terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Controle-se, mulher

Sei que é difícil resistir.

Mulheres possuem vocação natural para agradar a quem quer que seja. Nossa aparência é mais agradável, nossos cabelos são mais sedosos, nossa voz é mais doce, nossas mãos são mais macias. Parece que fomos feitas para isso, não?

Controle-se, mulher.

Coloque-se no lugar do outro. Toda mulher já teve aquele (ex-)namorado chatíssimo que ligava duzentas vezes por dia "só para ouvir a sua voz", que não a deixava abrir a porta do carro (e ficava ofendido quando você abria a porra da porta), que fazia questão de andar do lado "certo" da calçada (cavalheiro sempre no lado da rua, gente. Na falta de rua, cavalheiro à direita e dama à esquerda), que nunca a deixava pagar a conta, que lhe trazia flores a cada dois dias e bichos de pelúcia a cada semana, que deixava bilhetinhos para você encontrar ao longo do dia (na sua bolsa, na sua carteira, no seu carro, na sua gaveta de calcinhas, debaixo da pia...), que a buscava e levava para tudo quanto é lugar (inclusive, a surpreendia na porta da faculdade, com um buquê maravilhoso e e-nor-me de rosas colombianas vermelhas... justo no dia daquela cervejada épica com a galera... mas ele tinha planejado uma noite romântica no restaurante chique!) e que dizia tanto "eu te amo" que você chegava a se perguntar se faltava vocabulário para que o moço pudesse discorrer sobre assuntos um pouco mais interessantes.

Parece o cara perfeito, não? Ele certamente achava que estava fazendo tudo certo, que estava sendo romântico e tal. Às vezes a gente perde a noção. Às vezes também não sabe o que quer. Mas uma coisa é certa: o que vem fácil e vem em excesso é um saco.


E a máxima vale para os dois lados.

Da próxima vez que for tomada por uma vontade incontrolável de agradar o seu macho, controle-se, mulher. E agrade com moderação.

Não queira ser a ex-namorada-psicopata-maníaca-que-não-largava-do-meu-pé (sim, querida. Esse será seu apelido num futuro não tão distante se você continuar achando que ele quer ser agradado, cuidado, massageado e afofado em regime 24/7).

Lembra do seu ex-namorado que era um saco? Então...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Two to tango

Não é exatamente nobre admitir que decidi tomar as aulas para vigiar o namorado, eu sei. Mas, veja bem... Não é que ele tenha entrado para o time de futebol ou começado a disputar racha em carros tunados... É tango, cacete. A dança sensual por excelência, na minha modesta opinião. Eu sempre quis fazer, mas acho que nunca tive a motivação certa. Ok. Aí está.

Motivações ridículas à parte, estou feliz de ter tomado a decisão de vigiá-lo, pois gostei muitíssimo da aula. E estava pensando que, fosse dez ou quinze anos atrás, eu simplesmente não conseguiria. Isso porque, como em toda dança, o homem conduz e a mulher é conduzida. E sempre achei difícil demais ser conduzida. E o medo de perder o controle? Como lidar com a minha própria ansiedade de não saber o que vai acontecer? Para onde isso vai?

Bem, estou tendo que aprender a perder o controle. A confiar no parceiro e a confiar em mim mesma. E acreditar que terei o equilíbrio para me mover com leveza e graça, não importando para onde sou levada.

Parece-me um ótimo aprendizado.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um mês e meio depois

O grande problema de todos os vícios é a lavagem cerebral a que somos submetidos todos os dias de nossas vidas. 

Parar de fumar é fácil. Fala-se de vício químico e o escambau. Olha, todas as noites o fumante fica suas oito horas sem cigarro. (Tem aqueles que acordam no meio da noite para fumar, mas, mesmo esses, ficam, digamos, quatro horas sem cigarro, ok?) Se o vício fosse realmente somente químico, acho que conseguiríamos ficar as mesmas oito (ou quatro) horas sem fumar durante o dia também, não conseguiríamos? Tente. (Ou vão dizer que o sono fabrica nicotina?)

Como posso crer em um sistema que me diz para parar de fumar e reforça em cada cena do cotidiano o quanto o cigarro acalma nos momentos de estresse, alegra nas festas, traz vida ao momento do ócio, ajuda a concentrar, socializa o ser humano, ajuda na digestão e promove quase outro orgasmo se acontecer depois do sexo? Olha a foto aí do lado, gente. Não dá, né?

Quer um motivo para parar de fumar? Esqueça a saúde, esqueça a lei antifumo, esqueça o fedor, esqueça tudo isso. Nada disso me fez parar. Só me fez estressar mais e querer fumar mais. Se quiser parar, pare porque você não aceita mais a lavagem cerebral. Pare porque você se recusa a ser manipulado. Não pela nicotina, mas pela lavagem cerebral. Só por isso.

Pior do que o cigarro são as revistas femininas. Mas isso é assunto para outro post.


P.S.: Depois de tantos anos dando aula em escolas de idiomas eu sou obrigada a saber disso: happy Valentine's Day (para quem está fora ou para quem é de fora).


