quarta-feira, 29 de junho de 2005

No bode pós-formatura

Quando me disseram que eu devia tirar uns 8 ou 9 meses de férias, eu não acreditei. Claro. A gente termina o curso cheio de sonhos... de que finalmente vai ter tempo para fazer aquele curso de violoncelo, de que vai poder trabalhar mais horas no dia e deixar de ganhar salário de fome, de que vai conseguir enfim concluir o bendito curso de francês, de que vai poder voltar a fazer exercícios físicos regularmente... No final das contas, depois de um mês ou dois, bate um BODE!

Parem o mundo que eu quero descer. Quero ficar mais uns 3 meses (pelo menos!) jogando Phantasy Star (é. Aquele do Master System) e almoçando sanduíche.
Quero poder dormir com meu namorado todos os dias. Quero acordar às 14h pro resto do ano. Quero dar aquela mochilada pela Ásia. Quero fazer aquele curso de violoncelo, aquele de corte e costura e aquele de decoração de interiores. Quero pintar umas 30 telas. Quero ter a cara de pau de ir no massagista e dizer que estou quebrada. Quero ir no cinema e esgotar a programação de São Paulo. Quero ver João Kleber e todos os seriados americanos da TV a cabo. Quero poder escolher se vou de manhã ou à tarde no dermatologista, cardiologista, figadista, estomaguista e todos os outros istas. Quero alugar todos os filmes da locadora (menos os de terror). Quero ler um monte de best-seller, de auto-ajuda e de infanto-juvenis. Quero poder ficar 3 dias seguidos sem fazer ABSOLUTAMENTE NADA e não me sentir nem um pouco culpada por isso...

...Sem pensar no trampo novo que começa na semana que vem. Sem pensar no projeto de mestrado que não escrevi. Sem pensar no trabalho da matéria da pós que não tem nem forma, nem processo social ou sequer um arquivo *.doc...

Como é foda ficar velha.

Meninos que estão prestando vestibular, bixos ou semi-bixos: façam uma "poupança-bode". Isso mesmo. Comecem a guardar dinheiro AGORA para o bode pós-formatura. Algo suficiente para mantê-los sem fazer NADA por um ano ou dois. Vocês vão se agradecer muito.

terça-feira, 21 de junho de 2005

O peso social da idade

Na semana passada levei bronca da ginecologista porque o último ultra-som que fiz dos peitos (ou de onde eles deveriam existir) foi há mais de 10 anos. Suas palavras foram: "Na sua idade, não dá para bobear não! Tem que fazer uma vez por ano, pelo menos, viu?". Pronto. Agora está atestado, com CRM e tudo o mais, o que meu corpo já sentia: estou velha.

O pior de tudo não é saber que suas articulações não funcionam como antes, que sua tolerância à dor diminuiu ou que você não pode mais ficar 10 anos sem fazer ultra-som nos peitos. O pior de tudo é o peso social que isso tem.

Meu último post todo feliz foi uma ode à não-responsabilidade. E recebi tanto aplauso por ele que me sinto até culpada por me sentir culpada por estar velha.

Meu cérebro está absolutamente travado. Sinto uma carga tão grande sobre mim que, mesmo com bastante tempo, estou simplesmente incapaz de produzir um trabalho para uma matéria de pós-graduação. Quem dirá um projeto de mestrado. Eu achei que tinha um tema, mas não tenho mais.

Essa liberdade toda está me afligindo. Meu enorme problema é que são tantas as possibilidades que eu não consigo vislumbrar uma. Por que a professora não deu um trabalho do tipo "discorra sobre a relação do narrador com o protagonista no romance X"? Por que toda essa liberdade?! Agora eu não sei o que fazer. E o tempo corre. E as coisas urgem. E eu me sinto um lixo porque não consigo deixar de olhar para o papel em branco. E me sinto mais lixo ainda porque não posso culpar nada fora de mim para justificar meu papel em branco. Não estou trabalhando, não estou fazendo 800 créditos na faculdade, não estou sustentando ninguém. E não posso culpar o mundo pela minha própria incapacidade de produzir alguma coisa frutífera.

E nada disso estaria acontecendo não fosse o peso social da idade.

O pior de tudo: não são os outros que estão cobrando. Sou eu mesma. A pior, mais implacável e mais cruel cobradora de todas. Eu.

