Acho que todo ano eu posto sobre o assunto, não? Mas não tem jeito. Professor que não sente friozinho na barriga no primeiro dia de aula é porque já engessou. Já robotizou. Já deixou de ser professor.
Hoje comecei no colégio novo. Por enquanto só no extracurricular. A partir de quarta-feira, carga cheia, no ensino regular também. =)
Muitas vezes vejo as pessoas comentando que professor tem vida boa, que "escolhe os dias de trabalho", "trabalha pouco", "reclama de barriga cheia".
Não vou ficar defendendo a classe porque isso cabe ao sindicato. No entanto, existe uma grande diferença - conceitual, eu diria - entre o professor (ou instrutor) e o educador.
Uma pessoa que sobe no tablado, despeja conteúdo na cabeça do aluno e testa se o aluno "captou" (o conteúdo) é um professor? Ué. Pode ser sim. Tive inúmeros desses.
Aqui, no entanto, vou defender a figura do educador. E, independentemente de área, de série, de tipo de curso, existem professores ou instrutores e existem educadores.
O educador é aquele que não tem vida fácil. Que pode até escolher os dias em que estará presente na escola, mas não os dias de trabalho, pois trabalha todos os dias. Domingos e feriados, inclusive. E não me refiro somente à preparação das atividades. O educador reflete sobre suas práticas todos os dias. Ele aprende todos os dias. E isso dá um trabalho do cão. Ou você acha que sala dos professores só serve para vender bolo e Avon? Uma sala dos professores onde há educadores é um ambiente de troca, de reflexão, de dizer "putz, usei a atividade que você me emprestou e não deu certo no meu grupo. Por que será?".
O educador pensa no conteúdo sim. É claro. É pago para isso. Mas, além disso, ele pensa também no modo como esse conteúdo vai ser trabalhado e quem é esse aluno que está diante dele e em como esse aluno está inserido no contexto histórico.
E não é proibido errar. A educação é um eterno laboratório. Revelarei aqui um segredo milenar: quando o professor erra, é o aluno se sente culpado, burro e incapaz. Fórmula de sucesso, não? Fica fácil para o professor usar a desculpa "Eles são desinteressados e não querem nada com nada."
E acho que aí reside uma das principais diferenças entre um educador e um instrutor. O educador chama para si a responsabilidade e se pergunta como fazer para envolver aquele aluno. Por que será que ele está desinteressado? Como será que posso tornar isso aqui tão fascinante para ele como é para mim?
Ser educador dói. É reconhecer em si mesmo a incompetência diante do fracasso escolar do outro. É ter a humildade de se saber um eterno incompleto. Dói mesmo. Mas é também saber que, assim como nos fracassos, você também tem parte nos méritos.
Existem vários tipos de recompensa na educação. A menor delas é o salário, infelizmente. A segunda menor delas é quando você pergunta "O que aprendemos hoje?" e os seus alunos listam o que estava no seu campo "objetivos" do plano de aula. Sinal de que fiz o mínimo.
Agora quando um aluno de 4 anos te pergunta "tia (primeiro dia de aula, vai. Hoje passa. hahaha), amanhã tem inglês de novo?"... Pô. Ganhei meu dia. =)
Um feliz ano letivo a todos os meus colegas educadores.
Colegas professores-instrutores-despejadores-de-conteúdo, espero que possam se tornar educadores também. A classe, com sentido duplo mesmo, agradece.
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Recado para a Madoka: me passa o seu endereço (do blog), por favor? Entrei no seu perfil, mas não aparece link lá.