ahahahahahah Te adoro, mulheeeeer!!

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Efeito OMO, de novo

Fazia tempo que não rolava um efeito OMO (branco total) nas minhas postagens... Antes era falta de tempo. Agora, é branco mesmo.

Só para prestar contas:

1) Saí do trampo. Mesmo.

2) Fui chamada para uma aula-teste no Estafa (amanhã de manhã), mas não tive muito saco para preparar a aula

3) Voltei para a academia

4) Acho que estou estressada. Muito sono a dormir e tão pouco tempo!

5) Quase defini meu tema para o mestrado

6) Estou nas nuvens.

terça-feira, 24 de maio de 2005

O Mundo Cão

Arrogância à parte, é foda ser foda.
O mundo vem e te engole. E nem quando você QUER tirar uns meses para fazer nada, não te deixam.

Hoje fui pedir as contas, de novo. E, de novo, me fizeram uma contra-proposta. Aumento salarial significativo que é bom, nada. E ainda me inventaram que eu tenho que dar aviso prévio, sendo que eu assinei um contrato de temporária não sei quanto tempo atrás e ninguém me avisou que o contrato foi renovado automaticamente mas que agora eu tenho que dar aviso prévio ou indenizar a empresa! Tem algum advogado trabalhista aí dando consultoria de graça? Ou um psiquiatra que ateste que eu sou emocionalmente instável?

Enfim, vou sair. Eu já até esvaziei minhas gavetas. Acho que vou ter que começar um processo de sabotagem descarada para ser mandada embora (aí não tem essa putaria de aviso prévio).
E a fila anda, né? Hoje também fui fazer prova num processo seletivo para professora no Colégio Etapa. Só de ter meu currículo selecionado sem ninguém me indicar eu já fiquei feliz! Se eu passar desta fase e for chamada para entrevista, eu já posso atestar que sou foda.

Da pós-graduação, tudo zoado. Não tenho tempo (nem cabeça) para estudar, para fazer trabalho, para pensar no projeto e não tenho orientadora também. Todas as vagas para 2006 já estão preenchidas e as pessoas vão só formalizar a situação. E eu entrei na fila. Ou seja, perspectivas quase nulas de bolsa. Lado bom: vou fazendo o mestrado por fora e quando eu entrar é só cumprir crédito e defender, sem os prazos me comendo. Lado ruim: vou ter que trabalhar mesmo...

Preciso ganhar na loteria urgente.

De resto, tudo vai bem. Tudo vai maravilhosamente bem.

A escada do Pai Mei nem era tão alta assim. Era. É. Mas, sem perceber, eu já subia os degraus há muito tempo.

Acabou o silêncio. Tudo grita.

Daniel, obrigada por existir. Você dá sentido e cor à minha vida e me faz perceber que minha caminhada até aqui não foi em vão. Se não te reconheci antes, me perdoe. Eu tive medo. Eu tive medo de ser feliz e tive medo de não poder mais colocar obstáculos no meu próprio caminho para ter dó de mim mesma. Agora não tenho. Daqui pra frente, os degraus ficam mais largos e menos altos porque você está do meu lado. Espero que não fique puto com a declaração pública, mas eu não tenho nada a esconder de ninguém. O post de hoje foi pessoal e o que diz respeito à minha vida pessoal não poderia fechar sem uma palavrinha para a pessoa maravilhosa que você é. Você é TUDO pra mim. Obrigada por fazer parte da minha vida.

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Balaio de gato

Para quem me entendeu mal, estou muito longe de estar silenciosa por estar mal. (Veja o Sux-O-Meter ao lado). Estou silenciosa porque o que eu tenho a dizer é especial demais para ser gritado aos quatro cantos do mundo (se é que o mundo tem cantos)...

Eu passei algumas semanas de muita correria :) Tanto do coração como no trabalho. Do coração, eu vou continuar com o suspense. Mas no trabalho foi embaçado. Minha empresa participou do evento
FEIMAFE na semana passada (por isso também a ausência). Acho que fomos bem. Tirando trabalhar 12h-14h por dia de pé, no salto, ter perdido as costas e os joelhos, acho que foi uma experiência legal.

Taí. Eu nunca achei que fosse me empolgar trabalhando no Depto. Comercial. Descobri até que eu levo jeito para a coisa. E eu que achava que os testes vocacionais tiravam uma com a minha cara quando dava "administração"...

Mas, para não deixar o blog na saudade, vou aproveitar e responder à enquetezinha do
Wise Up! Give Up!

1- Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Tirando o fato de que não faço idéia do que seja o Fahrenheit 451, eu seria O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel García Marquez).

