terça-feira, 28 de setembro de 2010

Experiência


Já comi olho de peixe no Ceará.
Já dancei merengue no Chile.
Já me arrebentei ao cair de uma árvore aos dezessete anos.
Já me apaixonei perdidamente.
Já passei no vestibular. Três vezes.
Já preparei centenas de pessoas que passaram no vestibular.
Já tive pedra no rim. E ela ali permanece.
Já caronei 3600km em uma mesma viagem.
Já raspei a cabeça.
Já tive cabelo na cintura.
Já fui loira.
Já me casei de branco.
Já toquei guitarra em público.
Já tive dezenas de inimigos.
Já fiquei quase um ano juntando dinheiro para comprar uma calça da M. Officer.
Já briguei de mão com o ladrão.
Já demiti funcionários.
Já demiti chefes.
Já fui no Canto da Ema.
Já acordei sozinha no hospital depois de uma bebedeira memorável.
Já trabalhei lavando pratos e esfregando chão.
Já comi acarajé "quente" na Bahia.
Já dou aula para filhos de amigos.
Já passaram pela minha vida milhares de pessoas. Algumas ficaram, outras se foram, outras ainda voltaram.
Já percorri uma parte da minha vida e estou feliz com a trajetória.

Quando eu tinha 23 anos, um amigo de 45 me perguntou: "Como pode você ter a metade da minha idade e ter vivido o dobro do que vivi?"

Na época eu não respondi. Apenas sorri.

J., se ainda quiser saber a resposta, é simples. As oportunidades se apresentam sempre. Às vezes só precisamos esticar a mão para agarrá-las. As pessoas fazem um esforço tremendo para desviar da oportunidade, quando era só ficar ali, parado, e ser atropelado por ela. Mas o medo da mudança, do novo, do diferente, impede que vivamos novas experiências. Viva, ué. O pior que pode acontecer é você arrebentar a cara. Mas isso também não é vivência? Muitas vezes arrebentar a cara e ter vivido vale muito mais do que nunca ter tentado.

Com o tempo e a experiência, passamos a medir melhor o tamanho dos tombos. Mas se não estiver disposto a levar alguns, meu amigo, é melhor se enterrar porque quem não vive está morto.

(A foto foi tirada na viagem de carro que fiz à Bahia. Estávamos indo de Itacaré a Porto Seguro).

domingo, 26 de setembro de 2010

"Mr. Gorbachev, tear down this wall!"


Em meio à multidão, um par de olhos se destaca. Escuros, como seus pensamentos. Ela joga os cabelos no rosto e se esconde atrás de uma postura indiferente. Ouve seu nome. Ele a conhece. Há quanto tempo não ouvia seu nome. Construira uma fortaleza tão bem arquitetada que nenhuma partícula não autorizada lhe invadia o espaço. E sufocava. Diariamente, cotidianamente, imperceptivelmente sufocava. Os olhos se aproximam. Perigo. Chame a guarda nacional. Ela apressa o passo, em busca de abrigo, mas não sabe para onde ir. Olha de lado e o sorriso familiar lhe recebe, como quem oferece uma flor em uma ocasião ordinária. Sua respiração acelera e ela procura o oxigênio dentro de sua câmara hermética. É tarde demais. Concorda em deixar o muro cair. Um ato pela paz, e de extrema coragem.

sábado, 25 de setembro de 2010

El secreto de sus ojos




Para quem ainda não assistiu, vale o ingresso.

O filme é dirigido por Juan José Campanella, que também fez "O Filho da Noiva", e levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme não é daqueles "filmes que são uma foto" ou daqueles que precisamos de quatro horas de boteco para entender, apesar de só passar no circuito alternativo de cinema. O filme tem narrativa tradicional e elementos também tradicionais. Mas é muito bem escrito e funciona bem. Tem cenas brutais, é um drama com tons cômicos e mistura doçura com um tema pesado. Gostei bastante.

