terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Promessas de Ano Novo

Como é de praxe, está na hora de fazermos um balanço do ano que se vai e elaborarmos a nossa lista de promessas para o ano que vem.

2008 foi basicamente uma bosta. Vivi para o trabalho, dei o sangue, dei a alma e não só não tive o devido reconhecimento como ainda tive que ouvir merda no final. Sem registro, pra variar, claro. Valeu para aprender que não vale a pena.

Em 2009...
... vou reservar mais tempo e energia para o que realmente vale a pena (não, não é o dinheiro. Até porque acho que ninguém vai ter muito disso no ano que vem)
... vou tentar não trazer mais problemas de trabalho para casa
... não vou deixar que se aproveitem da minha boa vontade (=estupidez)
... vou voltar a estudar e tentar desemburrecer um pouco
... vou voltar a praticar esportes
... vou tentar ter uma alimentação mais saudável
... vou começar a me preparar para a maternidade

A frase mais dita/escrita (já que quase não tive tempo para conversar com ninguém) foi "aqui, na correria de sempre". Quer saber? Estou de saco cheio da "correria". Que mundo é esse em que todo mundo está sempre "na correria"? Em nome de quê? De um emprego de bosta que só serve para enriquecer alguém que está pouco se fodendo para você?

Em 2008 gastei um absurdo de dinheiro em atos consumistas, para tentar dar conta de um vazio que não era no armário. Passei o ano me perguntando para que precisava de tantos sapatos. Tudo bem. Mulher gosta de sapato mesmo. Mas aí veio um jornalista que se tornou herói e, com apenas um par (um pé só, na realidade), deu muito mais sentido aos pisantes do que meu armário inteiro.

Ao contrário dos que lêem revista Veja e se negam sumariamente a ver que a crise vai chegar, estou me preparando para um 2009 bem mais magro, sem sapatos novos e em outro emprego, que paga quantitativamente menos, mas que é mais estável, com registro, seguro-desemprego, FGTS e tudo o que manda o protocolo. Apertei o cinto e aumentei minha reservinha e devo viver assim pelos próximos meses. Eu é que não vou ficar contando com pacotes de ajuda e políticas que não privilegiam a classe mérdia.

Dia 25 me mando para a Bahia e vejo se aprendo alguma coisa por lá. Até o ano que vem. E realmente espero que ele seja melhor do que este foi. E não estou realmente falando de dinheiro.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Mission accomplished

Toda vez que saio de um emprego me pergunto o que me segurou tanto tempo lá.

Hoje foi minha despedida extra-oficial. E aí me lembrei por quê.

À equipe de professores e Karina, consultora: Vocês são ótimos profissionais, excelentes pessoas e foram uma equipe que nunca um dia esperei ter. Nunca deixem que lhe digam o contrário, ou pior, que lhe convençam do contrário. Espero realmente que as coisas mudem por aí, pois vocês merecem salários (muito) melhores e condições para continuar entregando o serviço maravilhoso que já fazem. Obrigada por me fazerem sentir que fiz um bom trabalho. Proud of you all.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O tal do desemprego

Desde que me tornei coordenadora de escola e fiquei responsável pelas contratações de professores que tenho uma impressão diferente a respeito do desemprego.

Não sei como é nas outras áreas, mas em escola de idiomas de rede de franquias não está nada fácil contratar. Estatisticamente, de cada 5 entrevistas que marco com candidatos, 4 não vêm (e não avisam, e lá estão eles de novo no processo seletivo do ano que vem). E aquele que vem normalmente não sabe inglês a ponto de poder lecionar. Ou então sabe inglês, mas não tem absolutamente nada de educador na sua veia. E tem aqueles que a gente liga para marcar a entrevista e eles não só querem escolher data e horário para serem entrevistados, mas também querem que você explique como vai para lá de ônibus. Uma coisa é pedir um ponto de referência, outra coisa é pedir para você se virar para ensinar o cara a ir de Pirituba para o Limão.