2 - Já alguma vez ficaste apanhadinha (o) por uma personagem de ficção?
Vários. Aragorn, do Senhor dos Anéis (J. R. R. Tolkien), quando eu tinha 14 anos. E, lógico, Mr. Darcy, de Pride and Prejudice (Jane Austen).

3 - Qual foi o último livro que compraste?
Dombey and Son (Charles Dickens).

4 - Qual o último livro que leste?
Mansfield Park (Jane Austen).

5 - Que livros estás a ler?
Dombey and Son (Charles Dickens), The Country and the City (Raymond Williams), Far From the Madding Crowd (Thomas Hardy) e tentando arrumar tempo para recomeçar A História Sem Fim (Michael Ende) porque ninguém merece só ler coisa para a faculdade.

6 - Cinco livros que levarias para uma ilha deserta:
Puxa vida. Ficou difícil! Só cinco? Hmm... Acho que eu levaria os grandes clássicos que ainda não li. Dom Quixote, A Divina Comédia, Crime e Castigo... E estabeleceria a prioridade por número de páginas: os maiores antes, já que eu morreria de tédio e solidão numa ilha deserta. Mas na hipótese de ter outra certa pessoa comigo nesta ilha deserta, talvez eu não levasse nenhum.

7 -Três pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?
Todo mundo. Porque eu ainda não vou contar o que está acontecendo na minha vida e o blog não pode morrer, ué. E o suposto "porquê" da pergunta deveria ser "por quê".


PS. VALEU, BLOGLIST!!!

quinta-feira, 5 de maio de 2005

Quando tudo o que eu digo é pouco

Acho que nunca antes tive esta sensação. A de que tudo o que eu disser é pouco... Sempre fui uma pessoa extremamente falante (ao ponto de "cala a boca, Patrícia" me soar normal), nem sempre com conteúdo, confesso. As palavras sempre urgiram para sair de um modo ou de outro.

Mas agora, palavras nunca vão bastar. Tudo o que eu disser será pouco.

Desculpem o meu silêncio. Aqui dentro tudo grita. Quero gritar para o mundo. Mas ainda não dá.

Falta mais um degrau.

Só mais um.

(Silêncio!)

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Espelho

Um grão de areia no oceano
Uma gota d'água no silício.

Sol. Chuva. Vento.
Tsunami na Ásia.
Há uma guerra entre os humanos
e alguma paz para os que não vêem.

Até que a maré suba.

[Patrícia Arima - Maio/2005]

quarta-feira, 27 de abril de 2005

A Dor

Algumas pessoas têm medo da dor. Sei lá. Eu acho que ela nos faz ver que estamos vivos também. Não sou masoquista nem nada do tipo, mas prefiro a dor ao nada.

Para quem não está acompanhando a novela, acho que fica mais fácil dizer que terminei meu namoro. Nem sei se eu deveria estar escrevendo ou expondo a dor. Mas se o papa pode, por que eu não? E o blog é meu. Lê quem quer.

Não ouvi críticas. Não ouvi merda de ninguém. Acho que é porque tomei a decisão certa. Mesmo no amor temos que ser razoáveis. Não digo que devemos agir racionalmente. Mas sermos razoáveis. Mesmo gostando muito da outra pessoa. Quando começamos a nos destruir, estamos destruindo a outra pessoa também. Eu já vi esse filme e já sei o final. Toda concessão grande demais (as pequenas, que não mudam nossa essência, a gente faz com prazer), pelo menos no meu caso, vira ressentimento. Eu me conheço o suficiente para saber que não consigo arcar com uma concessão que tire a minha individualidade.

Quem esteve próximo a mim nos últimos 10 anos, viu o quanto eu batalhei para chegar onde estou. Viu o quanto de dificuldade que eu tive que enfrentar (interna e externa). Viu meus não-sei-quantos anos de terapia. Viu quando eu saí de casa. Viu quando eu voltei. Viu quando eu desisti da USP. Viu minha depressão. Viu quando eu voltei. Viu o quanto foi difícil (um pouco mais no meu caso) acertar meus objetivos de vida, saber para onde vou e o que quero para o meu futuro. Meu futuro não é absoluto, nem inflexível. Mas, de modo algum, ele será moldado por outra pessoa que vai me deixar sozinha quando eu mais precisar dela.

Eu não abro mão de quem eu sou. E ponto final.

