No meu bate-e-volta a Maceió conheci uma Patrícia e reconheci outra.
A primeira Patrícia é mineira, 32 anos, solteira, formada em Artes Dramáticas, trabalhando numa empresa de informática para pagar as contas (já que teatro mata mais de fome do que docência), pensando em fazer outra faculdade. Pedagogia, agora. E viajando sozinha pela primeira vez.
Até quinta-feira da semana passada, eu estava com invejinha das pessoas com a vida arrumada. Sabe aquela amiga que ama o emprego que tem, está em ascensão na carreira, tira várias férias ao ano, posta fotos no Caribe e dois meses depois na estação de esqui, malha, come tudo orgânico, vive bonita numa casa em condomínio fechado e ainda tem a família de comercial de Doriana? (Não me diga que não conhece essas pessoas. É só olhar no Facebook e você vai ver que a maioria dos seus amigos possui vidas perfeitas e só uma pequena parte - a sua, é claro - é cagada).
No meu roteiro original, eu esperava estar com a vida arrumada (o que quer que isso seja) aos 36 anos também.
Mas voltando à Patrícia, quando ela me disse que era a primeira vez viajando sozinha, o que me veio à mente na hora foi: "É muito bom, não é? Você vai ver. Vai viciar. Eu amo viajar sozinha."
Nos conhecemos no ônibus, a caminho de Maragogi. Ela me perguntou se eu estava viajando sozinha e eu disse que estava com amigos. "Cadê eles?", perguntou. Eu respondi "Não faço a menor ideia. Eu queria conhecer Maragogi, eles não." Então ela me perguntou se eu ia fazer o mergulho e eu disse que alugaria equipamento de snorkeling, mas que mergulho eu não faria (já fiz no passado e não me adaptei. Quase morri de dor no ouvido). A resposta dela: "Eu vou. Nunca mergulhei antes".
Além da Patrícia, conheci outras pessoas igualmente independentes, igualmente interessantes e igualmente perdidas, e me dei conta de que o roteiro das pessoas normalmente não é original. Eu sou aquela que queria ter uma família Doriana, mas também sou aquela que ama viajar sozinha e que pode largar os companheiros de viagem para fazer um passeio que eles não querem, sem cara feia ou ressentimento na hora da janta.
Há muito tempo estou tentando saber o que eu quero. A sensação que tenho é a mesma que eu tive quando me vi adulta e o mundo se abriu diante dos meus olhos e as possibilidades eram tantas que parecia impossível escolher um só roteiro. Agora já se passaram todos esses anos e eu esperava que essa sensação de não ter chão sob os meus pés fosse desaparecendo com o tempo. Não desaparece.
Não sei para onde vou, nem sei o que quero. Não tenho Caribe ainda, mas de onde estou até sair a separação, posso pegar um ônibus e, em algumas horas, chegar neste lugar:
E por enquanto é assim que vai ser. Procurando a beleza dentro das possibilidades que se apresentam. E porque enquanto não sabemos para onde vamos, qualquer caminho é bom.
Eu sei como é!
ResponderExcluirDe quem são os chãos sob quaisquer pés? De quem são os pés sobre quaisquer chãos? Doriana sempre foi uma merda. No fim, de tudo, na mochila ou na mesa, o que importa é o pão. E ele sempre há de pintar por aí. Belo texto, moça.
ResponderExcluir=) Estou saudosa dos nossos papos, Gil. Aviso chegando em Sampa e vamos pro bar!
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