Como eu mudo muito de emprego (meu recorde é de 2 anos no mesmo lugar) e já ocupei o lugar da pessoa que faz o recrutamento, aprendi algumas coisinhas:

1. Se você não vai chegar na hora e local marcado para a entrevista, ela não vai confiar que você vai chegar na hora quando estiver empregado;
2. Se você não sabe chegar no lugar, você vai se virar para aprender. Pegue o endereço do local, peça um ponto de referência se necessário e se vire! Ou a pessoa que está te entrevistando vai achar (com razão) que vai ter que ser sua babá para sempre. E ninguém quer contratar alguém que vai te dar mais trabalho do que te ajudar.
3. Se você não está minimamente capacitado para a função, tenha "senso de noção" e vá procurar outro tipo de emprego. É absolutamente patético querer ser professor de alguma coisa e não saber aquela coisa. Só no Brasil mesmo!

Pode ser ainda que aquele que não esteja preparado encontre uma pessoa como eu na vida. Em outubro entrevistei uma menina muito legal. Tinha a cara da escola, acreditava nos princípios pedagógicos que regem a escola, era extrovertida, tinha boa postura e tom de voz, além de ser divertida. Mas não falava bem inglês. Juro que fiquei com vontade de dizer "Olha, para ser professora ainda não dá, mas você pode ser minha amiga e se matricular no nosso intermediário 1". Como realmente gostei muito da candidata, o que falei, no entanto, foi: "Olha, você tem todas as características que espero encontrar em uma professora de nossa escola, mas ainda tem que estudar um pouquinho de inglês. Ainda não está legal para poder dar aula aqui. Entre num curso, retome seus estudos e ficarei muito feliz em te ter em nossa equipe daqui a uns 2 ou 3 anos".

Adivinha o que tinha na minha caixa de e-mail ontem? Um CV dela. Igualzinho ao anterior. Aí eu comecei a entender porque as empresas dizem "A gente te liga". Simplesmente não adianta gastar saliva.

Mais uma vez, não sei como está em outros nichos, mas para dar aula de inglês em escola de idiomas tem emprego sim. Só não tem gente capacitada para ocupar estas vagas.

A explicação é simples: a escola de idiomas paga uma miséria e muitas vezes não registra. Tá errado o pobrezinho do candidato? Começo a pensar que errados estamos nós, com diploma USP e certificado de proficiência Cambridge, que nos sujeitamos, por puro amor à arte, a trabalhar para esses safados. (Não estou generalizando. Tem franquia séria sim, mas é que ainda não trabalhei para nenhuma). Penso que, por mais que o emprego seja uma merda, tem que ser profissional. Mas aí sou eu, que sou ingênua e a galera monta em cima. E mesmo assim, chega uma hora que não dá mais. Uma vez, o dono brincou de fazer exibição de poder, dizendo: "Ninguém é insubstituível". E eu respondi: "Nem a escola". Não aguento mais esse aviso prévio. Amanhã é meu último dia. Ufa.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

É Natal!

A ode ao cartão de crédito!

Se tem coisa que eu ODEIO é quando não dão desconto à vista. Que disparate é esse que me obriga a comprar o financiamento ao invés do produto?

Outra coisa que eu ODEIO é R$19,99. Se o puto não vai colocar R$ 20,00 na etiqueta, eu pago no débito, só para não pagar aquele 1 centavo que ele não vai me dar de troco.

Ainda outra coisa que eu ODEIO é "promoção" de shopping. Você gasta R$ 200,00 para ter o direito de comprar um brinde horroroso por R$5,00, feito por escravos tailandeses e que custou para o shopping menos de R$0,03.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Nada a declarar

Sabe quando a gente está "blehh"?

Então. Estou assim. Deve ser a TPM. Falando em TPM, aquele Advil gelatinoso foi a melhor invenção dos últimos tempos. O antigo demorava quase uma hora para fazer efeito.

Ainda bem que hoje não dou aula. Só prova. Vou levar meu livro e nem vou fingir que estou olhando aquele monte de marmanjo desesperado por nota.

