sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre a inteligência humana

Pensei em mil coisas para escrever. Escrevi e apaguei mil coisas. Mas, no final, é isso: minha tolerância à estupidez - que já não era grande coisa - está diminuindo com os anos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Que feminismo é esse?

Que feminismo é esse que obriga que nós façamos carreira e estejamos no topo do mundo aos 30 anos?

E depois tem a história da inseminação artificial para dar conta de um descompasso biológico que se instituiu porque não existe "dar um tempo" no início de carreira (que vai até os 30 anos).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Onde foi que deixei meus neurônios?

Já tem algum tempo que me pergunto isso. Afinal, esse tal de mercado me fez passar por um indolor processo de emburrecimento. Indolor porque é lento e quase imperceptível. Tal como em Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago (o livro, não o filme - que fique claro). As coisas simplesmente vão acontecendo e nós, cegos, vamos aceitando. Quando paramos para refletir é que percebemos as atrocidades que causamos a nós mesmos. É quando olhamos para o mundo supostamente civilizado que percebemos até onde fomos capazes de suportar.

Uma grande amiga minha (que após sua formatura na USP amargou dois anos de subemprego e se cansou e foi lavar prato num bar podre em Londres) escreveu um texto muito bom. Reproduzo-o aqui, sem a devida autorização, pois está em algum lugar incomunicável na Costa Rica (para onde, após amargar dois anos de subemprego em Londres e se cansar, foi, para procurar outras oportunidades em um outro subemprego que, pelo menos, alivia sua consciência):

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Nós, cavalos?

Como já devo ter contado, os irlandeses compartilham uma paixão com os ingleses: a corrida de cavalos. É bem provável que ela seja até mais importante pros irlandeses. Na verdade, o pessoal aqui das ilhas tem um probleminha com jogo, sabe? Eles apostam em absolutamente tudo, incluindo a cor do chapéu que a rainha estará usando na corrida real (Royal Ascot), em que ela entra de carruagem acenando pros súditos!!! E tô falando sério, nas casas de aposta - que abundam em toda a cidade - era possível pôr dinheiro até nisso. Meus amigos apostadores sabem quem ganha com isso (as casas de aposta, claro!), mas a atração é irresistível.

Voltando à corrida de cavalos, ela é meio que um senso comum entre os irlandeses (pelo menos os que freqüentam a Maggie) e portanto eu sou obrigada a assistí-la quase diariamente por horas a fio. Aparte algumas coisas práticas que aprendi, tipo o que quer dizer 15-2, dicas de como apostar e nomes ridículos pros coitados dos animais, essa mania bretã também me levou a refletir sobre a vida que levamos.


Vejam só: os pobres dos cavalos são treinados por gente especialista por anos e anos, e aquilo que naturalmente lhes daria prazer, que é correr por aí, torna-se sua obrigação e sua sina, a razão de suas vidas. Alguns cínicos alegam que os cavalos gostam naturalmente de correr e que portanto o turfe não representa maus tratos aos animais. O que eu tenho visto me faz tirar conclusões bem diferentes. É necessário empurrar a maioria dos cavalos à força para as baias de largada, chegam a vendar os olhos de alguns e ocasionalmente um se revolta a ponto de não o conseguirem fazer entrar na baia. Porém uma vez que estão dentro daquele espacinho minúsculo e é dada a largada, TODOS eles correm como uns desesperados, como se ultrapassar os demais fosse a única coisa que importasse. Claro que apenas um vence, e então no melhor dos casos ele ganha água, uma coberta chique e alguns segundos na TV, se a corrida for mesmo importante. O jóquei, que também foi treinado por anos e anos e apenas sentou sua bundinha no cavalo vencedor, é quem sobe ao pódio, pega o troféu, dá entrevista e bebe o champanhe, juntamente com o treinador e o dono do cavalo.

E então de repente eu me peguei pensando: cara, que merda! Nós também somos ensinados nossa vida toda a correr para chegar na frente dos nossos colegas, nos ensinam a jogar o jogo como se não houvesse outro caminho possível - e nós acreditamos realmente que não há. Nos treinam por anos e anos a trabalhar longas e monótonas jornadas, e atividades que de outra forma talvez fizéssemos por prazer tornam-se o sentido último da nossa existência e nossa desgraça pessoal. Muitos de nós têm de ser empurrados para as baias à força, mas uma vez estando lá corremos como uns desesperados! Jogamos o jogo, corremos a vida toda sem nem mesmo saber o porquê, só porque assim nos ensinaram, e no fim não somos nós que bebemos o champanhe. Estão lá o jóquei e o treinador na TV, e para nós água.

Meu momento favorito é quando o jóquei cai. Muitas vezes o cavalo continua na fúria competitiva para a qual foi adestrado e chega mais leve em primeiro - o que não vale nada, cavalo sem jóquei não conta, o que já diz muito. Mas às vezes, bem às vezes, ele simplesmente segue num galope libertado, no seu ritmo, escolhendo outro caminho. É aí que eu vibro e quase imagino a sensação de liberdade que ele deve estar sentindo.

Será que um dia, nós... Será?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Feliz Dia dos Professores

A todos nós que escolhemos esta profissão e que ainda acreditamos que o mundo pode ser um lugar melhor. =)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O homem-escritório, de volta

Retificando: o homem-escritório não é feliz.

O homem-escritório simplesmente não sabe o que faz. E muito menos por que o faz.

A ignorância pode ser uma dádiva. Não porque traz felicidade, mas porque faz com que o homem-escritório desconheça a dimensão de sua própria estupidez.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Mulher de 30 Anos

Prestes a entrar para o clube das balzaquianas, fico me perguntando se eu não deveria voltar para a USP, fumar maconha e andar de chinelinho de couro. Aí penso naquela imagem da tiazinha que não aceita sua idade, usa minissaia e fica de barriga de fora, sem perceber que tudo o que os outros estão vendo são os anos acumulados naquelas pelancas... Que se danem os outros, também. Feliz da tiazinha. Olho para o mundo com olhos corporativos e me pergunto se não devia começar tudo de novo. Mas aí me lembro de que eu realmente gostei muito daquilo que estudei e que talvez não seja tão para trás que devo olhar. E me lembro que minha coleção de sapatos aumentou nos últimos anos e que eu gosto dela. Mas também me lembro de que os dias estão passando e mal posso esperar pelo Natal, ou pelo Ano Novo, ou pelo Carnaval. E aí me dou conta de que os sapatos ainda não me levaram a lugar algum.