sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O tal do desemprego

Desde que me tornei coordenadora de escola e fiquei responsável pelas contratações de professores que tenho uma impressão diferente a respeito do desemprego.

Não sei como é nas outras áreas, mas em escola de idiomas de rede de franquias não está nada fácil contratar. Estatisticamente, de cada 5 entrevistas que marco com candidatos, 4 não vêm (e não avisam, e lá estão eles de novo no processo seletivo do ano que vem). E aquele que vem normalmente não sabe inglês a ponto de poder lecionar. Ou então sabe inglês, mas não tem absolutamente nada de educador na sua veia. E tem aqueles que a gente liga para marcar a entrevista e eles não só querem escolher data e horário para serem entrevistados, mas também querem que você explique como vai para lá de ônibus. Uma coisa é pedir um ponto de referência, outra coisa é pedir para você se virar para ensinar o cara a ir de Pirituba para o Limão.

Como eu mudo muito de emprego (meu recorde é de 2 anos no mesmo lugar) e já ocupei o lugar da pessoa que faz o recrutamento, aprendi algumas coisinhas:

1. Se você não vai chegar na hora e local marcado para a entrevista, ela não vai confiar que você vai chegar na hora quando estiver empregado;
2. Se você não sabe chegar no lugar, você vai se virar para aprender. Pegue o endereço do local, peça um ponto de referência se necessário e se vire! Ou a pessoa que está te entrevistando vai achar (com razão) que vai ter que ser sua babá para sempre. E ninguém quer contratar alguém que vai te dar mais trabalho do que te ajudar.
3. Se você não está minimamente capacitado para a função, tenha "senso de noção" e vá procurar outro tipo de emprego. É absolutamente patético querer ser professor de alguma coisa e não saber aquela coisa. Só no Brasil mesmo!

Pode ser ainda que aquele que não esteja preparado encontre uma pessoa como eu na vida. Em outubro entrevistei uma menina muito legal. Tinha a cara da escola, acreditava nos princípios pedagógicos que regem a escola, era extrovertida, tinha boa postura e tom de voz, além de ser divertida. Mas não falava bem inglês. Juro que fiquei com vontade de dizer "Olha, para ser professora ainda não dá, mas você pode ser minha amiga e se matricular no nosso intermediário 1". Como realmente gostei muito da candidata, o que falei, no entanto, foi: "Olha, você tem todas as características que espero encontrar em uma professora de nossa escola, mas ainda tem que estudar um pouquinho de inglês. Ainda não está legal para poder dar aula aqui. Entre num curso, retome seus estudos e ficarei muito feliz em te ter em nossa equipe daqui a uns 2 ou 3 anos".

Adivinha o que tinha na minha caixa de e-mail ontem? Um CV dela. Igualzinho ao anterior. Aí eu comecei a entender porque as empresas dizem "A gente te liga". Simplesmente não adianta gastar saliva.

Mais uma vez, não sei como está em outros nichos, mas para dar aula de inglês em escola de idiomas tem emprego sim. Só não tem gente capacitada para ocupar estas vagas.

A explicação é simples: a escola de idiomas paga uma miséria e muitas vezes não registra. Tá errado o pobrezinho do candidato? Começo a pensar que errados estamos nós, com diploma USP e certificado de proficiência Cambridge, que nos sujeitamos, por puro amor à arte, a trabalhar para esses safados. (Não estou generalizando. Tem franquia séria sim, mas é que ainda não trabalhei para nenhuma). Penso que, por mais que o emprego seja uma merda, tem que ser profissional. Mas aí sou eu, que sou ingênua e a galera monta em cima. E mesmo assim, chega uma hora que não dá mais. Uma vez, o dono brincou de fazer exibição de poder, dizendo: "Ninguém é insubstituível". E eu respondi: "Nem a escola". Não aguento mais esse aviso prévio. Amanhã é meu último dia. Ufa.

4 comentários:

  1. Concordo 100% com vc Pati... Nda e ninguém é insubstituível é a verdade pura. Por isso que temos que correr atrás pra fazer a diferença (nesse caso correr na frente das outras pessoas :P). Quando vc for coordenadora de novo, me arrume um emprego pq em breve vou ser desempregada.. :P

    Kisu!

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  2. Na área de Engenharia está a mesma coisa. Mil amigos me pedindo indicações ou pra encaminhar currículos porque nos processos seletivos de suas empresas eles não conseguem peneirar ninguém, a qualidade tá muito baixa. Há gente bem preparada, ams que vai trabalhar em outras áreas mais rentáveis.

    Ah, e esse dezembro não acaba nunca!

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  3. Morwen!

    Ops...sou um desconhecido, mas tudo bem!
    É o seguinte: vi sua bostagem sobre aula de inglês, percebi que tem muita experiência na área, como coordenadora. Posso te fazer uma pergunta?
    -Existe alguma prova ou similar que possa funcionar como certificado para dar aula de inglês? Algo que demonstre o nível de capacidade da pessoa para atuar na área competentemente.

    Se puder me responder agradeço. Pode mandar para o meu e-mail: bentomir@yahoo.com.br

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  4. A realidade é que capacidade e trabalho nem sempre andam juntas. Sou um pouco mais velho, quer dizer, mais experiente, e já ví muita "anta enrroladora" ocupar cargos e funções importantes. Se emprego não requer uma qualificação específica, aí a coisa pega. Tenho certeza de que existem profissionais para a sua área, o que não existe são profissionais dispostos a trocar o certo pelo incerto. Aí, o nivelamento fica por baixo. O mercado de trabalho está difícil para quem sabe e para quem não sabe. Você deve correr atrás dos seus ideais sendo pragmática. Deu, deu... não deu, não deu. Vá em frente que atrás vem gente.

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