Estou lendo Kawabata. É o primeiro dele que leio. Ainda não tenho opinião formada, exceto que estou gostando.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Pensamentos jogados de uma mente com fome

E no final das contas fez sol todos os dias. Só choveu no sábado. Mas, tudo bem, porque tinha tirado esse dia para visitar um amigo em Registro. Sabe o que acontece quando a gente só passa filtro solar no braço e se esquece do antebraço? Sim, uma marca horrorosa. Nos dois braços.

Acho muito engraçado que a mesma pessoa que fala de mim pelas costas tenha vindo me alertar de que há gente falando de mim pelas costas. Devo agradecer pelo conselho?

Vou para a Chapada Diamantina passar o Ano Novo. De carro. Por enquanto, sem planejamento nenhum. Mandei vários emails para pousadas para saber se havia vagas para o período e nenhuma me respondeu. Das duas uma: ou está tudo lotado ou a pessoa que checa email uma vez por mês ainda não checou. Pelo jeito as coisas ainda são feitas por telefone lá na Bahia. De qualquer maneira, minha barraquinha, o fogareiro e a mochila cargueira estão meio mofados, mas ainda funcionando (espero).

Sabe que meu último mochilão foi em 2003? Estou com (alguma) saudade do perrengue. Ainda não sei se aceitei completamente essa vida de velho que viaja de carro e fica em pousada. Mas aí penso que carregar 15kg nas costas, com chuva na cabeça, por 15 dias, com os pés encharcados no meio do mato poderia ser facilmente trocado por uma cama e banho quente com passeinhos menores de mochilinha com lanchinho e agüinha de garrafinha (não sei se com trema ou sem. Não conta para ninguém, mas nem olhei a nova norma).

Mas não achem que é férias não. Não sei o que são férias remuneradas há pelo menos 9 anos.

[EDIT] É claro que não estudei espanhol coisa nenhuma. Ainda não sei usar os malditos objetos direto e indireto e nem conjugar o verbo "decir".

[EDIT 2] Agora com Twitter no blog.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Insanidade

Nada como sete meses sem feriados para nos transformarmos em bestas humanas e achar racional enfrentar oito horas de trânsito para chegar a uma praia lotada e com chuva...

Na volta conversamos.

Estou levando meu material de espanhol, pois a prova está chegando e, como todo bom aluno, vou fingir que estudei na praia (com chuva). Previsão de sol e calor para a segunda-feira.

sábado, 15 de novembro de 2008

Tragédia e Comédia

De todos os mililitros do meu "eu", a parte de que menos gosto é aquela que é obrigada a usar a máscara do sorriso amarelo. Aquela que impede que eu vá de encontro ao pré-adolescente com o celular pendurado no pescoço impondo seu lixo auditivo sobre os outros - o que me parece ser o gesto do egoísmo por excelência nos lamentáveis dias de hoje - e lhe enfie fones de ouvido na porrada.

[Motosserra MODE starting in 05 seconds. Please wait.]

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Só porque...

Hoje fiz uma das coisas mais engraçadas que já fiz na vida: um teste de gravidez.

Por que engraçado?

1) Na boa, a própria idéia de fazer xixi no potinho (sem contar a ginástica para não fazer na própria mão, é claro) já é engraçada, seja qual for a situação;

2) Não havia suspeita de gravidez. Eu só fiz o teste porque chegou na data de validade. (O teste havia sido comprado para outra ocasião, mas no mesmo dia, a suspeita se desfez, o teste não foi necessário e ficou lá na gaveta.)


Aí fiquei pensando no monte de coisas que a gente faz "só porque" [insira qualquer motivo aqui].