Eu odeio saber que me vendi a uma ideologia podre. Odeio me sentir culpada por não estar produzindo nada. Odeio não saber o que estudar e ficar perdida que nem filha da puta em dia dos pais para lá e para cá sem chegar a lugar algum. E odeio quem, aos 7 anos de idade, já sabia o que fazer, fez e está feliz. E odeio mais ainda esses putos que, aos 26, são doutores. O que um puto, aos 26 anos, sabe do mundo para ser doutor?! Por conseqüência, odeio as instituições que financiam a pesquisa e que fabricam doutores de 26 (pois aos 30 já estamos senis), para contabilizar mais números para o país e deixar os mesmos putos desempregados porque a hora de um mestre é mais barata que a de um doutor.

Volto a trabalhar em julho ainda. Para poder culpar o novo emprego pela minha incompetência intelectual.

quarta-feira, 15 de junho de 2005

De férias, sem um pingo de culpa

A velha dicotomia do tempo x dinheiro tem sido, pela primeira vez na vida, um empecilho muito pequeno para eu me arrepender de estar em férias permanentes (vulgo desempregada). Agora sim estou fazendo o que sei de melhor: ficar em férias.

Algumas pessoas entram em pânico à mera visão do "não ter o que fazer". Eu não me conformo com isso. Passam 360 dias no ano reclamando que estão atolados e, nos 5.25 que lhe restam, reclamando que "não têm o que fazer". O que esse povo quer, afinal de contas? Não dá para entender...

Quando eu digo que não vim a este mundo a trabalho, mas sim a turismo, as pessoas riem e não me levam a sério. Ora. Existem pessoas que não nasceram para estudar, mas fazem faculdade por mera imposição de classe. Existem pessoas que não nasceram para a música, mas estudam piano por mera imposição de status. E existem pessoas que, como eu, não nasceram para acumular capital, mas o fazem por mera imposição social. O que há de errado em acumular capital por três meses e folgar um? Não estou sendo condizente com o mito burguês?

Os burgueses uma vez inventaram o mito de que "o trabalho enobrece", simplesmente porque eles morriam de inveja dos nobres e da gentry, que não precisavam trabalhar e viviam de renda. Tão ridículo quanto acreditar em I-Ching ou que leite com manga faz mal é acreditar que o trabalho enobrece. Nada mais é que um mito burguês que fomos levados a comprar desde uma suposta Revolução Francesa, que pregava liberté, égalité et fraternité, mas só para poucos pois alguns sempre foram mais iguais que outros.

Eu quero que o enobrecimento e a igualdade vão para a merda. Estou folgando sim. E, se eu pudesse, eu ficaria assim para o resto da minha vida. Sem um pingo de culpa.

No meu quase um mês de férias, eu ousei.

-Eu ousei não acordar antes do meio-dia.

-Eu ousei voltar a praticar exercícios físicos no meio da tarde.

-Eu ousei fazer macarrão ao alho e óleo (com supervisão, logicamente).

-Eu ousei escrever cartas.

-Eu ousei assistir filmes.

-Eu ousei ler livros.

-Eu ousei andar de ônibus pelo simples prazer de ver a cidade.

-Eu ousei observar as pessoas na Av. Paulista.

-Eu ousei pintar uma tela (experimentando, inclusive, textura com óleo e acrílica - tudo na mesma tela) para presentear uma pessoa especial (e não para acumular pó na minha sala).

-Eu ousei VIVER que nem gente e sem nem precisar ligar a televisão.

Aos que me criticam por ousar sair da ordem (mesmo sem sair, porque já estou procurando emprego de novo, para agosto): morram de inveja. Sua ordem é caos. E é ilusória. Quando você vai aproveitar a vida? Depois da aposentadoria? Hmm... Más notícias. Aposentadoria é uma instituição que deve falir antes de chegarmos lá.

Eu sou mais igual que os outros porque posso ousar? Provavelmente.

Não estou dizendo que o trabalho é ruim. De modo algum. Algumas pessoas se realizam em seus empregos. E ter o seu no final do mês é sempre bom. Mas não pode ser bom se não for bem gasto. Vale um surto para comprar um CD da Ella Fitzgerald por $7,90 na Rua Direita. Vale uma viagem para Guarapari. Vale um bilhete único para ver o movimento da cidade num dia nada a ver. Vale botar gasolina no carro para atravessar a cidade para dar um beijo na namorada. Vale até a economia maluca para comprar o seu apartamento.

Mas não vale a úlcera, a pressão alta ou a depressão.

Esses empregadores vêm com discursozinho de "estou fazendo o favor de te empregar" e nós, trouxas, acreditamos nisso. Bullshit. Ninguém é insubstituível, mas ninguém é desprezível a este ponto. Eu ouso pedir demissão e escolher outro senhor a quem esta escrava há de servir. E não tenho um pingo de culpa. Até meu próximo senhor, um abraço pois estou de férias. Viva o fundo-férias. Viva guardar (pelo menos) 20% dos meus ganhos todo mês para poder recusar o enorme favor que fazem de me empregar.

