sexta-feira, 4 de março de 2011

Ajuste de prioridades


Há cerca de seis meses tive um conversa interessante com uma pessoa que mal chega a ser um conhecido. Esta pessoa acompanhava o amigo com quem eu fui almoçar. Mal sabe ela o impacto que teve em minha vida.


Na época, confesso que achei engraçado. Adotei como experimento e o resultado está sendo fantástico.

A frase impactante foi algo do tipo: "Todos os dias eu jogo meia-hora de videogame."

A reação racional foi: "Ah, que folga! Se eu tivesse meia-hora para jogar videogame todos os dias, seria um privilegiado."

E aí aconteceu a mágica. Ele disse: "Bom, depende da sua prioridade. A minha é jogar videogame. Não é fazer freelance, nem hora extra. Se tiver serviço, eu vou fazer com o saco e o tempo que me restar depois de jogar minha meia-hora de videogame."

Normalmente fazemos o caminho inverso. Nos entupimos de trabalho e, se sobrar algum tempo livre (o que é raro), pensamos no que fazer. (Mas somos pouco criativos e acabamos assistindo televisão mesmo).

O mesmo se aplica a finanças. Aprendi a me organizar financeiramente invertendo a ordem das coisas. Assim que recebo, aplico uma parte. E eu que me vire para viver com o resto. Se eu viver o mês e deixar para aplicar o que sobrar, nunca sobra nada (e às vezes ainda termino devendo).

Foi genial ver alguém aplicar o mesmo princípio das minhas finanças, só que em outro campo e de um jeito inusitado. É importante notar que não se trata de um ato extremamente ambicioso. Meia-hora de videogame. Pronto. Pode ser meia-hora de qualquer coisa. Não é nada ambicioso ou ousado demais que não possamos gerenciar. O dia tem 24h, dizem por aí. Trabalhamos umas 10h ou 12h (privilegiados trabalham menos) e passamos 3h nos locomovendo entre trabalho-casa (privilegiados passam menos tempo). A matemática não é difícil. Sendo otimista, 24 - 10 - 3 = 11.

Nestas onze horas vamos colocar o tempo de sono, o banho, refeições, manter a casa arrumada e limpa, cuidar dos animais de estimação, manter uma vida social mínima (conversar com pessoas que moram com você, atualizar redes sociais, etc.) e... freelances e horas extras e preparação para trabalhar no dia seguinte.

Em geral, o que acontece é que, para jogar a meia-hora de videogame tiramos essa meia-hora do sono. E aí ficamos achando que é privilégio o cara jogar todos os dias. Não é. Ele só trocou. Ao invés de tirar do sono, ele tirou do trabalho.

Já faz muito tempo que não tenho qualquer tipo de hobby. (Me desculpe quem acha que assistir televisão, ler um livro ou jogar videogame é hobby. Para mim, isso é passatempo. Hobby, na minha opinião, é algo que envolve criatividade, de alguma forma. É algo que a gente faz ativamente. Daí o nome atividade.) E, ao organizar minha agenda esse ano, pensei que vou ter pelo menos uma atividade que não seja o trabalho. No caso, está sendo o tango (que, aliás, estou adorando). Na quarta-feira, naquele horário, não dou aula, não dou consultoria, não faço tradução, não vendo minha alma.

A grana apertou sim, é claro. Faz diferença. Além de não estar recebendo naquele horário, ainda estou pagando! Mas, hoje, só consigo pensar: "Como foi que consegui viver tanto tempo para o trabalho e somente para o trabalho?"

Estou empolgada. Queria fazer tantos outros cursos! Ourivesaria, cerâmica, canto, academia... Mas aí penso na meia-hora de videogame. Ele consegue a meia-hora justamente porque é meia-hora, e não três ou doze. Uma coisa de cada vez. Vai demorar mais para eu comprar o apartamento, mas vou ter menos cabelos brancos quando a hora chegar.

5 comentários:

  1. Essa idéia tende a crecer ambiciosamente e virar algo lindo e atrevido, viu? Eu acho que é bom :)
    Amei

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  2. Se tem uma coisa pela qual agradeço muito aos meus pais por terem martelado na minha cabeça é "não há trabalho que cobre a sua saúde e sanidade como preço". Bom saber que você também está nesse barco!

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  3. Cara! Vc tá descobrindo que existe vida além da sobrevivência! rsrs
    bjs

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  4. Minha irmã faz algo do tipo. Todo mês o banco desconta do salário dela uma parte e aplica. Ela se vira com o que sobrar... Eu nunca fui adepta disso porque sou meio fanfarrona. Mas vou equilibrar minhas contas e dentro de 3 meses vou por em prática tais princípios, pois quero dar entrada em um ape! Dai te conto os resultados...

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  5. Nossa, me esclareceu muitas coisas esse lance de passatempo e hobby rsss

    Kisu!

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