A companhia ajudou, devo acrescentar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Antigamente


Viajávamos nós cinco para a praia. Levávamos pão, salsicha, miojo e cerveja. Levávamos também aquele violão podre, com as cordas enferrujadas, e a seleção mais bizarra de CDs já vistos juntos: Janis Joplin, Legião Urbana, Metallica, Chico Buarque e Björk.

Levávamos aquela amizade pura de quem se juntou para tentar, juntos, entender e aceitar a complicada passagem da adolescência para a vida adulta.

Levávamos um monte de questões, medos, frustrações, esperanças, vontades e sonhos... sempre os sonhos.

As viagens se tornaram mais esparsas. Namorados começaram a acompanhar. O violão, apesar de podre, ganhou cordas novas. Os CDs eram diferentes. Havia costela ao invés de miojo. E pegávamos trânsito, porque não dava mais para ir no meio da semana e enforcar as aulas na USP.

Depois vieram os casamentos. E acabaram-se as viagens.

Meu amigo me disse hoje: "Fiquei frustrado. Eu estava na expectativa de fazermos outra viagem para a praia. Como antigamente."

"Antigamente" ficou no passado, A.. "Antigamente" não volta. Mas sempre podemos fazer uma nova viagem.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Impessoal e intransferível

O toque dos seus lábios contra os meus, o deslizar de suas mãos nas minhas costas, sua boca no meu pescoço. A conversa que cessa, os botões que se abrem, o abraço lascivo e as pálpebras cerradas. É fácil. É natural. É embriagante. Um último beijo e adeus. Não há combinados.

Que coisa mais intrigante que é ser mortal.

domingo, 19 de setembro de 2010

Progresso

F. vivia em uma casa térrea. Havia um pequeno jardim onde hoje há um Honda Fit e F. plantava flores e ervas aromáticas naquele pedacinho de terra. O piso de madeira era encerado religiosamente a cada quatorze dias, e as tapeçarias eram lavadas uma vez por mês. O sol da tarde esquentava o seu quarto, que sempre tinha as venezianas abertas pela manhã. E, à noite, quando F. se recolhia, o barulho do vento assoviando nas frestas de sua janela era o único som audível, exceto pelo ronco ocasional de algum familiar. O sono de F. era pesado. Custava a dormir, mas depois que estava embalada nos braços de Morfeu, só acordava ao ruído de seu despertador. Todas as noites, antes de se deitar, F. dava corda no mecanismo, exceto às sextas e aos sábados.

Por sobre o córrego, logo abaixo, havia uma pequena ponte de madeira por onde F. passava todos os dias no caminho para o comércio onde trabalhava, a sete quadras dali, cumprimentando os homens que ali pescavam ocasionalmente quando os via.

Um dia chegaram os tratores, para o encanto dos meninos do bairro.

Com a sujeira que a obra trazia pelo vento, seus tacos de madeira passaram a ser encerados uma vez por semana. Com a tapeçaria, primeiro F. tentou aumentar a frequência da limpeza, mas acabou por desistir e guardou tudo no quartinho da bagunça.

Alguns meses depois, o córrego estava canalizado e alguns outros meses depois, uma avenida o cobriu. Ah! O progresso!

F. precisou comprar um automóvel, pois era perigoso cruzar a avenida. Além dos veículos, trombadinhas se aproveitavam do sinal demorado e assaltavam os pedestres que aguardavam na ilha de tráfego para atravessar o restante da avenida.

Por causa do automóvel, F. precisou de um novo emprego para reformar seu jardim e transformá-lo na garagem que é hoje, pediu demissão do comércio local e foi trabalhar na Rua Quinze de Novembro, em um prédio de escritórios. Suas plantas foram colocadas em vasos e morreram algumas semanas depois.

Quando F. se deitava, a avenida ainda estava acordada. Carros, caminhões, ônibus, motoristas distraídos que freavam repentinamente diante do semáforo fechado, a orquestra cacofônica cortava e marretava a noite. Custava a dormir e passou a tomar florais para ajudar a relaxar. Acordava cedo, pois precisava ir ao centro da cidade todos os dias. Um despertador já não era suficiente. F. deixava dois: um no criado-mudo, ao alcance da mão, e outro do outro lado do cômodo, para que fosse obrigada a se levantar para desativá-lo.