A gente come um monte de coisa que não está com vontade só porque vai estragar. A gente troca os pontos do bônus de cartão de crédito por um conjunto de colher, garfo e faca só porque os pontos vão vencer e não tem NADA útil por que você possa trocar (porque para isso você precisa gastar mais de mil reais por mês no cartão). A gente acumula um monte de brinquedo lixo jogado numa gaveta só porque vinha junto com o lanche ou com o Kinder Ovo. A gente abre a amostra grátis de Corega mesmo sem usar dentadura, só porque é grátis. A gente guarda aquele CD de MPB que a gente nunca vai ouvir, só porque veio "de graça" com a nova conta do banco / o perfume / o plano de saúde / o seguro do carro etc. A gente guarda um monte de roupa e sapato que nem usa mais só porque não tem conhecido para quem doar, acha que instituição só rouba e que mendigo não merece. A gente não cancela o cartão que não usa só porque paga anuidade zero (por um ano). A gente não põe empregador sacana no pau só porque (acha que) não vale a pena. A gente não separa o lixo para a coleta seletiva só porque as outras pessoas do prédio não vão separar. A gente não deixa de votar nos mesmo políticos só porque "os outros não têm chance" e depois reclama que nada muda. A gente faz teste de gravidez sem necessidade só porque vai vencer e o teste me custou dinheiro.

A coisa vai longe.

Ninguém quer ser passado para trás, é claro. Mas tem cada coisa que fazemos sem questionar! (Aliás, quem foi o idiota que colocou a amostra grátis de Corega na revista?!)

E quando eu me deparo com uma situação ridícula de fazer um teste de gravidez só porque vai vencer, só me resta dar risada e pensar na próxima situação ridícula em que vou me colocar "só porque"...

Paralisia

Contra o tempo, somos nada.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sobre a não-responsabilidade

Acho que a pior doença de que sofremos hoje é a da não-responsabilidade. Sobre nada, eu digo. É possível que a especialização de nossas carreiras tenha contribuído para isso, mas às vezes acho que não: a raça humana ficou tosca mesmo.

Quando íamos ao médico, íamos ao médico. Hoje, você vai ao clínico geral. Se você tiver ACNE, você sai do consultório (cuja consulta lhe custou algumas horas de seu trabalho + seu tempo) com um papelzinho de encaminhamento para o dermatologista.

No caso dos filhos é ainda pior. Por serem obrigadas a trabalhar (pois a economia doméstica não é compatível com só um contribuinte), as mulheres delegam a educação de seus filhos para quem quer que seja: a escola, o curso de inglês, o futebol, a empregada e - a salvação da humanidade - à tevê a cabo e à internet.

Um desses dias me deparei com a idéia genial de criar o Depósito de Crianças. Pela módica quantia de 100 reais por mês, você deposita seu filho em nossa instituição. Aqui, ele não aprende nada e nem finge que aprende (assim, nós também não temos que fingir que ensinamos), mas nós garantimos sua integridade física e garantimos que ele não gerará outros filhos, já que em nossa instituição você conta com jaulinhas individuais, devidamente higienizadas. Mais barato que qualquer curso e você se livra de seu filho por muito mais tempo! E não é só isso! Se ligar agora, você ainda ganha uma almofada, para seu filho ficar ainda mais confortável! E se for um dos primeiros 15 a ligar, você ganha uma outra almofada: esta, para você, que poderá aproveitar o dia todo sem seu filho te enchendo o saco!

Acho que ficaria rica com isso se a sociedade não fosse tão hipócrita.

No meu dia-a-dia, converso com ótimas candidatas e candidatos a cliente para o Depósito de Crianças. É fácil julgar quando não temos filhos. Mas a falta de responsabilidade, não só dos pais como dos filhos também, está gerando uma era de depressão - e não precisa ser gênio para ver. Nos pais porque se sentem impotentes perante seus filhos. Nos filhos porque quando não há responsabilidade, não há conquista. E se nada significa nada, para que fazer algo?

Todos os dias ouço coisas como:

"Se meu filho não faz as tarefas é VOCÊ quem tem que cobrar. Quem é que é da escola?"
"Meu filho não vai passar?! Quem você pensa que é para reprová-lo?!"
"Ah, ele é assim mesmo... Que se vai fazer?"
"Ah, você sabe que se vocês reprovarem meu filho, eu vou tirar daqui, né?"
"Minha filha tem problema de aprendizagem? Não tem não. Levei ela no gastro e ele não falou nada disso."

