terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Antes só

A dificuldade em arrumar companhia para sair aumenta exponencialmente com o passar dos anos. Você se dá conta de que todos os seus amigos estão casados, com ou sem filhos, namorando firme ou cansados demais para programas noturnos. (Tudo bem. Até pouco tempo atrás eu compunha esse time também. Não julguemos.) Você chama as pessoas para sair e elas te respondem "que tal um café à tarde?". Nada contra. Adoro café à tarde. Mas, gente, me desculpem. É feriado. Eu tenho 31 anos. Não 70.

Ontem, aos 45 do segundo tempo, duas pessoas resolveram me acompanhar. Eu ia mesmo sem elas. Meu raciocínio é o seguinte: se ninguém quer sair comigo, preciso de novos amigos. Se preciso de novos amigos, preciso conhecê-los. Então, vou para onde eles estão! =) Quem sabe em breve não posto algo sobre o dia em que fui para a balada sozinha?

Enquanto isso, para quem está solteiro e se viu com pouca ou nenhuma companhia para fazer as coisas, existem atividades que são melhor desfrutadas sozinho do que acompanhado:

Caminhadas e corridas
A corrida foi uma coisa que entrou recentemente na minha vida. Apesar de gostar de companhia para disputar provas, treinar sozinha é ótimo! Escolho minha trilha sonora e vou. Eu sou a única responsável pelo ritmo e pela intensidade do meu treino. E aí tenho a medida das conseqüências de minhas escolhas e posso testar meus limites. Não tenho que esperar e nem acelerar para acompanhar ninguém.

Cinema, teatro, shows e afins
Sabe aquele filme iraniano que eu queria ver e ninguém queria ir comigo? Então.

Café e doces
Um bom livro não conta calorias e não te atrapalha se você quiser olhar o movimento da rua.

Fazer compras
Cenário perfeito. Você sozinha e seu cartão de crédito. Ninguém te censurando por gastar X reais em produto Y. E você pode ficar o tempo que quiser, experimentando o que quiser e sem ninguém te buzinando porque está com fome, com sono ou porque o estacionamento vai passar de quatro horas.

Trabalho
Uma pessoa solteira pode trabalhar o quanto quiser e quando quiser. Pode virar madrugadas fazendo um freelance para dar aquela animada na conta bancária, pode trabalhar no fim de semana, pode nem voltar para casa quando rolar aquele projeto maluco com direito a pizza de madrugada. Tá. Morrer de trabalhar nunca foi uma coisa boa. Mas ter essa possibilidade sim.

Livrarias
Você é daqueles que consegue ficar duas horas em uma livraria? Eu sou.

Viagens
Quem nunca viajou sozinho não sabe o que está perdendo. Superar o medo inicial é a chave. Depois que se está dentro do ônibus/avião, já era. O mundo é seu. A sensação de liberdade é indescritível. E, sozinhos, nos permitimos experimentar coisas que não experimentaríamos na presença de conhecidos. Tipo, virar a rainha do merengue no Chile ou desistir de um passeio porque você está com frio, fome e quer se enrolar no cobertor. Ou o contrário. Fazer um passeio mesmo com frio e fome, pois não há ninguém tentando te convencer a não fazer. Ou mudar completamente de rota porque ali pareceu mais legal do que aqui. Além do que, viajando sozinho, você sempre conhece pessoas. E é incrível. Tem muita gente viajando sozinha. Se estivesse acompanhada, talvez eu tivesse perdido a chance de conversar com aquele russo que morria de calor na Patagônia, com a alemã traída e recém-divorciada que abandonou o emprego e foi dar a volta ao mundo, com o quarentão italiano em depressão na crise da meia-idade, com o eslovênio maconheiro e com o alemão de Munique que estuda ursos polares no Alasca. E teria perdido a chance de perceber que o mundo é grande, mas é pequeno. Que as grandes questões do ser humano são as mesmas. E que, no fundo, está todo mundo perdido, independentemente de nacionalidade, credo, classe social ou etnia. E que existe espaço para todos nesse mundo vasto mundo.

Deve ter mais coisa, mas agora vou sair porque o dia está bonito e o feriado ainda não acabou. Vou tomar o meu café à tarde. Talvez em companhia de amigos, talvez não. Meu livro vai. Meu celular vai. Nunca se sabe.

5 comentários:

  1. Bom, eu sou mais cética e acredito que não consigo fazer certas coisas sozinha. Então prefiro ficar em casa mesmo. Mas depois que eu voltei do Japão eu sinto menos vontade de sair, pq tenho que me trocar, tenho que ir buscar o carro, tenho que voltar alguma hora, tenho que gastar dinheiro e tenho que gastar às vezes tempo sendo que eu poderia ficar em casa e ficar na internet ou fazendo outras coisas que gosto de fazer sozinha ahahhaha às vezes, na maioria das vezes nos últimos tempos, tenho sido uma bela senhora de 70 anos rs... Mas entendo vc estar sentindo assim e acho um bom incentivo pra quem está sozinho no momento.

    Kisu!

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  2. Pow, concordo. Tem coisa que é impossível fazer acompanhado. Ou eu estou ficando MAIS anti social, se é que isso é possivel :p

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  3. Uma das minhas melhores terapias é ficar garimpando livros. Não sou um leitor exigente ou entendedor de literatura, mas ficar lá passando os olhos em uma página ou outra, namorar livros, é uma curtição para mim.
    Hoje fui lá na livraria Cultura do Conj. Habitacional, que lugar bacana. Acho que me tornarei frequentador de carteirinha.
    []'s

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  4. Só cuidado para não levar tacada na cabeça.

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  5. De uma forma ou de outra, somos todos eremitas. Ficar só é sentir seu pulso, ouvir teu coração. Ficar só é ter companhia interna com os seus pensamentos e reflexões. Um dia, você eu sairemos sós e nos encontraremos numa curva qualquer. Aí seremos "dois sós" e viveremos felizes para sempre.

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