quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Patrícias

No meu bate-e-volta a Maceió conheci uma Patrícia e reconheci outra.

A primeira Patrícia é mineira, 32 anos, solteira, formada em Artes Dramáticas, trabalhando numa empresa de informática para pagar as contas (já que teatro mata mais de fome do que docência), pensando em fazer outra faculdade. Pedagogia, agora. E viajando sozinha pela primeira vez.

Até quinta-feira da semana passada, eu estava com invejinha das pessoas com a vida arrumada. Sabe aquela amiga que ama o emprego que tem, está em ascensão na carreira, tira várias férias ao ano, posta fotos no Caribe e dois meses depois na estação de esqui, malha, come tudo orgânico, vive bonita numa casa em condomínio fechado e ainda tem a família de comercial de Doriana? (Não me diga que não conhece essas pessoas. É só olhar no Facebook e você vai ver que a maioria dos seus amigos possui vidas perfeitas e só uma pequena parte - a sua, é claro - é cagada).

No meu roteiro original, eu esperava estar com a vida arrumada (o que quer que isso seja) aos 36 anos também.

Mas voltando à Patrícia, quando ela me disse que era a primeira vez viajando sozinha, o que me veio à mente na hora foi: "É muito bom, não é? Você vai ver. Vai viciar. Eu amo viajar sozinha."


Nos conhecemos no ônibus, a caminho de Maragogi. Ela me perguntou se eu estava viajando sozinha e eu disse que estava com amigos. "Cadê eles?", perguntou. Eu respondi "Não faço a menor ideia. Eu queria conhecer Maragogi, eles não." Então ela me perguntou se eu ia fazer o mergulho e eu disse que alugaria equipamento de snorkeling, mas que mergulho eu não faria (já fiz no passado e não me adaptei. Quase morri de dor no ouvido). A resposta dela: "Eu vou. Nunca mergulhei antes".

Além da Patrícia, conheci outras pessoas igualmente independentes, igualmente interessantes e igualmente perdidas, e me dei conta de que o roteiro das pessoas normalmente não é original. Eu sou aquela que queria ter uma família Doriana, mas também sou aquela que ama viajar sozinha e que pode largar os companheiros de viagem para fazer um passeio que eles não querem, sem cara feia ou ressentimento na hora da janta. 

Há muito tempo estou tentando saber o que eu quero. A sensação que tenho é a mesma que eu tive quando me vi adulta e o mundo se abriu diante dos meus olhos e as possibilidades eram tantas que parecia impossível escolher um só roteiro. Agora já se passaram todos esses anos e eu esperava que essa sensação de não ter chão sob os meus pés fosse desaparecendo com o tempo. Não desaparece.

Não sei para onde vou, nem sei o que quero. Não tenho Caribe ainda, mas de onde estou até sair a separação, posso pegar um ônibus e, em algumas horas, chegar neste lugar:





E por enquanto é assim que vai ser. Procurando a beleza dentro das possibilidades que se apresentam. E porque enquanto não sabemos para onde vamos, qualquer caminho é bom.

3 comentários:

  1. De quem são os chãos sob quaisquer pés? De quem são os pés sobre quaisquer chãos? Doriana sempre foi uma merda. No fim, de tudo, na mochila ou na mesa, o que importa é o pão. E ele sempre há de pintar por aí. Belo texto, moça.

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    1. =) Estou saudosa dos nossos papos, Gil. Aviso chegando em Sampa e vamos pro bar!

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