As janelas receberam grades depois que entraram em sua casa para roubar eletrônicos. E as venezianas eram raramente abertas.

A cada dia um vizinho percebia a necessidade de ter um carro e o trânsito local piorou. F. passou a sair de casa cada vez mais cedo e a chegar cada vez mais tarde.

Sem tempo para cuidar da casa, F. contratou uma faxineira para vir uma vez por semana. E, para pagar a faxineira, F. passou a tentar galgar posições cada vez mais altas no prédio de escritórios onde trabalhava. Fez supletivo. Fez faculdade.

O silêncio que nunca foi apreciado se fora. Mas F., que jamais o percebeu, só sabe que sua vida é uma porcaria.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Compromisso

"No momento em que nos comprometemos, a providência divina também se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso favor. Como resultado da atitude, seguem todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda, que nenhum ser humano jamais poderia ter sonhado encontrar. Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém em si mesma, o poder, o gênio e a magia." (Goethe)

Parece-me que a parte mais difícil de um compromisso é assumi-lo. Depois que já está decidido, vira técnica.

Tomei uma decisão simples, porém importantíssima na semana passada. Recusei um emprego estável, que paga o dobro do que estou ganhando hoje. Não quis sequer negociar. Não importa o quanto a pessoa está disposta a pagar: não será suficiente. Não porque acho que mereço ganhar muito mais. Não é esse o ponto. Mas porque sei que serei, como sempre fui, descartável. Que quando o cara resolver que fiquei cara ou que estou faltando demais por afastamento psiquiátrico, serei substituída, minhas gavetas esvaziadas e não haverá sequer tempo de minha cadeira esfriar até que seja ocupada por um novo funcionário de uns vinte anos que trabalhe com o dobro de empenho (eu não disse "competência", friso) pela metade do salário. E não há como lutar contra isso. É fenômeno mundial.

Independentemente do que vai acontecer com o meu bolso, decidi que 2011 é o ano do investimento em mim mesma. Estou voltando para a universidade. Já tem seis anos que saí de lá. Serão sete no ano que vem. Número cabalístico. Tentativa de mestrado de número três. Outro número cabalístico. Desta vez eu termino! Já pensei muito em fazer pós em faculdade particular. Mas lembrei de um antigo lema meu mesmo: se é para fazer, faz direito (e não Direito, como também já considerei). Além disso tem a questão da grana. Não estou disposta a vender meu carro para pagar um curso particular que não vai aumentar mais do que alguns centavos na minha hora de trabalho. E que, possivelmente, não vai me acrescentar muito mais do que já aprendi com a experiência.

Tanto o mundo já começou a conspirar que começaram a aparecer algumas ideias para o projeto. Aguardem-me. Vou desemburrecer.

Lírica


‎"my advice to all young people who wish to become poets is: do something easy, like learning how to blow up the world —unless you're not only willing, but glad, to feel and work and fight till you die." (e. e. cummings)


Não sei de vocês, mas vivo cercada de opções para ficar cada vez mais negativa, pessimista e descrente em tudo. No noticiário, na vida besta, nas atitudes dos outros... Parece-me que a realidade sempre bate à porta. E a machadadas.

Já disse que não sou uma pessoa fofa. Odeio gente que fecha os olhos às hecatombes humanas e só quer ver "o lado positivo" da vida.

A capacidade de ver poesia, no entanto, é algo de que não abro mão. Ser capaz de ver o belo no atroz é um dom, acho eu. O belo não precisa ser aquele, grego. Pode ser um belo gauche. A antilírica existe para isso mesmo.

Ontem fui surpreendida por mim mesma ao me emocionar com a beleza de um relato triste, ainda que mundano e ordinário.