Agora vou ler meu livro novo de $9,35 que chegou hoje e vou dormir quando eu quiser. Porque estou de férias até acabar meu fundo ou até outro senhor me fazer o enorme favor de me empregar.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Dia dos Namorados

Dia dos Namorados. Mais uma data comercial. Criada racionalmente pelos marketeiros para acontecer justamente na época do ano em que as vendas, historicamente, caem.

É?

Comercial ou não, já notaram a quantidade de namoros e casamentos que se desfazem na época que precede esta data? Quem nunca levou um pé na bunda às vésperas do Dia dos Namorados e não deu graças aos céus por ter deixado para comprar o presente na última hora?

De onde concluo que, data comercial ou não, a maior função do 12 de Junho é fazer as pessoas repensarem suas relações. Talvez porque a pessoa não vale aquela câmera digital ou aquele casaco suuuuuuuuper legal de camurça.

Eu, pessoalmente, gosto de comemorar datas. Não por elas serem motivos para dar presente (esses não precisam de motivo), mas por proporcionarem esta oportunidade de repensarmos nossos passos e fazermos novamente a escolha de estarmos ou não com aquela pessoa. Eu sei que estas são escolhas que fazemos diariamente, mas é legal ter um ritual de vez em quando. Às vezes o mundo vem e nos engole e arrumamos mil desculpas para não fazermos escolhas.

Não adianta fugir. Até ficar na mesma é uma escolha.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Tomboy

Há 2 anos, meu kit de sobrevivência para passar uma noite fora de casa consistia em: uma calcinha e um hidratante vagabundo.

Hoje, o mesmo kit MÍNIMO contém: várias mudas de roupa (para todas as ocasiões e todos os climas) com opções de sapato, batom, rímel, lápis de olho, demaquilante para rosto e olhos, creme anti-idade para a área dos olhos, creme anti-idade para mãos, creme anti-idade para o rosto com FPS 15, hidratante para o corpo, escova de dentes e cabelo, desodorante, pinça, gel para os pés e remédios cotidianos.

Duas razões:

1) Eu estou chegando nos 30, me vendi ao capitalismo e almejo o ideal de beleza ditado pelo mundo do consumo. Sem hipocrisia. Enquanto eu me sentir feliz assim, a felicidade ilusória do consumo é REAL, ainda que questionável. Questionável porque ela é uma OPÇÃO, não uma obrigação (como muitos acreditam).

2) Ser mulher é uma delícia.

Ser mulher é muito bom... Não precisamos ser masculinizadas ou maltrapilhas para sermos fortes. Algumas pensam assim. Eu pensava assim. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que minhas fraquezas são em si uma fortaleza?

sábado, 4 de junho de 2005

Esse mundo não cansa de me surpreender

Ele, garotinho de 6 ou 7 anos em S. J. do Rio Preto, um belo dia beijou uma garotinha e foi perseguido por pai enfurecido, de chinelo na mão. Garotinha beijada de 7 anos cresce e descobre o IRC. Conhece Morwen no canal #loucosdosampa, da undernet e ficam amigas em 97. Todos crescem mais um pouco. Morwen, em 2003, vai cadastrar o Odds and Ends no BlogList. Clica nos Top 5 e, como quem não quer nada, entra no blog do garotinho que cresceu. Morwen se assusta ao ver posts decentes e manda um comentário para o menino de nome Daniel. Morwen e Daniel estudam na USP e resolvem se encontrar. Muita confusão, negação e aceitação depois, Morwen e Daniel decidem acertar os ponteiros do relógio e começam a namorar. Pouco mais de um mês depois do primeiro beijo de Morwen e Daniel, uma amiga de longa data, do IRC, decide vir passar um fim de semana em São Paulo.

O resto fica por conta da imaginação dos nossos caríssimos e fiéis leitores!

Moral da história: A FILA ANDA.

Dani, eu te amo e não tenho ciúme do seu passado :) Sem ele vocë não seria a pessoa maravilhosa que é hoje! Dudz, PERDEU! A fila andou!!! ahahahahahah Te adoro, mulheeeeer!!

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Efeito OMO, de novo

Fazia tempo que não rolava um efeito OMO (branco total) nas minhas postagens... Antes era falta de tempo. Agora, é branco mesmo.

Só para prestar contas:

1) Saí do trampo. Mesmo.

2) Fui chamada para uma aula-teste no Estafa (amanhã de manhã), mas não tive muito saco para preparar a aula

3) Voltei para a academia

4) Acho que estou estressada. Muito sono a dormir e tão pouco tempo!

5) Quase defini meu tema para o mestrado

6) Estou nas nuvens.