E me dá uma vontade de oferecer os serviços do Depósito...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sapatos apertados

Certas decisões são como tirar sapatos apertados. São como tirar o sutiã e o relógio no final do dia. Aquelas coisas tão cotidianas que estavam lá.... nos incomodando... Mas que nem percebíamos...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre a inteligência humana

Pensei em mil coisas para escrever. Escrevi e apaguei mil coisas. Mas, no final, é isso: minha tolerância à estupidez - que já não era grande coisa - está diminuindo com os anos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Que feminismo é esse?

Que feminismo é esse que obriga que nós façamos carreira e estejamos no topo do mundo aos 30 anos?

E depois tem a história da inseminação artificial para dar conta de um descompasso biológico que se instituiu porque não existe "dar um tempo" no início de carreira (que vai até os 30 anos).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Onde foi que deixei meus neurônios?

Já tem algum tempo que me pergunto isso. Afinal, esse tal de mercado me fez passar por um indolor processo de emburrecimento. Indolor porque é lento e quase imperceptível. Tal como em Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago (o livro, não o filme - que fique claro). As coisas simplesmente vão acontecendo e nós, cegos, vamos aceitando. Quando paramos para refletir é que percebemos as atrocidades que causamos a nós mesmos. É quando olhamos para o mundo supostamente civilizado que percebemos até onde fomos capazes de suportar.

Uma grande amiga minha (que após sua formatura na USP amargou dois anos de subemprego e se cansou e foi lavar prato num bar podre em Londres) escreveu um texto muito bom. Reproduzo-o aqui, sem a devida autorização, pois está em algum lugar incomunicável na Costa Rica (para onde, após amargar dois anos de subemprego em Londres e se cansar, foi, para procurar outras oportunidades em um outro subemprego que, pelo menos, alivia sua consciência):

***

Nós, cavalos?

Como já devo ter contado, os irlandeses compartilham uma paixão com os ingleses: a corrida de cavalos. É bem provável que ela seja até mais importante pros irlandeses. Na verdade, o pessoal aqui das ilhas tem um probleminha com jogo, sabe? Eles apostam em absolutamente tudo, incluindo a cor do chapéu que a rainha estará usando na corrida real (Royal Ascot), em que ela entra de carruagem acenando pros súditos!!! E tô falando sério, nas casas de aposta - que abundam em toda a cidade - era possível pôr dinheiro até nisso. Meus amigos apostadores sabem quem ganha com isso (as casas de aposta, claro!), mas a atração é irresistível.

Voltando à corrida de cavalos, ela é meio que um senso comum entre os irlandeses (pelo menos os que freqüentam a Maggie) e portanto eu sou obrigada a assistí-la quase diariamente por horas a fio. Aparte algumas coisas práticas que aprendi, tipo o que quer dizer 15-2, dicas de como apostar e nomes ridículos pros coitados dos animais, essa mania bretã também me levou a refletir sobre a vida que levamos.


Vejam só: os pobres dos cavalos são treinados por gente especialista por anos e anos, e aquilo que naturalmente lhes daria prazer, que é correr por aí, torna-se sua obrigação e sua sina, a razão de suas vidas. Alguns cínicos alegam que os cavalos gostam naturalmente de correr e que portanto o turfe não representa maus tratos aos animais. O que eu tenho visto me faz tirar conclusões bem diferentes. É necessário empurrar a maioria dos cavalos à força para as baias de largada, chegam a vendar os olhos de alguns e ocasionalmente um se revolta a ponto de não o conseguirem fazer entrar na baia. Porém uma vez que estão dentro daquele espacinho minúsculo e é dada a largada, TODOS eles correm como uns desesperados, como se ultrapassar os demais fosse a única coisa que importasse. Claro que apenas um vence, e então no melhor dos casos ele ganha água, uma coberta chique e alguns segundos na TV, se a corrida for mesmo importante. O jóquei, que também foi treinado por anos e anos e apenas sentou sua bundinha no cavalo vencedor, é quem sobe ao pódio, pega o troféu, dá entrevista e bebe o champanhe, juntamente com o treinador e o dono do cavalo.

