quarta-feira, 23 de março de 2011

Daqui pra frente

Muito bem. Declaro que, a partir da presente data, acabou a autopiedade e consequente autoindulgência. O que foi, foi. O que não foi, não foi. Mas o que será começa agora. Me aguentem.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Crítica

Quando estava ainda na faculdade, fiz Iniciação Científica. Trabalhei com um orientador que não elogia. Era crítica depois de crítica. E ele era grosso mesmo. Chegou a amassar e jogar meu projeto no lixo, na minha frente, mais de uma vez. Mas me mantive firme e, depois de três meses enfiada na biblioteca, consegui rascunhar alguma coisa minimamente aceitável, nas palavras dele.

No decorrer do trabalho, a dinâmica continuou a mesma. Isso aqui está um lixo. Isso está uma droga. Isso não faz sentido. Isso isso, isso aquilo.

Até que, num belo dia, conheci um de seus outros orientandos. Sua saudação foi "Finalmente estou conhecendo a famosa Patrícia!". Minha reação foi de total surpresa. "Famosa"? Ele continuou, dizendo que todo o grupo de orientandos recebeu uma mensagem de email com o meu projeto em anexo, em que o nosso orientador se rasgava em elogios e dizia que aquilo deveria ser tomado como um exemplo.

Não sei se deveria ter me sentido lisonjeada, mas o fato é que me senti traída. E, quando o confrontei, ele me justificou dizendo que um aluno elogiado é um aluno conformado. Que um aluno só anda para frente sob crítica. Entendi sua posição, mas ao longo dos meses minha motivação foi murchando. Eu me sentia um lixo, um fracasso total, não tinha mais vontade de prosseguir na pesquisa. Qualquer esforço meu seria em vão, porque meu trabalho nunca estaria à altura. Quando terminei o relatório final, tinha a nítida sensação de que poderia ter feito algo muito melhor.

Essa luta por perfeição é uma luta perdida, na minha opinião. Acho que sim, devemos sempre tentar ir para frente. E sim, a crítica pode ajudar a impulsionar alguém que está sentado e acomodado. Mas ninguém vive de crítica.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Fracasso

Tem dias em que os nossos fracassos pesam mais do que deveriam.

Pode ser ainda conseqüência da dengue (sim, passei o Carnaval com dengue. E eu achando que meu maior problema ia ser o samba). Pode ser o fato de meu ex-marido ter vindo me procurar para saber se pode solicitar a conversão da separação judicial em divórcio e eu não ter um puto de um real para poder pagar um advogado e resolver essa merda de uma vez por todas. E, falando nela, também pode ser a puta falta de grana que me persegue desde o início do ano e que deveria ser temporária, mas não está sendo. Pode ser o meu olhar para trás e ver que não fiz nada do que esperava ter feito da minha vida. Eu deixei minha carreira de lado porque resolvi me casar e ter filhos. Não fiz nem uma coisa nem outra e nem outra. E agora eu arrumo vontade para voltar a estudar? Arrumo tempo e disposição e dinheiro para isso? 

Sabe... Estava pensando nas pessoas que conseguem tirar forças do além para recomeçar aos quarenta, aos sessenta... Como pode alguém não ter forças para recomeçar aos trinta e dois? Não pode. Eu sei que passa. Tem que passar. É inadmissível não passar. Mulher tem que ser forte, independente e o caralho, não tem? Mas hoje, só hoje, vou terminar o dia morrendo de dó de mim mesma, com uma xícara de chá COM açúcar, e esperar que amanhã seja um dia melhor.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ajuste de prioridades


Há cerca de seis meses tive um conversa interessante com uma pessoa que mal chega a ser um conhecido. Esta pessoa acompanhava o amigo com quem eu fui almoçar. Mal sabe ela o impacto que teve em minha vida.


Na época, confesso que achei engraçado. Adotei como experimento e o resultado está sendo fantástico.

A frase impactante foi algo do tipo: "Todos os dias eu jogo meia-hora de videogame."

A reação racional foi: "Ah, que folga! Se eu tivesse meia-hora para jogar videogame todos os dias, seria um privilegiado."

E aí aconteceu a mágica. Ele disse: "Bom, depende da sua prioridade. A minha é jogar videogame. Não é fazer freelance, nem hora extra. Se tiver serviço, eu vou fazer com o saco e o tempo que me restar depois de jogar minha meia-hora de videogame."

Normalmente fazemos o caminho inverso. Nos entupimos de trabalho e, se sobrar algum tempo livre (o que é raro), pensamos no que fazer. (Mas somos pouco criativos e acabamos assistindo televisão mesmo).

O mesmo se aplica a finanças. Aprendi a me organizar financeiramente invertendo a ordem das coisas. Assim que recebo, aplico uma parte. E eu que me vire para viver com o resto. Se eu viver o mês e deixar para aplicar o que sobrar, nunca sobra nada (e às vezes ainda termino devendo).

Foi genial ver alguém aplicar o mesmo princípio das minhas finanças, só que em outro campo e de um jeito inusitado. É importante notar que não se trata de um ato extremamente ambicioso. Meia-hora de videogame. Pronto. Pode ser meia-hora de qualquer coisa. Não é nada ambicioso ou ousado demais que não possamos gerenciar. O dia tem 24h, dizem por aí. Trabalhamos umas 10h ou 12h (privilegiados trabalham menos) e passamos 3h nos locomovendo entre trabalho-casa (privilegiados passam menos tempo). A matemática não é difícil. Sendo otimista, 24 - 10 - 3 = 11.

Nestas onze horas vamos colocar o tempo de sono, o banho, refeições, manter a casa arrumada e limpa, cuidar dos animais de estimação, manter uma vida social mínima (conversar com pessoas que moram com você, atualizar redes sociais, etc.) e... freelances e horas extras e preparação para trabalhar no dia seguinte.

Em geral, o que acontece é que, para jogar a meia-hora de videogame tiramos essa meia-hora do sono. E aí ficamos achando que é privilégio o cara jogar todos os dias. Não é. Ele só trocou. Ao invés de tirar do sono, ele tirou do trabalho.

Já faz muito tempo que não tenho qualquer tipo de hobby. (Me desculpe quem acha que assistir televisão, ler um livro ou jogar videogame é hobby. Para mim, isso é passatempo. Hobby, na minha opinião, é algo que envolve criatividade, de alguma forma. É algo que a gente faz ativamente. Daí o nome atividade.) E, ao organizar minha agenda esse ano, pensei que vou ter pelo menos uma atividade que não seja o trabalho. No caso, está sendo o tango (que, aliás, estou adorando). Na quarta-feira, naquele horário, não dou aula, não dou consultoria, não faço tradução, não vendo minha alma.

A grana apertou sim, é claro. Faz diferença. Além de não estar recebendo naquele horário, ainda estou pagando! Mas, hoje, só consigo pensar: "Como foi que consegui viver tanto tempo para o trabalho e somente para o trabalho?"

Estou empolgada. Queria fazer tantos outros cursos! Ourivesaria, cerâmica, canto, academia... Mas aí penso na meia-hora de videogame. Ele consegue a meia-hora justamente porque é meia-hora, e não três ou doze. Uma coisa de cada vez. Vai demorar mais para eu comprar o apartamento, mas vou ter menos cabelos brancos quando a hora chegar.