segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Adeus ano velho

Nada de promessas vazias. Nada de "vou parar de fumar", "vou perder 5kg" ou "vou abrir meu próprio negócio".

Que venha 2006. Estou armada até os dentes.

E vou moderar comentário a partir de agora. Nada de usar meu blog como mural de spam. Fala sério.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Conversas esquizofrênicas de uma paulistana às vésperas do Natal

Um mês para o Natal:
"Nossa, quanto carro de fora! O trânsito está bem ruinzinho, né?"

20 dias para o Natal:
"Estou contando os dias para as minhas férias. Não vejo a hora de terminar o ano. Só faltam algumas provinhas e beleza. Hein? Um trampo novo? Ah, vou ver. De repente rola pro ano que vem. Onde? Ah, tá. Eu ligo para ele. Hmm... Ok. Amanhã às 15h. Acho que se eu sair de casa às 13h, dá tempo."

15 dias para o Natal:
"Puxa vida. Acredita que o melhor caminho está sendo Pedroso-Faria Lima-Teodoro-Dr. Arnaldo-Paulista-Vergueiro? Pois é. Quando tudo está parado, o melhor caminho é o mais curto. Cara, não aguento mais corrigir prova. Preciso de comida de conforto. Sério que você vai tentar ir na R. 25 de Março? Insano isso. Certeza. Vou pegar o meu décimo terceiro e ele vai diretinho para a poupança."

14 dias para o Natal:
"Meu, de onde saiu tanto carro?! Tudo isso para entrar no shopping??? Nahh, desencana do cinema, vamos tomar um café e tá tudo certo. Amor, não posso xingar nem um pouquinho? Ahnhanhannn... Caralho. Domingo à noite. Uma hora e meia para chegar em casa. Esta cidade está impraticável."

13 dias para o Natal:
"Esta cidade está definitivamente impraticável. Começo a entender o ódio carioca por turistas no Carnaval. Ah, reprovei mesmo. Não entendi a letra do infeliz! Nego com 18 anos e não sabe escrever?! E daí que ele está no último avançado? Ah, é para eu passar? Putz, vai ser foda. Não. Não dá pra rasurar a prova. Já está corrigida e já reprovei. Só um momentinho. Cara, preciso de comida de conforto. Urgente. O sistema está fora do ar? Ainda bem que eu só tinha hoje para botar isso no sistema, né? Hein? Aula de reposição de quem? Hmm. Tenho a madrugada de quinta para sexta livre, pode ser? Eu sei que não tem dinheiro para me pagar. Fica devendo. Acho que o décimo terceiro vai virar um som novo para o Andrecito. Nossa, eu tinha que terminar aquele freela, né?"

12 dias para o Natal:
"O pior domingueiro é aquele que sai durante a semana. Ah, não vou ter férias, pode marcar na semana do Natal. Ah, você vai ter? Bom, então deixa para janeiro. Ah, não, cara. Nego marcou prova para quando?? Ah, puta merda, meu. Não vou corrigir no Natal nem fodendo. Vou zerar e isso vai contar como recuperação. Eu quero mais é que se dane. Não fui eu quem faltou na prova, fui? 'Na minha época era diferente. As pessoas tinham respeito pelas instituições'. Não, não posso. Não posso nesse horário, caralho! Joga para a semana que vem! Vou pra casa. Chega. Quanto carro de fora, caralho!!! CERTEZA que o décimo terceiro vira um som novo, cara. E com falante traseiro de balançar a rua. "

11 dias para o Natal:
"Tudo bem. Tirando que tava TUDO entupido! Achei que era acidente. Fui ver, era uma tiazinha com mais três tiazinhas numa porra dum Astra fechando o caralho da rua inteira andando a 2 km/h, ocupando as duas pistas, carro parado dos dois lados em lugar proibido, nenhum puto da CET multando. Nããão!!! Eu estava na Luís Góes, naquele pedacinho de nada ali na Vila Clementino!! Aliás, pra que a pessoa me compra um Astra pra andar a 2 km/h?! NÃO! NÃO TENHO UM REAL E NÃO SOU SUA TIA, CARALHO!!!. Será que depois do 'não' eu consigo comprar uma bazuca com meu décimo terceiro? De repente é o salário mínimo que está alto demais. Só pode estar sobrando grana no mundo, cara. O que mais esse povo todo veio fazer na MINHA cidade UM MÊS ANTES DO NATAL?!?! Naaaaaaaahhhhh. Pode usar o carro. Não saio mais hoje nem que arranquem as minhas unhas e joguem sal. Sei lá quando vou fazer compras de Natal. Nem sequer sou cristã, porra."

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Sobre a educação

Mais uma vez devo me desculpar pela ausência prolongada em vossas páginas... Como sabem, professor horista sofre... Em Novembro e Dezembro, pegamos todos os freelances que aparecem para compensarmos a estiagem monetária que se segue, de Janeiro a Março...

Tenho notado, cada vez com mais desgosto, que os papéis - outrora da família - têm se acumulado sobre as costas da escola. Especialmente nos bairros ricos. Lembra daqueles ralos que a gente levava da mãe?: "Não vai pro meio da rua que você vai ser atropelado, moleque!". Hoje não tem mãe. Até isso ficou por conta da escola. Fico chocada porque nem dou aula em escola regular! Trabalho em curso livre de inglês e ainda tenho que ver essas coisas!

A geração apartamento-escola-natação-babá-inglês me dá medo, sabe? Não do ponto de vista do professor (este também morre de medo, pois não pode dar bronca no aluno que a mãe liga, imediatamente, do escritório, para reclamar que o filhinho dela está sendo maltratado no inglês), mas do ponto de vista humano.

Com o mundo, louco do jeito que está, tanto o pai como a mãe precisam trabalhar fora. (Às vezes não, mas como sustentar a Pajero e a coleção de sapatos só com o salário do cônjuge, né? Mas isso é outra história...) E os pais, com cada vez menos tempo para os filhos, fazem-lhes todas as vontades por culpa. E os filhos que não são burros sabem usar isso. Que medo disso... Que seres humanos estão se formando pelo medo da bronca?

Não sou a favor de bater com cinta. Nem de bater com chinelo. Nem com a mão. Mas sou SIM, a favor do NÃO. Um bom "não" educa. Ele frustra, mas protege. Uma criança que se frustrou sabe lidar melhor com o mundo do que uma criança que teve tudo, que sempre aparece uma solução mágica para seus problemas.

Estou com 27 anos. Minha geração está livre disso? Também não. Conheço várias crianças grandes, que ainda esperam soluções mágicas para o desemprego, para comprar o carro, para ir para a Tailândia ou para comprar a casa. Eu costumo dizer: "faltou porrada. Vai ter que tomar da vida, agora." Um bom "não" na infância poupa bastante porrada na vida adulta. Acreditem. Aquele velho cliché pedagógico do "a lei protege" funciona. Uma pessoa que sabe os seus limites, que conhece os "certos e errados" de seu grupo social (ainda que escolha desobedecê-los), transita muito melhor pelo mundo, com muito menos crises e muito menos medo.

Um apelo, em nome de toda a classe docente: se não souber dizer "não" a uma criança, não as tenha.

A babá não dirá.