E então de repente eu me peguei pensando: cara, que merda! Nós também somos ensinados nossa vida toda a correr para chegar na frente dos nossos colegas, nos ensinam a jogar o jogo como se não houvesse outro caminho possível - e nós acreditamos realmente que não há. Nos treinam por anos e anos a trabalhar longas e monótonas jornadas, e atividades que de outra forma talvez fizéssemos por prazer tornam-se o sentido último da nossa existência e nossa desgraça pessoal. Muitos de nós têm de ser empurrados para as baias à força, mas uma vez estando lá corremos como uns desesperados! Jogamos o jogo, corremos a vida toda sem nem mesmo saber o porquê, só porque assim nos ensinaram, e no fim não somos nós que bebemos o champanhe. Estão lá o jóquei e o treinador na TV, e para nós água.

Meu momento favorito é quando o jóquei cai. Muitas vezes o cavalo continua na fúria competitiva para a qual foi adestrado e chega mais leve em primeiro - o que não vale nada, cavalo sem jóquei não conta, o que já diz muito. Mas às vezes, bem às vezes, ele simplesmente segue num galope libertado, no seu ritmo, escolhendo outro caminho. É aí que eu vibro e quase imagino a sensação de liberdade que ele deve estar sentindo.

Será que um dia, nós... Será?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Feliz Dia dos Professores

A todos nós que escolhemos esta profissão e que ainda acreditamos que o mundo pode ser um lugar melhor. =)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O homem-escritório, de volta

Retificando: o homem-escritório não é feliz.

O homem-escritório simplesmente não sabe o que faz. E muito menos por que o faz.

A ignorância pode ser uma dádiva. Não porque traz felicidade, mas porque faz com que o homem-escritório desconheça a dimensão de sua própria estupidez.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Mulher de 30 Anos

Prestes a entrar para o clube das balzaquianas, fico me perguntando se eu não deveria voltar para a USP, fumar maconha e andar de chinelinho de couro. Aí penso naquela imagem da tiazinha que não aceita sua idade, usa minissaia e fica de barriga de fora, sem perceber que tudo o que os outros estão vendo são os anos acumulados naquelas pelancas... Que se danem os outros, também. Feliz da tiazinha. Olho para o mundo com olhos corporativos e me pergunto se não devia começar tudo de novo. Mas aí me lembro de que eu realmente gostei muito daquilo que estudei e que talvez não seja tão para trás que devo olhar. E me lembro que minha coleção de sapatos aumentou nos últimos anos e que eu gosto dela. Mas também me lembro de que os dias estão passando e mal posso esperar pelo Natal, ou pelo Ano Novo, ou pelo Carnaval. E aí me dou conta de que os sapatos ainda não me levaram a lugar algum.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Long time no see

Nossa, faz mesmo muito tempo que não me dedico ao blog... Pensando bem, faz muito tempo que não me dedico a nada que não seja remunerado. Acho que este tipo de vida não me faz bem.

Sinto falta...

... de olhar pela janela só para admirar o mundo
... de pintar
... de fazer com que as coisas cotidianas se tornem poesia
... de fazer a poesia cotidiana
... de passar um dia inteiro pensando em nada especial
... de lavar quintal, passar roupa e saber onde estão minhas coisas dentro da minha própria casa
... de ouvir música na vitrola
... de ler um livro ao sol
... de andar de ônibus sem precisar andar de ônibus
... de ser turista em minha cidade

Como a gente se deixa engolir pela rotina, pelo trabalho e pela eterna busca de pagar nossas dívidas. Que destino vazio! No final, as melhores coisas da vida não custam nada. Sabe o pôr-do-sol de ontem? Nem eu. E sabe o que mais? Ele não volta. Já era.