Ela se despia, com pressa. Tinha poucos minutos para se aprontar. Tantos vestidos e não conseguia se decidir, mas não havia tempo. Decidiria no banho, como sempre. Entrou no chuveiro e jogou xampu na cabeça, que escaneava o guardarroupas mentalmente, enquanto esfregava os cabelos castanhos para fazer espuma. Lembrou-se daquele vestido básico, preto, é claro, com saia na altura dos joelhos. O decote não era tão ousado que a fizesse parecer uma puta e não tão conservador que a fizesse parecer uma freira. Que sapatos usar? 'Salto muito alto vai me machucar os pés. Sei lá se vou ter que ficar muito tempo em pé. Salto baixo não combina com a saia. Vestido preto com sapato preto e bolsa preta? Básico demais. E se colocar um colar grande? Mas aí não posso usar brincos grandes.' Nunca entendeu por que o condicionador deveria ficar dois minutos 'agindo' antes de enxaguar, mas aproveitou os dois minutos para escovar os dentes. Tempo recorde no chuveiro! Pegou a toalha e começou a se secar. Olhou para as axilas. 'Que droga!' De volta ao chuveiro, pensou que desde que F. se fora, ninguém nunca mais tinha lhe dito 'Você está parecendo a monga'. Cretino. E que se dane a pele. Gilete é mais rápido. 'Droga. As pernas. Que se dane. Vou de calça.' E todo o trabalho mental do banho foi pelo ralo, como sempre. Secou o corpo em segundos e enrolou a toalha na cabeça. Pôs uma calcinha-qualquer-uma e sua calça de alfaiataria que ainda tinha uma parcela para vencer no cartão. O bendito cartão. Em menos de 10 minutos sua carona chegaria. Passou aquele produto mágico que vem no potinho preto para definir os cachos enquanto procurava aquela blusa rosa esvoaçante. 'Sutiã, cadê?' Seis minutos para a maquiagem. Viva a base 2 em 1. Sombra rosa, blush rosa, camadas e camadas de rímel para compensar os cílios curtos e ralos. 'Aimeudeusossapato! Será que está frio? Sandália? Sapato fechado? Bota? Não, bota é over demais. Que horas são, caramba.' Correu para a janela e botou a cabeça para fora. 'Está meio frio, mas acho que dá para ficar de sandália. Ai, droga. Aquele é o carro do R.? Já?!'. Correu descalça para o armário, pegou a primeira sandália preta que viu e calçou enquanto o interfone tocava. "Oi, R.! Estou descendo!". Brincos, brincos, brincos? Esse serve. Bolsa vai ter que ser aquela mesma de todo dia. Não dá tempo de trocar. Ainda bem que ela é preta. E neutra. Perfume? Sensual ou casual? Sacanagem fazer o moço esperar. Ninguém gosta de esperar. Ela deu aquela última olhada no espelho. 'O colar! E o relógio!'. Enquanto o elevador não chegava, pegou o relógio e um colar de prata, girou a chave na porta, apagou as luzes e saiu. Lia ansiosamente '12...13...14...' quando se lembrou do casaco, sobre a cadeira da sala. Correu, girou a chave, pegou o casaco no escuro, trancou o apartamento e correu para o elevador, antes que as portas se fechassem. Ela então colocou o relógio, passou o colar em volta do pescoço, piscou algumas vezes para o espelho, treinou alguns sorrisos e recuperou o fôlego antes de sair do prédio.
E, quando R. a viu, ele não reparou nos brincos, no relógio, e nem na etiqueta que estava para o lado de fora da blusa rosa.
E, quando R. a viu, ele não reparou nos brincos, no relógio, e nem na etiqueta que estava para o lado de fora da blusa rosa.
Mas tambem nao a chamou de Monga...ja e um otimo comeco!
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