quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ovelha negra

Quem tem irmãos sabe que toda família tem o certinho e o drogado.

O (A) certinho (a) economizava dinheiro da mesada para comprar os brinquedos que queria, tirava boas notas na escola, nunca levou advertência para casa, chorava quando levava ponto negativo, pedia carona para os pais quando saía (se saía) e sempre voltou no horário combinado. Seguiu a carreira que os pais indicaram, na faculdade que eles sonhavam, casou-se com um (a) menino (a) de família e por aí vai.

O (A) drogado (a) - a.k.a. "ovelha negra" -, mesmo que nunca tenha usado drogas, foi adolescente de manual de psicologia. Ainda que fosse inteligentíssimo, tirava nota para passar (ou nem isso), saía escondido, voltava dias depois, fumava, bebia, às vezes usava drogas também, saía com as pessoas mais esquisitas, pintava/raspava/deixava o cabelo crescer (o que fosse mais contestador em sua época) e só passava em casa para comer (quando se lembrava disso) e deixar a roupa para lavar. Carreira? Nada de convenções. O drogado segue suas convicções, por mais piradas que sejam, sem se importar com o que os outros vão pensar (ainda que seja uma carreira convencional, tá?).

Não importa. O drogado é sempre o drogado. Se ele faz algo de coração, acham que é por interesse. Se ele faz algo errado, já era esperado.

A imagem que os outros têm de nós é construída (ou destruída), mas é muito difícil alterá-la.

Eu sou a drogada da minha família. Quando me casei, foi surpreendente. Quando me casei de branco, foi uma coisa do outro mundo. Mas, quando me separei, ninguém na minha família se espantou. Ainda que eu decida virar freira, não vai passar de "essa é a nova onda da Patricia".

Felizmente não me incomodo mais com o estigma. A enorme vantagem de ser a drogada na vida adulta é que tenho liberdade para fazer o que eu quiser, como quiser e quando quiser, que ninguém vai se espantar ou me julgar. Porque já fui julgada e já fui condenada anos atrás, e a sentença é perpétua.

E tem uma coisa que todo mundo se esquece: os ovelhos negros se viram sozinhos e se viram bem, porque lutaram a vida toda por independência financeira, emocional, ideológica ou o que quer que seja.

Aqui estou eu, me virando. Contrariando todas as expectativas.

4 comentários:

  1. Concordo totalmente. Até porque também sou a ovelha negra da família...rsrs!

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  2. Apesar de não ter irmãos, eu acho que sei como é isso... ('acho' pq não tem como eu ter certeza - hehe)

    Mas não acho que seja um caso de 'Contrariando todas as expectativas' pq os 'vira latas' sempre sobrevivem.. ehehehe

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  3. Pensando por esse lado, ser a ovelha negra não é ruim.

    Bjos e boa semana

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  4. Credo, mas só tem ovelha negra nesses comentários rs...

    Kisu!

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