segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Educando

http://www.mshos.com/blog/welcome-back-to-school-
Acho que todo ano eu posto sobre o assunto, não? Mas não tem jeito. Professor que não sente friozinho na barriga no primeiro dia de aula é porque já engessou. Já robotizou. Já deixou de ser professor.

Hoje comecei no colégio novo. Por enquanto só no extracurricular. A partir de quarta-feira, carga cheia, no ensino regular também. =)

Muitas vezes vejo as pessoas comentando que professor tem vida boa, que "escolhe os dias de trabalho", "trabalha pouco", "reclama de barriga cheia".

Não vou ficar defendendo a classe porque isso cabe ao sindicato. No entanto, existe uma grande diferença - conceitual, eu diria - entre o professor (ou instrutor) e o educador.

Uma pessoa que sobe no tablado, despeja conteúdo na cabeça do aluno e testa se o aluno "captou" (o conteúdo) é um professor? Ué. Pode ser sim. Tive inúmeros desses. 

Aqui, no entanto, vou defender a figura do educador. E, independentemente de área, de série, de tipo de curso, existem professores ou instrutores e existem educadores.

O educador é aquele que não tem vida fácil. Que pode até escolher os dias em que estará presente na escola, mas não os dias de trabalho, pois trabalha todos os dias. Domingos e feriados, inclusive. E não me refiro somente à preparação das atividades. O educador reflete sobre suas práticas todos os dias. Ele aprende todos os dias. E isso dá um trabalho do cão. Ou você acha que sala dos professores só serve para vender bolo e Avon? Uma sala dos professores onde há educadores é um ambiente de troca, de reflexão, de dizer "putz, usei a atividade que você me emprestou e não deu certo no meu grupo. Por que será?". 

O educador pensa no conteúdo sim. É claro. É pago para isso. Mas, além disso, ele pensa também no modo como esse conteúdo vai ser trabalhado e quem é esse aluno que está diante dele e em como esse aluno está inserido no contexto histórico. 

E não é proibido errar. A educação é um eterno laboratório. Revelarei aqui um segredo milenar: quando o professor erra, é o aluno se sente culpado, burro e incapaz. Fórmula de sucesso, não? Fica fácil para o professor usar a desculpa "Eles são desinteressados e não querem nada com nada."

E acho que aí reside uma das principais diferenças entre um educador e um instrutor. O educador chama para si a responsabilidade e se pergunta como fazer para envolver aquele aluno. Por que será que ele está desinteressado? Como será que posso tornar isso aqui tão fascinante para ele como é para mim?

Ser educador dói. É reconhecer em si mesmo a incompetência diante do fracasso escolar do outro. É ter a humildade de se saber um eterno incompleto. Dói mesmo. Mas é também saber que, assim como nos fracassos, você também tem parte nos méritos.

Existem vários tipos de recompensa na educação. A menor delas é o salário, infelizmente. A segunda menor delas é quando você pergunta "O que aprendemos hoje?" e os seus alunos listam o que estava no seu campo "objetivos" do plano de aula. Sinal de que fiz o mínimo. 

Agora quando um aluno de 4 anos te pergunta "tia (primeiro dia de aula, vai. Hoje passa. hahaha), amanhã tem inglês de novo?"... Pô. Ganhei meu dia. =)

Um feliz ano letivo a todos os meus colegas educadores. 


Colegas professores-instrutores-despejadores-de-conteúdo, espero que possam se tornar educadores também. A classe, com sentido duplo mesmo, agradece.


***

Recado para a Madoka: me passa o seu endereço (do blog), por favor? Entrei no seu perfil, mas não aparece link lá.

6 comentários:

  1. Patrícia, nossa porque né, a gente passou anos estudando, e nós como estudantes sabemos como é, e agora estamos do lado do tablado. Concordo contigo e o G.Rosa já ensinou que: ´professor é aquele que de repente aprende.´ Não é fácil, mas quem disse que seria não é mesmo? Mas o que motiva a sair de casa, estar numa sala de aula é o ´olhar´de surpresa dos alunos, eu que nada sei até hoje, acho que é esse o caminho mesmo, do desconhecido, e é esse o lugar de encontro que é a sala de aula. Olha, esse papo é paixão, dá uma tese,rs...
    Ainda não tenho blog,rs... leio vários e alguns blogueiros amigos me incentivam, mas cadê coragem??
    beijos e força aí.
    madoka

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  2. Que bela postagem, vou até salvar no meu computador, uma postagem assim me enche a alma, e me faz aprender mais sobre humildade e sobre o próprio aprendizado.

    Parabens, Patricia.

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  3. meu amor, pega a sua malinha, a sua cuiazinha e venha ser educadora no exterior. Alem de todas as dores e as delicias do que vc ja faz por ai, vc ainda tem de brinde um salario compativel com o seu esforco e competencia.

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  4. Oiiii Patrícia,

    Que bom que você voltou, em contrapartida eu que sumi! To passando rapidinho para dar um oi apenas, pois aqui no serviço ficam de olho no que a gente faz, que site a gente entra. A noite eu volto para dar uma comentada decente!

    Bjãoooo.

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  5. Paty, eu tbm faço as mesmas reflexões e vejo que há uma mudança no perfil dos professores que estão sendo formados. Pelo menos nas universidades públicas.
    Refletir sobre o mundo emque estamos e levar os outros, não apenas alunos, mas todos que nos cercam a fazer esse mesmo exercício não é nada fácil, ainda mais em uma sala de aula, onde a maioria está ali por obrigação.
    Boa sorte e bom ano letivo!

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  6. aAUHAUAHUA tem que ser vc mesmo... reconhecimento é uma coisa absurdamente enriquecedora pra qualquer ser humano, sendo professor ou não, mas acredito que mais valioso pra qualquer professor rs

    Kisu!

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