Não sou poeta para transformar qualquer coisa em palavras. (Aliás, estou passando por um período de branco mental, caso não tenham notado ainda). Tampouco pretendo ou finjo ser. Sou apenas alguém que gosta de observar o mundo e escrever sobre ele aqui nesse espaço. É quando vou pensar na próxima postagem que paro um pouco, saio da rotina, deixo a realidade passar através do meu cérebro por alguns minutos no meu dia, e percebo que há lírica nas coisas mais banais...

[edit] Sei lá por que esse Blogger resolveu que não vai me deixar usar a fonte de sempre hoje. Espero que se resolva.

domingo, 12 de setembro de 2010

Noite paulistana


Há algo de mágico no centro da cidade. Você olha para o alto e não precisa ir a Paris.

As pessoas esperam pelo último trem. Algumas com o olhar cansado e as roupas amarrotadas e suadas de quem trabalhou o dia todo. Outras com maquiagem pesada, botas e cabelos coloridos, se preparando para dançar na pista até não sentirem mais os pés. Outras ainda com mochilas enormes e cadernos. Todos misturados no mesmo vagão em um sábado à noite, carregando sonhos.

sábado, 11 de setembro de 2010

Bom samaritano

Nada me incomoda mais do que pessoas que vendem a imagem do bom samaritano quando, no fundo - e às vezes nem tão no fundo assim - são tão egoístas e interesseiras quanto todos somos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

7 coisas sem as quais não posso viver




Uma paixão: Sou movida por paixão. Quando me apaixono, seja por uma pessoa, por um projeto ou por uma causa, não há força capaz de me derrubar. A não ser, é claro, que eu me desapaixone.






Uma questão: E o que torna a vida deliciosa é saber que, ao encontrar as respostas, as perguntas já mudaram.






Uma boa risada: Quem é que aguenta dia após dia de rotina sem dar boas risadas? Há que saber rir da vida, rir das pequenas tragédias cotidianas. Levar a vida a sério demais causa problemas de saúde e afasta as pessoas.





Um espelho: Autoimagem é muito importante, acho. É bom saber como nos vemos, onde estamos localizados, quais são nossas referências...







Uma mochila: Para carregar tudo o que eu aprendo, os vínculos que faço e as memórias que valem a pena guardar.







Um norte: Mesmo que eu vá aonde o vento me levar, saber onde está o norte é essencial. Ainda que os caminhos sejam tortos e cheios de pedras, acho bom saber para onde se vai.




Companheiros de viagem: Sejam eles amigos, familiares, cônjuges, animais de estimação... Viajar sozinho só é gostoso quando temos para quem contar nossas histórias depois. Acho que a jornada - aquela, a maior - deve ser compartilhada, ou não faz sentido. Pelo menos para mim...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

7 coisas que eu nunca usaria

Indo na onda da brincadeira postada pela Bah, vou listar os meus desfavoritos, já que não estou muito inspirada para escrever hoje.


Calça saruel: Gente, me desculpem, mas mulher nenhuma fica bem com essas calças. Esse cavalo no meio dos joelhos é a coisa mais feia que já vi na minha vida, em termos de vestimenta. Se for pelo conforto, use saia.






Saia tulipa com cintura alta: O modelo tulipa (nome moderno para o oitentista "balonê") já é horrível por si só. Com cintura que vai parar na linha dos peitos então, é um crime.







Calça baggy: Pára tudo. Eu usei isso nos anos 90! Mas prestei juramento à bandeira de nunca mais usar calça baggy com cintura até o meio do peito.







Tênis com salto alto: Ok. Alguém me explica o que é isso? Juntou o pior dos dois mundos: acabou com o conforto dos tênis e com a elegância dos sapatos de salto.








Maiô com recortes bizarros: Essa coisa que não é nem maiô nem biquíni deve deixar uma marca de sol bastante peculiar: um triângulo nada a ver de um lado só da barriga?! Será que as pessoas não pensam nisso?







Ombreiras: Certas coisas deveriam ficar nos anos 80. E somente lá. Isso se aplica à cor verde-limão que a pessoa escolheu para combinar com as ombreiras. Só faltou a polaina.





