quinta-feira, 11 de março de 2010

Morrer pela boca

Tem gente que fala demais. Tem gente que fala de menos.

Estou no primeiro grupo. Quem fala demais está sujeito a micos e pisadas de bola muito mais do que as pessoas do segundo grupo. Pisei na bola essa semana com uma amiga. Muita convivência com muitas pessoas, muita coisa na cabeça e falando demais sempre dá nisso. Ontem saí com duas pessoas. Uma delas estava esculachando um prestador de serviço. Adivinha quem estava na mesa do lado?

Essas coisas acontecem. A gente fica se sentindo mal e se arrepende de falar demais. E prometemos para nós mesmos que nunca mais vamos abrir a boca para falar algo desnecessário e que vamos fazer aquele retiro espiritual de 10 dias com voto de silêncio para aprender a domar a língua. Mas aí conhecemos pessoas novas e descobrimos que é só falando, às vezes demais, que as relações ficam interessantes.

Quem fala de menos não faz inimigos, mas também não faz muitos amigos e acaba engolindo um monte de sapos desnecessários.

Um célebre professor da USP perguntou se eu gostaria de publicar um trabalho que fiz para sua matéria no meu segundo ano de graduação. Neste trabalho, eu estava esculachando um crítico do jornal ******, dizendo que seu trabalho sobre o autor ****** era superficial e que não conseguia ir além do óbvio, e que era patente que o crítico não parou para realmente analisar os poemas um a um antes de publicar o seu achismo.

Minha resposta ao professor: - Publicar?! Como assim? Professor, eu sou uma aluna de graduação e estou metendo o pau no ********, do jornal *****.
Ele: - Então. Esse é o mais legal. Você é aluna da graduação e está provando que ******** é medíocre.
Eu: - Não sei não, professor.
Ele: - Existem duas formas de ser alguém no mundo acadêmico. Uma é você escolher um objeto de estudo e estudar como uma demente. Mestrado, doutorado, pós-doutorado, mil publicações, e falar tanto tanto tanto daquilo que seu nome será automaticamente associado ao daquele autor ou obra.... depois de uns 40 ou 50 anos.
Eu: ...
Ele: - A outra forma é mais rápida. Você escolhe alguém e esculacha. Mas não vale falar um pouquinho mal. Esculacha mesmo. Fale muito alto e muito mal, exagerando em tudo. Por exemplo, o último que esculachei foi o *****. Aí a família dele veio para cima, com advogado e tudo, foi aquele auê. Aí vou ter que publicar um pedido de desculpas no jornal onde esculachei o cara. De novo.
Eu: - Como assim "de novo"?
Ele: - Ah, eu vivo publicando pedidos de desculpa. Faz parte. Quando esculacho alguém, me empolgo e às vezes falo o que me dá na telha, falo sem fundamento. Mas aí tudo bem, publico as desculpas. Muitas vezes me desculpo pela metade. Chamei o ***** de idiota, medíocre e putanheiro. Vou me desculpar por ter chamado o cara de putanheiro, pois não tenho como provar que ele pagava as moças, mas continuo dizendo que ele é medíocre.
Eu: - Entendo.
Ele: - Quanto mais as pessoas me odeiam, mais importante eu fico.

Eu entendi o ponto de vista dele. E essa foi uma das primeiras vezes que percebi que a carreira acadêmica não era para mim. Eu não estava disposta nem a me debruçar sobre uma coisa para o resto da vida e nem a arrumar inimigos gratuitamente.

Mas me fez pensar que falar o que se pensa, falar impensadamente, falar simplesmente, tem seus riscos. Sempre.

5 comentários:

  1. Eu que o diga... ;-)
    []'s

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  2. Não concordo quando quem fala de menos não faz amigos. Ponderar as palavras, saber a hora de dizer não significa que a pessoa não faça amizades. Talvez essas pessoas que falem de menos não gostam justamente das pessoas que falam demais, pra não ter problemas os quais você passou. A vida é um aprendizado e não precisa de retiro espiritual para compreender certas coisas. Aprendi a muito custo conter as minhas palavras e claro, não sou perfeita como disse, mas hoje consigo parar um pouco antes e pensar no que vou dizer, porque toda ação tem uma reação. E é no óbvio que devemos parar pra pensar.

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  3. Sendo do segundo grupo penso que não vale falar para o primeiro grupo porque são um bando de surdos Hahuahua

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  4. TAMBÉM ME ENQUADRO NO SEGUNDO GRUPO.
    NÃO ME SINTO NEM UM POUCO MAL POR ISSO, PRINCIPALMENTE PORQUE ME PERMITE OBSERVAR MELHOR "TUDO EM TODOS". CONSIGO PERCEBER FACILMENTE POR EXEMPLO QUANDO PESSOAS DO 1º GRUPO, NA VERDADE SÓ FALAM MUITO POR "REALMENTE NÃO TER NADA A DIZER". SÓ SE SENTEM SEGURAS COM ELAS MESMAS SE ESTIVEREM FALANDO (GRANDE PARTE DAS VEZES, SEMPRE SOBRE ELAS, SEJA CONTANDO VANTAGEM OU POR ACHAR QUE APENAS SUA VIDA É INTERASSANTE), TALVEZ POR MEDO DE PARAR UM POUCO E REPARAR QUE NÃO SERIAM NOTADOS DE OUTRAS FORMAS (COMO POR ATITUDES OU POR TENTAR ESCUTAR) SE NÃO ESTIVESSEM SEMPRE TENTANDO "APARECER",ACREDITANDO QUE TODOS GOSTAM DISSO.
    POR OUTRO LADO, É LÓGICO QUE NÃO POSSO GENERALIZAR, É CLARO QUE EXITEM MUITAS PESSOAS DO 1° GRUPO QUE CONSAGUEM SER AGRADÁVEIS, OUTRAS ATÉ CONSEGUÉM SEMPRE FALAR SOBRE O QUE REALMENTE É RELEVANTE.
    EU ACREDITO QUE A LIÇÃO DISSO TUDO É: APRENDER A FALAR O QUE REALMENTE SE PENSA QUANDO RELMENTE CONVEM, E APRENDER QUE ESCUTAR É TALVEZ MAIS IMPORTANTE DO QUE FALAR (POR ISSO TEMOS DUAS ORELHAS E APENAS UMA BOCA).
    AFINAL COMO BOB MARLEY
    DIZIA:"Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida".

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  5. Falo pouco, mas sei que o que realmente prejudica nisto é que inconscientemente temos sentimentos negativos a quem nos trata com pouca atenção.

    Geralmente quem fala pouco passa a impressão que não se importa com os outros. Quem fala pouco dificilmente é atencioso.

    É um erro, mas é como alguém não nos cumprimenta - deve se algum instinto nos dizendo: Esta pessoa é uma ameaça.

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