Sei que fiz tudo o que eu podia. Fiz além do que eu podia. Não sinto um pingo de culpa. Não sinto que o abandonei. Ele me abandonou antes. Eu só parei de correr atrás. Talvez a minha culpa seja não ter avisado que minhas concessões eram concessões. Eu odeio jogar na cara coisas do tipo "fiz isso por você", mas acho que devia ter jogado. A pessoa se acomoda e começa a achar que suas concessões são "naturais".

"Natural" é quando eu falo palavrão. É quando o escorpião sai da toca e mostra o ferrão. "Natural" é quando eu devolvo o tapa que eu recebo ao invés de sorrir para agradar sabe se lá quem. "Natural" é fumar dois maços de cigarro por dia e mandar tomar no cu quem vier encher o saco. "Natural" também é ficar dormindo se estou com sono.

NÃO ME É "NATURAL" ABRIR MÃO DISSO. Mas eu abro. Eu também tenho um lado muito romântico, meigo e doce. Mas não é meu único lado, caralho. Uma vez eu vi um adesivo de pára-choque que era a minha cara:
"51% sweetheart
49% bitch
Don't push"

Eu não sou uma pessoa egoísta. Mas seja egoísta comigo e vai ter uma pessoa extremamente egoísta ao seu lado. Ainda que por pouco tempo, porque uma hora eu me toco e vou embora.

Eu me envolvo. Eu me jogo de cabeça. Eu não sei karatê. Eu não sei deixar o pé atrás. Mas não me deixe do lado de fora do seu castelinho de pedra porque eu não sei esperar (ainda mais pelo incerto). Uma hora eu me convenço de que não sou bem-vinda. E nessa hora, adeus. Independente de sentimentos, adeus.

Sei lá. Já estou craque em abrir meu peito para o nada. Não é a primeira vez e não sei se será a última.

Mas eu não desisto não. Sabe por quê? Porque eu não tenho medo de dor.

Viver implica correr riscos. Quanto maior o risco, maior a recompensa. Quem fica enclausurado com medo da dor também tem medo de ser feliz.

hehehe isso está parecendo o programa de auto-ajuda que eu ouço de vez em quando na rádio quando estou indo para o trabalho... Viva não ter ido trabalhar hoje para chorar a noite e o dia inteiro. Amanhã eu vou. Fone de ouvido e telefone fora do gancho. Talvez MSN desligado. Mas a vida continua e amanhã eu vou trabalhar. Hoje bati nos 36,5kg. Amanhã eu volto a comer também. Acabou a dieta da dor. Embora ela fique ali... persistente... aguda... uma hora vai cicatrizar... deixar uma marca... e passar.

Acho que vou ao cabeleireiro também. E fazer compras.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Perdi minha poesia

Era uma vez uma menina poeta que não sabia que era poeta.
Passeou pela música, pelas tintas e pelos espinhos.
E não sabia que era poeta.

Um dia, juntou os papéis com tinta borrada e marcas de copo de cerveja.
No outro dia, organizou tudo e criou um arquivo.
No terceiro, entrou um ladrão em casa. E levou sua poesia.

Para nunca mais ser lida...

E a menina ainda não sabe que é poeta.

domingo, 17 de abril de 2005

Stand by

Talvez eu compre uma bicicleta. Talvez eu me mude para Corumbá. Talvez eu fique mulher-escritório para sempre. Talvez eu precise de um plano odontológico. Mas talvez, eu só precise de um bom livro.

Odeio perder o controle da minha vida.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Cidadão Kane, macacos e outras considerações

Estou lendo um livro chamado "Ria da minha vida, antes que eu ria da sua", que o Dani me emprestou. É um livro bem-humorado que me ensinou ótimas técnicas para ser mandada embora. Eu utilizei a melhor delas: a do macaco. Ela consiste em sugerir ao seu diretor do departamento pessoal que empreste um macaco do zoológico e ensine-o a fazer o serviço de corno que ele está tentando te passar (descrita de forma muito mais educativa e engraçada no livro, lógico). Eu floreei a técnica ao acrescentar que um macaco seria um ótimo investimento para a empresa, uma vez que ele trabalharia pela metade do meu salário, com o dobro de eficiência e 5 vezes mais felicidade e satisfação.

Enfim. Não deu certo. Não me mandaram embora. Mas saiu melhor que a encomenda. A partir de ontem estou desobrigada a aceitar os trabalhos de corno que me passam, tenho carta branca para tomar qualquer atitude que possa vir a aumentar os lucros da empresa, tenho objetivos claros e específicos, não tenho mais que fingir que não bato mais o cartão e peço para os outros fazerem isso por mim (porque eu falei isso na cada dele), não tenho mais chefe e meu salário será renegociado.