P.P.S.: Quem ainda não foi ver "Cisne Negro" (Black Swan), vá! Com certeza o melhor filme que vi nos últimos tempos. Até a atuação da Natalie Portman me agradou - algo absolutamente inesperado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Curso expresso de locomoção urbana

Visando melhorar o lamentável trânsito que assola não só capitais, mas também cidades do interior, praias e, principalmente, centros comerciais, o Odds and Ends orgulhosamente apresenta o "Curso expresso de locomoção urbana". 

O curso é dividido em três módulos e cada um deles confere um certificado ao participante que obtiver aproveitamento mínimo de 70% (setenta por cento) nas provas prática e teórica.

Apresentação do programa:

Módulo 1: Como andar a pé: um passo depois do outro

Aula 1: Como ser visto
Aula 2: Como permanecer à direita se estiver andando com velocidade inferior à média das outras pessoas
Aula 3: Andando com sacolas e/ou malas
Aula 4: Andando com crianças de colo
Aula 5: Andando com animais
Aula 6: A faixa de pedestres: como reconhecê-la e para que serve?
Aula 7: Como utilizar um guarda-chuva sem cegar ou molhar os demais transeuntes



Módulo 2: Transporte público - Um desafio para todos


Aula 1: Introdução à Física: dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço
Aula 2: Como estar com o bilhete ou o dinheiro em mãos na hora de passar pela catraca
Aula 3: Como oferecer para segurar a mochila enorme e pesada da pessoa que está de pé
Aula 4: Como segurar a mochila enorme e pesada nas mãos para não atrapalhar a passagem se estiver de pé
Aula 5: Como não ficar na região das portas se não for descer
Aula 6: Física Avançada: por que deixar as pessoas desembarcarem antes de embarcar? 
Aula 7: Como utilizar escadas e escadas rolantes nas estações: pensando coletivamente


Módulo 3: Veículo particular

Aula 1: Introdução à Biologia: o veículo particular não o torna imortal
Aula 2: Introdução à Sociologia: o veículo particular não o torna melhor que os outros
Aula 3: Conhecendo o seu veículo: o que é opcional e o que é obrigatório
Aula 4: Mudando de faixa: como não matar ou aleijar motociclistas
Aula 5: Como estacionar sem ocupar duas vagas
Aula 6: Como dar a volta no quarteirão: parar a avenida não é o único jeito de acessar a rua que você precisava entrar

O curso é gratuito e as matrículas estão abertas.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Primeiro dia de aula

Não importa se fazemos isso há um, dois, dez ou quinze anos. 

Não importa se a aula está preparada, se há atividades o suficiente para seis horas de aula. 

Não importa se nós já trabalhamos com o livro seis, sete vezes antes. 

A sala dos professores em polvorosa, gente para lá e para cá com cartolina, papéis, tesouras, bolas, balões e caixas e mais caixas... A consulta ao relógio de parede a cada trinta segundos e aquela ansiedade no fundo do estômago... Aquela olhada no diário para conhecer os nomes dos alunos que vamos acompanhar pelo próximo ano e os segundos vagarosos e audíveis antes do horário da aula.

A última respirada antes de sair do quartel general. A sala dos professores é a última trincheira. Não há mais volta. 

Já estamos prontos para nos apaixonarmos pela próxima turma.

Que comece o ano letivo!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

And the winner is...

E Maomé escolheu a mesma montanha. 

Maomé escolhe a mesma montanha há cinco meses. A montanha era de outro profeta, mas Maomé não sabia. Aí a montanha mandou o outro profeta embora, mas não veio a Maomé. Maomé podia andar pela planície ou escolher outra montanha. Sim, podia. Mas aquela montanha era diferente. Maomé pirou. E sentou e esperou. Mas, como um profeta que se preze, Maomé cansou de esperar, pegou o carro e foi até a montanha. Estava Maomé já disposto a ir embora para caminhar numa planície. Ele então pegou seu cajado e seus parcos pertences. E a montanha vacilou. No vacilo, Maomé olhou para trás e não conseguiu ir embora. De novo.

http://fineartamerica.com/featured/pink-mended-broken-heart-carol-suzanne-niebuhr.html

Agora D. tem nome. E não é mais um não-namorado.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Apaixonada

Ele a viu assim que chegou ao restaurante. Chamou sua atenção imediatamente.

Uma mulher, sentada à mesa do canto, aguardava. Ela tinha um sorriso suave e bebericava uma taça do que parecia ser água com gás. Devia estar apaixonada, pensou.

Ele passou os olhos pelo menu e fez o seu pedido. Pensou que, se fosse o homem daquela mulher tão atraente, não a deixaria esperando. Jamais.

Para a sua surpresa, o garçom que atendia a mesa da mulher chegou com o pedido dela. Ela sorriu, agradeceu-lhe e começou a comer. Entre uma garfada e outra ela ocasionalmente sorria seu sorriso suave. Para dentro.