sábado, 31 de julho de 2010

Casamento latino

Um homem de 40 anos solteiro, que nunca se casou. Cafajeste. Não presta. Alguma coisa errada ele tem.

Uma mulher de 40 anos solteira, que nunca se casou. Encrenca. Baranga. Chata. Encalhada. Ficou para titia. Alguma coisa muito errada ela tem.

Converso muito com pessoas não-latinas e isso deve ser algum estigma católico apostólico romano.

Em todos os países latinos existe uma pressão social muito forte para que nos casemos e tenhamos filhos (dois ou mais, de preferência). E isso se reflete nas relações humanas, em geral.

Por que diabos estamos sempre buscando alguém? E por que esse alguém tem que obedecer a certos critérios? E esses critérios são tão diferentes assim de pessoa para pessoa? Será que alguém não pode ficar sozinho por opção? Quanto tempo essa pessoa aguenta a pressão? E se ela se bancar, de verdade? E não estou falando de grana só.

Não estou me excluindo, de maneira alguma, do rol de pessoas que pensam assim. Afinal de contas, faço parte de um grupo social - o que quer que isso queira dizer.

Essa pressão mata. E mata um monte de coisas que poderiam ser legais.

Ter sido casada me dá uma liberdade incomparável àquela que tinha quando solteira, pois uma mulher divorciada não é uma mulher solteira. Me livrei da pressão familiar e interna. Cumpri meu papel de mulher na sociedade (exceto pelos filhos). Mas a experiência traz consigo uma série de cicatrizes (algumas de batalha mesmo, em certos casos!) e elas passam a fazer parte de quem somos. Não dá para simplesmente varrer tudo para baixo do tapete e fingir que somos adolescentes de novo.

Eu não tenho absolutamente nada contra o casamento (leia-se "relacionamento sério" também). Pelo contrário. Acho louvável. Admiro (e invejo) casais que ficam juntos por longuíssimos períodos, passam por crises, se superam juntos, se reinventam, se redescobrem...

Tem que ser confortável, intenso, com diálogo, troca, aprendizado, carinho, tesão. Tem que ser divertido também. Que vá do céu ao inferno, mas que volte. Com liberdade para oferecer, receber ou até para ignorar. Que faça valer a pena. Que se saiba o que é ou como é sem precisar dar nomes ou definições. "Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure." Coisa de escorpiano, mind you...

O que eu dizia quando contratava pessoas para trabalhar comigo vale aqui também: quero alguém para ajudar na equipe, que traga contribuições e ajude o coletivo a se desenvolver. Se for para me dar trabalho, para que vou contratar? Aí é melhor trabalhar sozinha.

3 comentários:

  1. Esse foi um dos melhores textos que já li sobre o assunto. Simples, claro, objetivo, e ao mesmo tempo denso e colorido. Legal!

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  2. Obrigado! Vc é quase uma fã. ;)

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  3. Oi Paty, lidar com essas pressões é uma constante pra mim. Mas eu sei bem o que quero e o que não quero pra minha vida. E uma coisa que tenho bastante definido é o que vc escreveu nas últimas linhas. Já me bastam os problemas que acumulo no cotidiano. Se não for alguém que me ajude a aliviar as tensões e acrescentar algo de positivo, prefiro permanecer solteira.
    Aliás, é quando ficamos solteiros que descobrimos a quantidade de malucos que tem mundo afora. Incrível!

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