Lição de moral: nunca tenha medo de rodar a baiana. Se você for o que eles estão procurando, eles farão de tudo para você ficar (mesmo usando os termos "estou pouco me fodendo", "trabalho de corno", "porra de ponto que fica na puta que pariu", "inútil" e "idiota").

Mas o que Cidadão Kane tem a ver com tudo isso?

Na verdade, nada. Mas eu precisava expressar a imensa surpresa que acomete meu ser quando as pessoas admitem nunca terem assistido esse filme. Eu assisti umas 15 vezes (das quais eu dormi 3, mas tudo bem) e é sempre um novo filme, com novas possibilidades. Assim, para quem tem a pachorra de nunca ter assistido Cidadão Kane, é lição de casa. Não é um filme "legal". Não tem perseguição. Não tem assassinato. Não tem explosão. Nem gente pelada tem. Mas é lição de casa e ponto final.

Agora que eu tenho trabalho para fazer e posso recusar trabalho de corno, volto mais feliz para a minha cadeira que dá dor nas costas, para a rotina estúpida da mulher-escritório, para a manicure e pros meus cremes anti-rugas. Acho até que vou ficar loira essa semana.

E toda a teoria do "te dou um pequeno aumento no salário e triplico o seu trabalho para você ir ficando na empresa" se confirma.

A mulher-escritório agora pode trocar o som do carro. E junta mais rápido uma graninha para poder largar o escritório e se dedicar somente à pós-graduação...

segunda-feira, 4 de abril de 2005

[Motosserra Mode On]

“Apesar do sucesso, o filme tem um erro no título: Tom Cruise NÃO é o último samurai
Um alemão com roupas camufladas e brandindo uma espada samurai atacou pelo menos sete pessoas em um bosque no oeste de Berlim, mostrando truques com a espada antes de mandá-los embora do local. A informação foi divulgada nesta sexta pela polícia local.” (
fonte)

Aparentemente, não sou só eu que estou em modo motosserra de funcionamento...

Aliás, já passei do modo motosserra. Entrei em modo lança-chamas.

A rotina de uma vida odiosa faz com que ignorantes sejam criados. Eu já estou começando a acreditar que a força bruta, o extermínio e o massacre sejam o melhor para a sociedade. Pedi um lança-chamas de presente de aniversário. Que se danem as diferenças, que se danem os famintos e os doentes. Mata todo mundo. Mata motoqueiro. Mata gente que anda no meio da rua. Mata os idiotas. E PRINCIPALMENTE os desafinados com microfone!

Me sinto numa TPM constante. Acho que desde a época da Fisk que eu não me sentia assim. É horrível. Eu odeio me sentir assim.

Não aguento mais paliativos. Preciso mudar de vida. URGENTE.

quinta-feira, 31 de março de 2005

Alternativas invisíveis

Tirando a morte, eu acho não existe nada que não possa ser consertado nesta vida.

Não sei por que cargas d'água enfiamos a estaticidade das coisas na cabeça. As coisas não são absolutas. Sempre existem alternativas. O que acaba tornando as coisas absolutas é o medo.

O medo congela.

O medo paralisa.

E o medo não deixa o homem-escritório saber que ele está morrendo de medo.

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Edit: Blog agora com Sux-O-Meter (medidor de SUX), patrocinado por Dani.

segunda-feira, 28 de março de 2005

Cadê minha identidade?

Acho que cada vez mais estamos perdendo a identidade no mundo contemporâneo. Ninguém sabe muito bem a que viemos e para onde vamos. Mas isso ninguém nunca soube mesmo. O problema é que hoje não nos importamos mais.

Quando eu era adolescente, as minhas questões iam desde "o que vou ser quando crescer?" até "o sistema capitalista vale a pena?". Hoje as pessoas são criadas e educadas para se perguntarem, no máximo, "com que roupa eu vou?".
Mesmo não tendo chegado a conclusão nenhuma sobre nada, o questionamento em si já é alguma coisa.

É verdade que em nosso país ser uma pessoa questionadora não traz muitas vantagens... Enquanto as pessoas questionadoras estão se matando na USP para conseguir uma bolsa de mestrado de 800 reais para pagar o busão e o cigarro, as pessoas do mundo de fora estão ganhando salários de 4 dígitos pra cima e comprando seus apartamentos.

Por um lapso mental, eu decidi ser uma pessoa do mundo de fora. Estou no meu segundo mês.

Já descobri os prazeres do consumo sem necessidade. O Playstation 2 pode deixar de ser sonho. O carro do ano tornou-se possível e o ar condicionado um item obrigatório.
E daí? E daí que o preço a pagar é muito alto. Não só em termos de dinheiro. Isso também. Mas o emburrecimento necessário para tanto é tão grande e exige tanto de nós mesmos que eu me questiono se vale a pena. E não é para menos que ninguém questiona se vale a pena pois isso também tem um preço.