Implantes de silicone: Aí cada um faz o que bem entender. Não tenho nada contra quem faz, quaisquer que sejam os motivos. Mas eu, particularmente, acho desnecessário passar por uma cirurgia - que é sempre um risco -, gastar um dinheirão, amargar dois meses de pós-operatório para ter peitos artificiais. Os meus são minúsculos. Pareço uma tábua. Mas não passaria por isso em nome de uma estética ditada pela mesma moda que elege como modelos calça saruel, saia balonê, calça baggy, tênis de salto, maiô com buraco, ombreiras...

domingo, 5 de setembro de 2010

Carta ao meu amigo R.


Há cerca de quinze anos, troquei correspondência com um rapaz de Minas Gerais.

Ficava esperando pelo carteiro, reconhecia a caligrafia de longe, abria o envelope, onde se lia "carta social", e desfrutava as palavras... Lia e relia diversas vezes. Via a pressão da caneta contra o papel e sabia se ele estava com raiva, se tinha escrito enquanto estava deitado na cama, ou na aula chata de matemática... E ficava dias carregando a carta na mochila, como um tesouro particular. As palavras flutuavam na mente enquanto elaborava uma resposta.

Alguns dias depois, me sentava na escrivaninha. Pegava a folha de papel e a caneta. E dialogava com aquelas já conhecidas linhas no papel amarrotado de tantos dias na mochila.

Anos se passaram e as cartas de R. continuavam vindo. As questões mudavam, se transformavam. O que começou quase como brincadeira virou um vínculo profundo e marcou minha passagem de adolescente para a vida adulta.

Prestamos vestibular na mesma época. Sem saber, R. me ajudou a encontrar meu caminho. Sofria muita pressão da família para cursar um curso tradicional. Direito ou Medicina. E R. sabia tão claramente o que queria... E não se dobrava a qualquer tipo de pressão. Sem sequer desconfiar, com R. aprendi que vale a pena trilharmos nosso próprio caminho, ainda que ele esteja cheio de pedras.

R. sempre foi uma pessoa muito questionadora e inteligente. E ter um amigo assim, o único amigo assim na época, me fez querer ser uma pessoa melhor, me fez querer estudar mais e saber mais sobre o mundo, e ter propriedade para falar sobre as coisas.

Depois veio o e-mail. E as cartas cessaram.

Não havia mais caligrafia, nem pressão da caneta sobre o papel. Não havia mais a espera pelo carteiro. Não havia mais o tempo de quase memorizar suas palavras para só então responder. A pressa, o cotidiano, a praticidade e tudo o que vem com ela atropelou a amizade de tantos anos.

E os e-mails também cessaram.

Hoje R. mora em minha cidade, em um bairro vizinho, mas se nos vimos uma vez foi muito (lembra? Naquele churrasco, em 2004 ou 2005). Nossas vidas se perderam no dia-a-dia.

R., meu amigo, meu irmão de alma, obrigada por tudo. Você foi muito importante e, apesar da distância ser maior hoje do que era quando escrevíamos cartas e você morava em Minas, seu lugar na minha vida está aqui, como sempre, reservado. Não se esqueça de tudo o que me ensinou. Não deixe de viver. Não deixe que as pedras do caminho sejam maiores do que a poesia. Eu gostaria de ter guardado as cartas, como sei que fez, mas o cotidiano também as levou, na falta de espaço e nas minhas duas mudanças de casa. Mas o conteúdo delas permanece vivo. Afinal, carreguei por dias na mochila cada uma delas, como um tesouro particular.

Cliché

Desculpe a ausência. Não pude te ligar. Estive muito doente nos últimos dias. E estou atolado de trabalho. Sabe como é... O pior é que deve continuar assim nas próximas semanas. Aliás, eu queria conversar com você sobre o que vem acontecendo. Minha vida está uma loucura, sabe? Não é nada com você. Sou eu. Vamos marcar um dia para conversarmos?