De que adianta ganhar bem se todo o seu salário vai para pagar os luxos (que viram necessidades)? Faz-se necessário um carro decente para o homem-escritório. Cabeleireiro, manicure, roupas novas, sapatos novos, gel no cabelo e maquiagem. Tevê a cabo, tela plana, wide screen para relaxar. Massagem express para tirar a pedra dos ombros. Natação e ioga para consertar a coluna torta do homem-escritório. Sem falar no MasterCard para fazer aquela preza no restaurante chique já que boteco é coisa de pobre.

No final das contas, acho que é por isso que as pessoas não questionam mais. A gente acredita que manicure é bom (mesmo que a mulher arranque seus dedos inteiros e você ainda corra o risco de contrair micose ou hepatite...), que ar condicionado é necessidade e que fazer compras é lazer. Quando as pessoas questionam, vêm as crises.

Uma vez um professor na USP disse "De que vale trabalhar o máximo se nunca teremos o máximo? É melhor trabalhar o mínimo para termos o mínimo".

O homem-escritório, após ler o post, volta à sua cadeira torta e à sua rotina torta. O homem-escritório não percebe o paradoxo. O homem-escritório não questiona, nem tem crises além de "qual terno combina com esta gravata?". Mas o homem-escritório é feliz.

terça-feira, 22 de março de 2005

Ladeira abaixo (?)

Ontem, em plena segunda-feira, tive o privilégio de ser convidada a passar a hora feliz a comemorar o aniversário do grande aminco Lud. Conforme nos aproximamos da casa dos trinta, começam as brincadeiras com a idade... Vêm as rugas, os remédios obrigatórios, as alergias estranhas e os desandares do intestino em resposta aos alimentos ricos em colesterol ruim. Vem a barriga de cerveja. Vem a lei de Newton. E vem o sono.

Retomando um pouco das aulas de Estudos Clássicos, do primeiro ano de faculdade, o mito da juventude remonta aos gregos antigos lá em não sei quantos antes de Cristo. Morrer em glória era morrer guerreando, jovem e belo. Muitos consideram a Grécia Antiga o berço da nossa civilização (estou me referindo apenas ao mundo Ocidental, logicamente) e, por alguma razão bizarra, esta noção de que o belo e o bom estão na juventude se perpetuou ao longo dos anos e chegou até os dias de hoje.

Ainda que eu me renda aos cremes anti-idade (um dos meus vícios assumidos) e seja levada, por toda uma conspiração ideológica, a crer que atingimos o auge da beleza aos vinte, quero discordar dos gregos.

Alguns de meus amigos reclamam que eu não tenho mais pique para baladas de virar a noite, para shows lotados de pessoas grudentas e fedidas ou para estar na rua quando todos estão vomitando pelas sarjetas. É verdade. Eu não sei nem se é uma questão de pique ou de paciência. Eu perdi a paciência com lugares lotados. Passa longe da minha concepção de prazer ficar uma hora e meia em uma fila para que eu tenha o direito de pagar uma entrada exorbitante para entrar em um lugar abarrotado de gente suada, com banheiro nojento, bar lotado, comida ruim, barulhento e com gente bêbada me agarrando. Já se foram os tempos áureos em que eu era uma das pessoas fedidas e achava tudo isso o máximo.

Hoje sou muito mais adepta de um jantar a dois ou com amigos em um restaurante com comida gostosa, bom atendimento, estacionamento no local, sem filas, sem gente fedida. Sou capaz de virar a noite acordada sim, mas batendo papo com os amigos, jogada no sofá, tomando coca-cola gelada e com gás.

E tenho sono.

De vez em quando, como ontem, é legal fazer uma hora feliz com os amigos, num barzinho sossegado. Mas virar a noite de segunda para terça, não.

E estou tão feliz assim! Eu estou gostando muito de envelhecer, de ter mais sono mais cedo, de ter preguiça, de ter que malhar o dobro para ter metade do efeito, de ter que ser gente grande. É claro que o legal não é isso. Mas não há nada como ter a sensação de independência, de ser dono do próprio nariz, sem precisar provar isso para os outros. Pode até ser que tudo isso não passe de ilusão. Mas prefiro acreditar que, com o passar dos dias, não ficamos mais velhos, mas sim MELHORES.

Acumular experiência não pode ser menos glorioso do que morrer com chá de fita na adolescência.